Hoje voltas a ser o que nunca foste, caro Adufe, uma pequena página de um diário. Abro-te nesta página, envelhecido pela última notícia de uma menina doce.
Veio de um mensageiro destroçado a longínqua novidade. Com ela recuo a um tempo de amores não correspondidos, dos meus e dos teus, menina doce. De um tempo em que longas conversas e passeios nos serviam de consolo. Nunca te dei uma palavra de amor – porque não podia -, mas nunca nos faltou a ternura. É dela que sempre me recordei e recordarei quando pensar em ti.
Beijo grande Sandra.
Month: May 2010
É óbvio que o PS tinha que apoiar Manuel Alegre. Não sei do que é que estava à espera. Da fatalidade, do triste fado.
Não, não é votando em Manuel Alegre que me sentirei mais de esquerda e mais feliz. Lamento. Por várias razões é um mau candidato, muito pior do que foi há 4 anos quando votei em Mário Soares.
Desiludido com a gritante falta de visão do MEP e o seu empedernido conservadorismo nos costumes, definidor de um extremo; revoltado com a forma de fazer política (e com a própria política) do PS e demasiado farto da inevitável traição que o actual PSD pregará a quem acreditar que vem dali algo de genuíno (antes fosse liberalismo, mesmo), terei de ir às compras visando uns odres, mantimentos e cobertores. Faz imenso frio no deserto e nos países mal governados.
Para já, resta apenas o mal menor para me mobilizar no dia D. Muito curto, não me basta, mas que fazer? Talvez empreender.
Esta história do chip na matrícula obrigatório para se cobrarem portagens nas SCUT parece de todo desproporcionada. Tenho Via Verde de forma voluntária e não durmo mal por isso, notem, mas fico inquieto com a ligeireza com que embarcamos ao nível do Estado em projectos controleiros desta magnitude. Sabemos onde isto começa, não sabemos onde acaba, ou se calhar até sabemos.
Desde que alguns amigos consultores me contaram a facilidade e se calhar irresponsabilidade com que dados supostamente ultra-confidenciais estão disponíveis e mal arrumados que temo sempre que o futuro dramático de um big brother e de vários pequenos brothers surjam por aí. Para que é que é preciso saber onde andam TODOS os carros que circulam neste país? E porque é que tal tem de ser obrigatório? Até onde o “quem não deve não teme” justifica a perda sucessiva de graus de liberdade e/ou a agilização de qualquer processo de controlo?
Acho muito bem que se cruzem dados da segurança social com os do fisco, notem, mas sou daqueles que acha que há um limite e que é fundamental estarmos sempre a zelar pela nossa liberdade. Até agora, esta história do chip não me convenceu. Os benefícios parecem-me demasiado insignificantes face aos potenciais malefícios a médio e longo prazo. Inquietação é a palavra de ordem, mais uma vez.
Sobre este assunto e seus derivados:
Quem tem Via Verde vai ter de comprar o novo identificador automóvel obrigatório?
Com um chip na matrícula poderei vir a saber o que você andou a fazer ontem à noite, sempre
A vida de António Colaço não se resume ao cargo de assessor de imprensa do PS no Parlamento (tarefa que vem desempenhando há décadas). Sendo certo que este miliciano de Abril que serve o actual partido de governo no nobre casa é um exemplo que tempera um pouco o gamanço reinante abaixo referido, retenho aqui hoje que este vizinho da blogoesfera que já fez desta a sua casa provisória, termina, por estes dias, na Associação 25 de Abril com uma belíssima exposição, os 30 anos do projecto ânimo. Um projecto que se confunde com o seu mentor e que adivinho virá a ganhar impulso tremendo com a novidade pendente de que o amigo António se prepara para dar por findas as suas funções na nobre casa. Artista plástico sem nome na praça (um epíteto que corre o risco de se tornar frase de guerra) encontrará sempre uma praça que o mereça.
Ontem, tive o prazer de passar pela Associação que recebe este artista Amador para o parabenizar, provar o seu licor de poejo e, para minha surpresa, receber mais um símbolo da sua simpatia para connosco: uma pequena tela de ânimo dourado que estimarei.
Vamos nos vendo por aí e por aqui. Forte abraço.
” (…) O ministro resolveu “encostar os dois dedos indicadores à cabeça, simulando chifres”, como escreveu na altura o Jornal de Notícias, em direcção à bancada do Partido Comunista, numa sessão do plenário. Tal como aconteceu com Ricardo Rodrigues, o ministro Pinho provavelmente esqueceu-se que estava a ser filmado. Objectivamente, o acto de Pinho tem uma gravidade muito menor: embora tenha ocorrido no decorrer do exercício de funções políticas, não envolveu a apropriação indevida de nenhum objecto que não lhe pertencesse. Porque é que à época se retiraram ilações políticas de peso e nesta ocasião nem um pedido de desculpas se conseguiu extrair até hoje de Ricardo Rodrigues? Que tipo de impunidade garante a este deputado o seu silêncio? São as perguntas que ficam por responder.”
