A propósito do artigo de João Duque no Semanário Económico, inspirado pela Agenda do Professor, a Isabela fez o seguinte comentário a que aqui dou destaque e ao qual junto a minha resposta (em anexo).

“Talvez fosse interessante investigar, junto da ADSE, por exemplo, quais são os funcionários públicos que mais usam a baixa psiquiátrica, que mais consomem antidepressivos, ansiolíticos e sedativos hipnóticos (vulgo, comprimidos para dormir).
E talvez fosse importante investigar porquê?
E se calhar teríamos todos uma grande surpresa ao descobrir o que os nossos ricos meninos são e fazem na escola.
E talvez fosse conveniente informar o público que, por maior que seja a vocação, um professor de 42 anos de idade e 20 de serviço já não tem, nem física nem psicologicamente, capacidade de suportar, sem atingir o rápido esgotamento, 8 horas diárias e lectivas de aulas a turmas com 28 anjos deste tempo. Não tem voz nem pernas nem espírito. Perdeu-os ao longo do que foi dando.
E talvez conviesse saber que dar aulas não é o mesmo que estar sentado na secretária a fazer contas difíceis.
Talvez fosse interessante perceber por que motivo um professor de 42 anos de idade e 20 de carreira, que por vocação e espírito de missão deu o melhor de si às pessoas que formou, que passou por todas as reformas e programas que lhe impingiram, de 4 em 4 anos, afirma que o ensino é, hoje, uma profissão de risco, de desgaste rápido, mal paga e injustamente perseguida. (…)”

Isabela

“O que é mais engraçado Isabela (a propósito do sentado a fazer contas dificeis) é que alguns escassos segundos antes de ler o teu comentário estava a passar os olhos por um comunicado do sindicato (Sitese) onde se divulgavam alguns dados do balanço social do INE de 2004 (Um balanço que a direcção do INE parece ter feito grande esforço em ocultar) no qual se podem ver números assustadores de incremento de baixas médicas seguramente fruto de muitos anos acumulados de frustrações e de tratamentos crescentemente degradantes. As depressões e outras maleitas psicológicas dispararam em flecha no INE (tendo comprovado algumas delas bem de perto).
Felizmente ainda não cheguei ao ponto de querer ganhar na contenda sobre quem tem a pior profissão do mundo, mas reconheço que o que tu não sabes que eu sei e o que eu não sei que tu sabes estão sempre contra nós e nunca por nós.
Diz-me tu de tua justiça que eu fico chocado com essa normalidade insuportável de cujo um dos cúmulos é a agenda do professor, que eu tentarei fazer o mesmo por aqui.
Se o propósito da revelação contida na agenda do professor é manifestamente chocar, o choque tanto pode vir de um julgamento preconceituoso, mais ou menos injusto, quanto pode servir para revoltar perante a normalidade de uma situação inaceitável. De caminho, na procura das causas e nas soluções tenho também uma coisa como certa: por aqui, entre estas centenas de trabalhadores do INE, e por aí entre as dezenas de milhares de colegas teus, há profissionais que não merecem esse nome e que adoram esta normalidade deprimente que tudo lhes justifica, uns por terem desistido outros por nunca o terem sido, eles são um lastro crescente que nos arrasta para o fundo e que não merece tréguas. São também eles que servem de pretexto para a erosão crescente de direitos e de motivação que vão fazendo escola e não fantasmas inventados pelo poder político.

Por outras, feita a acusação há sempre direito à defesa. Podemos contentar-nos em nos recriminarmos uns aos outros ou podemos tentar fazer alguma coisa. Enquanto formos capazes de nos sentir acossados temos sempre essas duas alternativas à mão.”
RMC Branco

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