" (…) Nós, os que gostamos de ter os nossos heróis bem esquecidos pelo Mundo, temos de suportar demasiada unanimidade, homenagem e bajulação a um homem que merecia fechar os olhos em tranquilidade. (…)
Logo à segunda faixa do mais recente disco relembramos, todavia, a personalidade do real proprietário: “God’s Gonna Cut You Down” (em português de Portugal: “O Senhor vai limpar-te o sebo”). Já faziam falta aos topes fonográficos dois minutos e trinta e oito segundos de castigo divino. (…)
Esta é a flagrante tragédia da música popular do nosso tempo: nem a vitalidade para ser música do Demónio possui. No tempo de Johnny Cash a distância entre a Igreja e o Inferno era de um Mi para um Fá. Hoje um astro do Rock para ter sexo e drogas tem de advogar os direitos das criancinhas esfomeadas do Terceiro Mundo. O quotidiano das freiras católicas de Calcutá é mais perverso.
Por ter sempre ligado a sua música à sepultura a carreira de Johnny Cash foi de uma rara vitalidade. Uma espécie de recompensa para quem se comprometeu alegremente em viver enlutado. (…)"
Por Tiago Cavaco na Voz do Deserto (Ele que me perdoe tamanho cut and paste)