Sou um completo ignorante em termos de música clássica. Isto dito permitam-me um relato de um deslumbramento.
Há muitos anos atrás, ainda o milénio não tinha virado, numa das minhas noites em que apenas a luz do mostrador digital da recentemente adquirida aparelhagem iluminava a sala, resolvi improvisar.
Deixei por uns instantes a cassete que um amigo me tinha gravado com Heavy Metal (expressão artística que pouco conhecia, também) e sintonizei a Antena 2. Talvez para ver se os traços de ligação entre música clássica e Heavy Metal eram assim tão evidentes. Somas fáceis, cálculo simples. Ora muda lá de estação.
Fui surpreendido por um pequeno arrebatamento e não sei bem porquê carreguei no botão de gravar.
O apresentador veio mais tarde dizer-me o que estava a ouvir. Um compositor russo que, não renegando à sua escola (que se percebia pressupunha uma música neurótica plena de montanhas e vales abruptos) conseguia dar lições melódicas a muito latino. A cassete desapareceu mas o nome do compositor não o esqueci.
Cria ter esquecido a peça até que há algum tempo, num capricho em plena discoteca dei por mim a descobrir que a memória de longo prazo tinha conservado a chave para recuperar o prazer que tinha tido há muitos anos atrás: “Nas estepes da Ásia Central” de Alexander Borodin. Sete minutos geralmente alinhados como entrada a uma das suas sinfonias. Estou a ouvir um CD da DECCA de 1994 onde a referida peça surge acompanhada pela 1ª e 2ª sinfonia do mesmo autor (maestro Vladimir Ashkenazy com a Royal Philarmonic Orchestra). No encarte escreve-se que o poema sinfónico de Borodin (Nas estepes da Ásia Central) foi encomendado pela ocasião do Jubileu de prata do Czar Alexandre II. Um excerto assinado por Michael Jameson no referido encarte:
“In the silence of the monotonous deserts of Central Asia are heard for the first time the strains of a peaceful Russian song. From the distance we hear the approach of horses and camels, and the melancholy notes of an orinetal melody. A caravan emerges out of the boundless steppe, escorted by Russian soldiers, and continues safely and fearlessly on its long way, protected by the formidable military power of the conquerors. It slowly disappears. the tranquil songs of conquerors and conquered merge in harmony, echoes of which linger on as the caravan vanishes in the distance.”
A música é dedica aos passem por aqui e, em particular àqueles que o fazem já há alguns anos. Eis uma versão encontrado no You Tube: