Categories
INE Política

Então e em relação ao INE? (actualizado)

Após ter lido este artigo de Vital Moreira, "Partidarização da Administração pública", de que sublinho este excerto:

" (…) Ora, no que respeita aos primeiros (normalmente ocupados em regime de requisição temporária), é perfeitamente lícito e natural que o factor da confiança política entre nos critérios de escolha, desde logo porque se trata de cargos de que depende a boa execução das políticas governamentais (desde o presidente de um instituto público a um director regional). Isto vale para todos os governos e para todas as instâncias de poder. O que importa é delimitar cuidadosamente as duas esferas e impedir a partidarização dos serviços administrativos. Mas a condenação demagógica da liberdade de escolha dos cargos directivos não ajuda a salvaguardar a isenção partidária da Administração propriamente dita.(…)"

Deixo uma pergunta directa a Vital Moreira sobre um caso que me toca mais de perto. O caso muito concreto do Instituto Nacional de Estatística.

Esta instituição em particular merece-lhe algum reparo específico no que toca à comparação com os restantes Instituto Públicos (IP) em que é lícito e natural  que o factor da confiança política entre nos critérios de escolha?

Recordo de forma menos abstracta que o INE rege-se de facto pela mesma legislação recentemente aprovada para todos os IP e, não estando em causa qualquer crítica velada de partidarização da dita instituição, recordo também que as duas últimas mudanças de governo coincidiram com o interrupção dos mandatos de duas direcções do dito Instituto.

No fundo, o que pergunto para este caso concreto é saber que limites devem existir para a relevância da confiança política de cada governo em relação à direcção o INE que encontra. Ou seja, qual o limite das esferas neste caso? O critério geral implícito para os restantes IP deve-se aplicar sem grandes dramas?

Desde já lhe agradeço a atenção que possa prestar sobre este tema.

(Seguiu por e-mail). 

ADENDA: Na volta do correio recebi a resposta que Vital Moreira teve a gentileza de enviar e que aqui reproduzo:

"No meu post falei do tema em geral, havendo porém casos especiais.

No que respeita aos institutos públicos comuns, a lei distingue dois tipos para efeitos da estabilidade dos seus dirigentes: (i) aqueles em que os dirigentes cessam automaticamente os seus mandatos com a substituição do Governo, no pressuposto da sua relação de confiança política; (ii) aqueles em que, por terem natureza essencialmente técnica, isso não sucede, podendo porém ser exonerados a todo o tempo.

Penso que o INE, pela sua natureza essencialmente técnica e pela credibilidade pública que as suas funções estatísticas deve possuir, deve pertencer ao segundo tipo. Melhor ainda, o INE deveria integrar à categoria de “entidades administrativas independentes”, para garantir a sua desgovernamentalização. É para isso que a Constituição prevê essa figura, diferente dos institutos públicos comuns.

Com os melhores cumprimentos

Vital Moreira"

Categories
INE

Novo Portal do INE

O INE apresenta hoje o seu novo portal.
Muito sinteticamente acho que é bem melhor que a versão anterior.
De forma igualmente sintética parece-me que há opções estratégicas no mínimo polémicas que me parece dificultarem a navegação pelos dados estatísticos. A sugestão que faço desde já é que se privilegie a pesquisa avançada em detrimento da navegação directa na base de dados –  "Dados estatísticos" – cujos filtros tipicamente filtram muito pouco pois oferecem amiúde dezenas de páginas de resultados possíveis.
De qualquer forma estou certo que o INE estará interessado em obter o feedback dos utilizadores. Notem bem que o Portal deixa de requerer registo e o acesso é inteiramente gratuito.

INE -Novo Portal
 
Categories
INE Política

Tal qual a floribella…

No passado dia 23 de Maio a presidente do INE afirmou em cerimónia pública (comemoração do 72 aniversário do INE) que a nova lei orgânica era muito boa segundo os entendidos (julgo estar a ser fiel à expressão exacta da senhora presidente). Hoje leio nos recortes de imprensa que um dos seus dois vogais da direcção (aparentemente em larga sintonia com o que aqui escrevi, provavelmente em simultâneo com as suas declarações publicas) afirmou publicamente que:

"O Instituto Nacional de Estatística não deve ser tutelado directamente pelo Governo da República. A ideia é defendida pelo vogal da administração do instituto, PEDRO DIAS, que avança que "o ideal seria um modelo aproximado do que está a ser posto em prática no Reino Unido", em que o sistema de estatística é tutelado pelo Parlamento, medida que visa, entre outras coisas,"restaurar a confiança do público nas estatísticas oficiais"  
 
"É a história da mulher de César: não só tem de ser séria, como também tem que parecê-lo.
Não é correcto que os mandatos dos membros do conselho directivo do INE coincidam com os do Governo. E algo inaceitável, que advém do facto do INE ter sido apanhado por uma lei que foi criada para todos os institutos", critica."

in Diário Insular, 1 de Junho de 2007

Posto isto, estou confuso tal qual a Floribela… 

Em anexo fica cópia do artigo integral para memória futura.

Categories
INE Política

Os estatutos do Instituto Nacional de Estatística e a credibilidade

O mote:

A prosa:

Segundo a lei orgânica recentemente aprovada, objectivamente, o INE é exactamente igual a todos os restantes Institutos Públicos, o que sendo aparentemente muito democrático vai contra todas as indicações de boas práticas internacionais nesta área. 

Porquê?

Um instituto de estatísticas oficiais que tem a sua autonomia limitada ao pilar técnico como se reforçou com a actual lei (não possui autonomia financeira e tem a sua autonomia administrativa limitada pela lei geral) e que adicionalmente pode ver a sua direcção eleita e destituída directa e exclusivamente pelo governo de cada momento, não tendo de respeitar nenhum procedimento adicional de fiscalização, parece-me estar numa posição de risco elevado quanto à independência política (e concomitantemente quanto à qualidade) das estatísticas oficiais.

Recordo que no passado recente do INE, com dois governos distintos (coligação PSD/CDS e agora PS), as duas últimas direcções do INE não cumpriram com os respectivos mandatos de 3 anos. Com esta lei essa prática poderá manter-se e instituir-se sem constrangimento se assim for entendido pelo governo do momento.

Esperar que a alguma (pouca) atenção mediática sirva de dissuasor parece-me lirismo puro. Infelizmente, há que reconhece-lo, o INE não tem junto dos media (fruto da ignorância destes e de algum laxismo histórico do INE) o impacto de um Banco de Portugal. Imagine-se o que se diria se nos últimos 5 anos tivéssemos tido dois governadores do Banco de Portugal que não terminaram os seus mandatos, coincidindo com novos Governos a tomada de posse de um novo Governador.

Na oposição, daqui a uns anos, provavelmente o PS mudará de discurso e "provará do seu remédio" ; o que me espanta, nesta conjuntura, é que ninguém parece minimamente atento ou preocupado com aquilo que me parece ser um oportunidade mal aproveitada para dotar o país de um enquadramento legal que permita desenvolver um sistema de estatística maduro e emancipado.

Não me parece confortável para quem lá (cá) trabalha, nem recomendável para o país fazer recair exclusivamente sobre o sentido de Estado e de responsabilidade dos técnicos do INE (a estipulada independência técnica) a responsabilidade de reagirem, se necessário, a eventuais pressões políticas que venham a ocorrer.

Com esta lei orgânica e conhecendo a natureza humana e as tradicionais tentações do poder político seria de todo recomendável definir garantias adicionais nesta matéria. Mais que não fosse um processo de nomeação da direcção feito de forma colegial, reunindo um largo consenso político e, acima de tudo com projecção pública ficando bem claras as responsabilidades das direcções quanto à garantia da independência política. Algo que ao poucos, nomeadamente com as sucessivas interrupções de mandato vai perdendo o devido relevo. Nunca deveríamos manter como aceitável para o futuro uma nomeação exclusivamente governativa. Provavelmente também seria recomendável passarmos a ter mandatos não de 3 anos, mas com duração superior a uma legislatura o que forçaria os "partidos da alternância" a pensarem duas vezes quanto aos compromissos que deveriam assumir nesta matéria.

Perante o que foi agora definido na lei, parece-me inteiramente legítimo duvidar das intenções do poder político quanto à defesa da independência política do Instituto Nacional de Estatística no futuro. Se pensarmos que os consultores que o INE contratou há poucos anos, grandes especialistas internacionais na área, chegavam a brincar com o facto de o ministro da tutela lá no seu país ter pruridos em estreitar a sua relação com o presidente do INE local além de um aperto de mão na cerimónia da tomada de posse e olharmos para o poder do governo português e a falta de garantias/mecanismos de controlo que hoje existem, estamos conversados.

A velha parábola da mulher de César aplica-se ao INE como não se aplica a mais nenhum Instituto Público e isso deveria ter merecido um tratamento diferenciado na lei. A opção foi a oposta, infelizmente.

Recordo o que aqui se reproduzido em 16 de Novembro de 2006 e que transmite na perfeição o risco em que incorremos:

“ (…) Os organismos de estatística são uma espécie particular, diferentes a todos os títulos de todos os outros organismos governamentais ou institutos públicos. Não regulam, não inibem, não controlam e, definitivamente, não são executores de políticas governamentais. A sua eficiência é medida por duas virtudes:

• A capacidade com que detectam quais são os problemas – sociais, económicos ou ambientais – que prendem a atenção da classe política e do público em geral, não de uma forma temporária, mas permanente, e

• A inteligência com que fornecem informação resumida com a frequência e pormenor necessários, para que o governo, em particular, mas também que as empresas e o público em geral tenham uma melhor percepção do que está a acontecer à sua volta e façam melhores opções quando estas se apresentam. (…)”

(…) Por outro lado, é quase auto-evidente que a informação fornecida pelos organismos de estatística deve ser competente. Menos óbvio é o facto de ter de ser credível – como poucos utilizadores podem verificar directamente a precisão ou objectividade da informação estatística, a credibilidade necessária da informação estatística deve assentar na reputação de quem a fornece. (…).

Estamos preparados para sustentar que não é conveniente que um organismo de estatística seja agrupado com outros organismos oficiais para a definição do estatuto
a que estão sujeitos no sistema da administração pública de um país. Nenhum outro organismo tem de se esforçar tanto para se manter demarcado do Governo e dos partidos, de qualquer sinal de que o que é medido e fornecido foi afectado por considerações que não sejam as da imparcialidade na escolha dos objectos e da objectividade na forma de os medir. Chamamos a essa demarcação “independência” e estamos preparados para insistir que, na ausência de uma independência verdadeira e demonstrável, a informação, por muito bem tecnicamente fundamentada que seja, não passará o teste da credibilidade.
(…)"

in Uma Avaliação do Sistema Estatístico Português –  Pontos fortes, pontos fracos e aspectos que requerem atenção imediata, Ivan P. Fellegi e Jacob Ryten respectivamente Presidente do INE do Canada  e Ex- Vice-Presidente do INE do Canada – Otava, Setembro de 2004.

Categories
INE Video

Barco Negro

Amália Rodrigues canta David Mourão Ferreira numa da mais comoventes e impressionantes interpretações que alguma vez ouvi.

Categories
Economia INE

O Público errou… outra vez.

Desta feita trata-se de uma calinada grosseira que faz título. Confunde-se o número de agregados familiares com a população: "Metade dos portugueses não têm rendimento suficiente para pagar imposto" … Naturalmente o que se passa é que nos pouco mais de 3,5 milhões de agregados que há no país, tanto "pesa" um agregado composto por um idoso viúvo quanto uma famílias composta por um casal com dois filhos. Ora se tivermos 10 agregados dos quais 6 forem compostos por idosos a viver sozinhos, com baixas pensões, e 4 forem compostos por, digamos, um casal com dois filhos, teremos 60% dos agregados que não pagam IRS mas também teremos que, em termos populacionais, representam apenas cerca de 27% do total.

O que se passa com o título referido é que é contrariado por uma realidade parecida com a do exemplo prático aqui dado logo, a menos que algo me esteja a escapar (e que não é referido na notícia), temos mais um disparate. (Mais detalhes aqui).

O INE tem informação estatística disponível para consulta sobre a estrutura populacional portuguesa, é só pesquisar um bocadinho… 

Categories
Economia INE Política

O primeiro grande número da governação de José Sócrates

Défice 2006A valor hoje apurado para 2006 (-3,9%) corresponde a uma perspectiva muito positiva e absolutamente inesperada, na sua dimensão, quanto à evolução do controlo do défice público aproximando-se o valor do estabelecido como meta para 2007. Na realidade, perante as tradicionais tangentes ou ultrapassagens aos objectivos planificados e predefinidos, é significativo que esta primeira estimativa fique tão distante pela positiva do valor com o qual o governo português se havia comprometido: 4,6%. Um muito bom momento (relativo a factos concretos) para o governo de José Sócrates. Esperemos que da próxima vez e para memória futura de futuros governos, haja mais contenção, serenidade e sentido de Estado nos dias que antecedem a divulgação pública da informação.

Ao nível da dívida pública (suponho que por via do aumento das responsabilidades do serviço da dívida em ano de incremento internacional das taxas de juro), o cenário não é animador, contudo, se a estimativa agora divulgadapara o défice se confirmar e se servir de referência para o esforço de contenção que ainda falta realizar, o mínimo que se pode dizer é que estamos no bom caminho. Haja inteligência, serenidade e coragem para se perceberem as dificuldades, as armadilhas e os erros grosseiros que estão sempre à espreita no horizonte. 

Categories
Economia INE Política

Primeiro Ministro "informa" que o défice é menos de tantos por cento.

"José Sócrates assegurou hoje que o défice relativo a 2006 ficará abaixo das previsões de 4,6 por cento do Governo, mas recusou que a folga orçamental possa servir para baixar já os impostos. (…) Segundo o semanário “Expresso”, o Governo tem já dados disponíveis que lhe permitem acreditar que o défice de 2006 ficará nos 4,1 por cento, 0,5 por cento abaixo das previsões do Executivo. (…)"

In Público.

Recordo que o défice a partir deste ano é apurado pelo INE (recorrendo à informação de base enviada pelos vários agentes do Estado) e que o trabalho ainda está em curso.

Incontinências verbais destas quando o INE (dotado de independência técnica e administrativa – mas não financeira) ainda está a trabalhar no assunto são, no mínimo, infelizes.

O INE divulgará a primeira estimativa do défice de 2006 nos próximos dias (até ao final deste mês).

Categories
Economia INE Política

Número de filhos: uma proxy para o bem estar social?

A ler "Menos testes do pezinho" indiciam descida dos nascimentos" de Bárbara Simões no Público (ligação indisponível). Excerto:

"O Instituto de Genética Médica recebeu, no ano passado, menos 3580 "testes dos pezinhos" do que em 2005. Como o rastreio cobre 99,3 por cento dos recém-nascidos em Portugal, o presidente da Comissão Nacional do Diagnóstico Precoce, Rui Vaz Osório, só vê uma explicação para esta quebra no número de amostras de sangue a analisar para despistar doenças graves: "Nasceram muito menos crianças".  (…)"

Por experiência própria sei que este indicador tem resultados excelentes na antecipação do número efectivo de nascimentos em Portugal. A natalidade terá registado em 2006 uma das mais fortes quebras dos últimos 20 anos. Aliás, não é surpresa nenhuma verificar que os nascimentos também andam ao sabor das crises e expansões económicas.

O assunto deveria merecer mais atenção política… Uma reflexãozita e um estudo comparado com os nossos vizinhos europeus poderiam ajudar a perceber algumas diferenças que atribuimos de forma sobrevalorizada a outros factores.

Assim não à sustentabilidade nem produto que aguentem. Melhorar as condições de vida reduzir obstáculos e incrementar alguma discriminação positiva devem ser questões na ordem do dia, convivendo com OTAs, OPAs e derivas securitárias.

Categories
Economia INE

Ciclo de Workshops para Jornalistas – INE, 13 de Março, As Contas Nacionais Trimestrais

Fazendo pedagogia no uso e (abuso) da informação estatística (II/II)

Já aqui esteve em destaque em tempos, hoje retomo a dica. O INE encontra-se a realizar o ciclo de workshops para  jornalistas. Amanhã, um assunto muito cá de casa: pelas 10 horas iniciar-se-á o workshop relativo às Contas Nacionais Trimestrais. Nos meses seguintes, ao ritmo de um por mês, teremos o Comércio Internacional e Intrastat, o Índice de Preços no Consumidor e a Síntese Económica de Conjuntura e Indicadores de Curto Prazo.

O programa completo e instruções para a inscrição podem ser consultados aqui.