Month: January 2012
O mulato da palavra
Há nesta terra fidalguia madura,
donos da língua, patronos do antigo.
Confundem mundividência pura
com um inaceitável castigo.
Julgam-se mordomos da história,
mas o que amam é ditadura,
ignoram a antiga obra,
que lhes prova a alma impura.
Que foi fraca a nossa embaixada,
que nos coloniza o estrangeiro,
gente pobre e ensimesmada,
nunca chamará bunda ao traseiro.
Agarram-se à imagem do seu passado,
defendem uma moral indistinta,
recuperam um dicionário calado
ignorando crimes sem tinta.
Zurzem no esforçado linguista,
criminoso ouvinte fora da quinta
douto e interessado copista
que converteu o verbo dito em tinta.
Para eles a língua sempre velha,
para nós algo que se renova,
para eles não é propriedade alheia,
para nós a fala é a prova.
Fieis de um estúpido princípio,
abominam a natural transformação,
ignoram a riqueza desde o início,
desta coletiva construção.
Língua minha pátria mui amada,
dou-te para aumentar a tua lavra,
deixando-me da conversa fiada,
dos que abominam o mulato da palavra.
Nota: Atrevi-me a este ridículo de poesia como desgarrada de resposta ao vizinho Fernando que me sabe no role dos “Arjumentos!“
Também publicado aqui: “Ratings na Europa: “We are about to attempt a crash landing” “.
Notas breves sobre a descida generalizada de ratings na zona euro e uma música com história:
- Como se comentava há pouco no twitter (http://bit.ly/zVh2R7) “Como a UE não se federaliza, a S&P federalizou a análise” e relevou o estado geral da zona euro como mais importante do que as condições particulares dos vários países afetados.
- Mas será que os ratings ainda fazem mossa? A partir do momento- nesta tarde – em que começou a correr o boato de que iriam acontecer, interromperam-se as escaladas nas bolsas de valores, o euro desvalorizou rapidamente para mínimos de vários meses, os juros da dívidas soberana dispararam na periferia e entre os países expectavelmente afetados pela descida do rating. Como se fossem surpresa…
- As reacções dos vários Estado, aqui bem representadas pela reação do Mínistério das Finanças português (ver “Governo português lamenta decisão da S&P“), dão bom testemunho do carater paradoxal desta situação e das justificações para as descidas de rating, mas recordam também como passámos já à fase histórica no sentido em que tudo isto parece já uma história contada repetidas vezes sem que haja escriba capaz de alterar o guião.
- O que se segue Europa? Mais moralismo, mais tacanhez, mais negação? Continuarão as reuniões políticas a ser conversas entre condóminos incapazes de perceber que por muito diferente que seja a vista que cada um consegue disfrutar dos seus diferentes andar de residência o destino de todos está condicionado pela qualidade dos alicerces que não souberam fundamentar nem , agora, escorar?
- As histórias fantásticas de Laurie Anderson parecem menos surreais e mais cristalinas. Vale a pena ouvir: