Lembram-se dos elogios que teci aqui há dias por o INE ter finalmente assumido como desÃgnio medir a pobreza no paÃs (numa perspectiva macro)?
Lembram-se de eu ter deixado aqui meio velado o relato das dificuldades que tive (tivemos) em conseguir que os estudos feitos internamente sobre o assunto evoluÃssem de projectos e reflexões pessoais para algo sustentado e apresentado publicamente com regularidade? Algo sujeito ao escrutÃnio público e fundado nas melhores práticas internacionais (que as há! com metodologias defendidas pelo Eurostat, ONU, the works!).
Pois eu conto ter que sustentar os meus futuros filhos e até tinha ideia de por aqui ficar mais uns tempos porque, apesar de tudo, ainda acho que se faz alguma coisa de boa para o paÃs nesta casa, por isso me calo não sem antes transmitir esta que soube pela própria intranet do Instituto.
A peça é do Diário de NotÃcias da Madeira e reza assim:
Conclusões de um trabalho sobre a pobreza, divulgado por uma aluna estagiária, não são da autoria do instituto
O Instituto Nacional de EstatÃstica (INE) nega que o estudo sobre a pobreza que coloca a Madeira como uma das regiões mais pobres do paÃs seja da sua autoria.
Vários jornais nacionais e a agência Lusa publicaram erradamente que um estudo apresentado no II Congresso Português de Demografia fosse da responsabilidade do INE, mas Manuela Caetano, do secretariado INE, vem esclarecer que o estudo foi feito por uma ex-estagiária que se baseou nos dados do INE para fazer o relatório de estágio curricular, orientado em simultâneo pelo INE e pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, conforme se pode ler no trabalho apresentado, ao qual o DI�RIO teve acesso.
Catarina Silva, autora do estudo intitulado “Análise de Ãndices de pobreza e desigualdade em Portugal através de uma comparação entre os dados do Painel dos Agregados Familiares e os dados do Inquérito aos Orçamentos Familiares (1995-2000)”, serviu-se de dados do INE para tirar conclusões que deixavam o Alentejo, o Algarve e as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores como «as mais pobres do paÃs».
Conforme nos confirma o INE, o estudo de fim de curso no âmbito de um estágio curricular deverá ser publicado até ao final deste ano na revista Estudos Demográficos do Instituto Nacional de EstatÃstica, como aliás é frequente acontecer com estudos feitos por estagiários e investigadores de diferentes instituições.
O Governo Regional, «intrigado» com os resultados divulgados pelo DIÃ?RIO e por uma grande parte dos jornais nacionais, pediu esclarecimentos ao INE, que terá respondido que o trabalho fora feito a «tÃtulo individual». Mas antes o Secretariado Regional da Madeira do PSD enviara à nossa Redacção um comunicado (ver destaque).
No comunicado da Presidência do Governo, Alberto João Jardim acrescenta que «apesar do INE, por vezes, publicar trabalhos de responsabilidade individual, este nem mereceu publicação, por aà se duvidar tecnicamente das suas bases».
O documento enviado à nossa Redacção acrescenta que Catarina Silva «havia já facultado as suas opiniões, no Funchal, em sede identificada», ou seja, na CDU, que convidou a estudante de Economia para uma iniciativa partidária.
«Por coincidência e por motivos evidentes, a notÃcia que indevidamente apontava a autoria do INE foi primeiramente divulgada na Região Autónoma pelo diário do Grupo Blandy e repetida pelos Partidos da Oposição», refere o documento.
Jardim conclui evidenciando que «tudo isto coincide com uma desesperada agressividade, no continente, da habitual comunicação dita “social”».
Acusações do PSD
O Secretariado Regional do PSD-Madeira acusa o INE de, «nesta folclórica “república” portuguesa» voltar «a participar na campanha eleitoral».
«Tal como em 1996 e 2000, de novo com as eleições regionais de 2004 o «Instituto» chamado de “Nacional” e de “EstatÃsticas” â que apelida de «burocrata» â vem “participar” na campanha eleitoral, trabalhando números de forma a esgrimi-los, outra vez, contra o GR», acusa o PSD, que esclarece que os números não coincidem com os que «durante anos a referida repartição vai divulgando e apresentando à UE, bem como são claramente desmentidos pela realidade».
Sónia Gonçalves