Marina Costa Lobo em “Roubar no Parlamento não é apenas um assunto de Justiça”
Como é que se explica isto a uma criança que nos pergunta o que é a democracia, um partido político e o parlamento?
O PS provavelmente ainda há-de ser nosso outra vez, mas não agora, nem para breve. Enquanto for dando e acumulando exemplos destes passamos bem sem ele. Ou será que a prova neste caso também depende de escutas? Já nem São Tomé nos redime.
A não perder o singelo desabafo do meu amigo Mapari em “Mandaram-me cartões de crédito agora dizem que tenho que mudar de vida” no Economia & Finanças. Um excerto:
” (…) É preciso ter lata, uma imensa lata. É isto que penso quando ouço, hoje, um banqueiro cheio das melhores intenções a dizer que temos de mudar de vida. Temos de deixar o crédito, o nosso modo de vida dos últimos anos. Tudo de acordo mas não consigo esquecer-me da sucessão de cartões de crédito NÃO SOLICITADOS que recebi nos últimos anos enviados pelo banco público de que o referido senhor tem sido presidente. Mandaram cartões, ofereceram (oferecem) milhentas hipóteses de não pagar a conta do cartão, quase implorando-me para fraccionar pagamentos, pagando naturalmente módicos juros sempre acima dos dois dígitos.(…)”
Ufa! E o presidente promulgou. Comunicou ao país que tinha uma espinha encravada. Lá disse ao seu eleitorado que teve de ser, que foi obrigado. Coisas da política. Ainda se tentou desculpar com a crise provando o seu imenso sentido de Estado. Bom, poderia de facto atrasar a coisa mais uns dias e prolongar o teatro mais um pouco. Uma gota de água no meio dos anos em que isto já dura, mas, ainda assim, uma vénia ao presidente.
Cada dia que passar sem que ocorra um cataclismo social será um dia a mais para ajudar a perceber que foi mais o ridículo do que o drama aquilo que andámos a discutir. Ainda há pouco ouvi na rádio quem espere uma catástrofe com esta lei, o fim dos tempos, uma bizarria.
Quem por aqui passou sabe que fui dos poucos que tentei o consenso, procurei defender precisamente uma solução que menorizasse o conflito (ainda que o achasse ridículo e um second best). A coragem/tacticismo político de outros resolveram-me a questão e ofereceram aquela que julgo uma solução mais feliz.
Na minha opinião demos um passo importante para dar sustento e coerência ao conjunto de valores ainda mal tratados que vamos tendo na sociedade europeia e lusitana. O respeito mútuo sai valorizado sem que se abram verdadeiramente conflitos genuínos.
Quem está bem reclama de cátedra e não fez genuinamente nada, em devido tempo, para que se abordasse o problema da desigualdade que existia. Geralmente, reagiu, procurou defesa a destempo invocando a necessidade de referendos quando os dados há muito haviam sido lançados e os portugueses intimados à opinião representativa. Até a batalha estar perdida acomodaram-se confiantes de que nada mudaria. Depois foram os mesmo que acusaram sem pingo de vergonha da falta de espírito democrático do outro que recusou o referendo. Felizmente, neste caso, a hipocrisia não vingou e respeitou-se a nossa democracia. Sei que não há um fim da história, mas também pro isso sublinho o que já disse o tempo exporá o ridículo, não sublinhará qualquer tipo de drama.
Outros desafios surgirão, bem mais complexos de abordar e menos lineares de tratar. Ainda assim, de menor prioridade. Nos tempos mais próximos não perdemos nada em concentrar-nos na ética, no combate à corrupção e na incompetência governativa (no Estado, nas empresas). Adiante!
Sou um completo ignorante em termos de música clássica. Isto dito permitam-me um relato de um deslumbramento.
Há muitos anos atrás, ainda o milénio não tinha virado, numa das minhas noites em que apenas a luz do mostrador digital da recentemente adquirida aparelhagem iluminava a sala, resolvi improvisar.
Deixei por uns instantes a cassete que um amigo me tinha gravado com Heavy Metal (expressão artística que pouco conhecia, também) e sintonizei a Antena 2. Talvez para ver se os traços de ligação entre música clássica e Heavy Metal eram assim tão evidentes. Somas fáceis, cálculo simples. Ora muda lá de estação.
Fui surpreendido por um pequeno arrebatamento e não sei bem porquê carreguei no botão de gravar.
O apresentador veio mais tarde dizer-me o que estava a ouvir. Um compositor russo que, não renegando à sua escola (que se percebia pressupunha uma música neurótica plena de montanhas e vales abruptos) conseguia dar lições melódicas a muito latino. A cassete desapareceu mas o nome do compositor não o esqueci.
Cria ter esquecido a peça até que há algum tempo, num capricho em plena discoteca dei por mim a descobrir que a memória de longo prazo tinha conservado a chave para recuperar o prazer que tinha tido há muitos anos atrás: “Nas estepes da Ásia Central” de Alexander Borodin. Sete minutos geralmente alinhados como entrada a uma das suas sinfonias. Estou a ouvir um CD da DECCA de 1994 onde a referida peça surge acompanhada pela 1ª e 2ª sinfonia do mesmo autor (maestro Vladimir Ashkenazy com a Royal Philarmonic Orchestra). No encarte escreve-se que o poema sinfónico de Borodin (Nas estepes da Ásia Central) foi encomendado pela ocasião do Jubileu de prata do Czar Alexandre II. Um excerto assinado por Michael Jameson no referido encarte:
“In the silence of the monotonous deserts of Central Asia are heard for the first time the strains of a peaceful Russian song. From the distance we hear the approach of horses and camels, and the melancholy notes of an orinetal melody. A caravan emerges out of the boundless steppe, escorted by Russian soldiers, and continues safely and fearlessly on its long way, protected by the formidable military power of the conquerors. It slowly disappears. the tranquil songs of conquerors and conquered merge in harmony, echoes of which linger on as the caravan vanishes in the distance.”
A música é dedica aos passem por aqui e, em particular àqueles que o fazem já há alguns anos. Eis uma versão encontrado no You Tube:
Segundo as notícias em poucas semanas, Saldanha Sanches soube da doença e desapareceu. Cumpriu até perto do fim com uma das actividades que comprovadamente melhor fazia: emitir opinião sobre o país e o papel do estado suas políticas fiscais e judiciais em particular. Deixo aqui a minha modesta homenagem a um critico/pensador, com pergaminhos políticos, que nunca juntei à mole de profetas da desgraça que raramente fazem mais do que oferecer um diagnóstico de cátedra. Com frequência o lia e ouvia e percebia um estímulo mobilizador, uma sugestão de caminho, uma reflexão inteligente.
Vai fazer falta. Recordo outra figura que igualmente me gerou particular pesar e que desapareceu há 10 anos: Vitor Cunha Rego. E quem os substitui, quem faz do verbo mais do que palavra?
Ouvindo hoje várias entrevistas do Cardeal patriarca português consegui completar uma síntese que havia perdido há algum tempo. A questão da união entre pessoas do mesmo sexo é uma singularidade para a qual a Igreja não tem compreensão possível, no máximo, a inevitável tolerância. E digo inevitável porque a Igreja de hoje não pratica a barbárie que promoveu no passado. Digo também inevitável porque a incompreensão se fundamenta na lei natural, uma lei que garante à união entre homem e mulher o exclusivo da capacidade para gerarem uma relação de amor completo. As outras opções toleram-se, mas não se compreendem pois estão fundamentalmente erradas.
Já em tempos disse que atribuir o carácter opcional a quem é gay (“só o é porque quer”) é o mesmo que dizer a um canhoto que este é livre de deixar de o ser (“os canhotos só o são porque querem”) e é neste paralelo bem distante do silogismo que todo o castelo lógico da Igreja, nesta matéria, se esboroa. A própria ciência tem vindo progressivamente, e assim que se libertou de alguns entraves e preconceitos morais e religiosos, a estudar e a procurar encontrar as eventuais múltiplas justificações para a existência de comportamentos gay entre inúmeras espécies animais. Do mesmo modo que se procuram explicações para a minoria dos ruivos, dos que têm olhos azuis, dos que são canhotos. Até daqueles aparentemente doentes e deficientes, portadores de uma anemia crónica hereditária que num belo dia, perante o alastramento da malária se revelaram completamente imunes e perfeitamente preparados para enfrentar as circunstâncias. A ciência não é amoral, mas detesta preconceitos. Por muito que (ainda) pareça óbvia a tal lei natural, até esta pode ver os seus fundamentos minados e não dependerá apenas de quão lato for o nosso conceito de natureza (admitindo ou recusando manobras da ciência mais instrumental, com inseminações e quejandos), poderá tão somente bastar um qualquer Galileu, com as lentes no sítio.
Para mim, nem disso preciso, num bom exemplar da bíblia qualquer potencial incompreensão Saramaguiana perante aparentes contradições, é batida aos pontos pelo fundamental da mensagem de Cristo. Não há nenhum asterisco em “Amai-vos uns aos outros”. É ele, o amor, que na dúvida será sempre a nossa salvação e o nosso guia.
Felizmente, há quem tenha compreendido esse capital fundamental que o cristianismo pode oferecer como mais valia face a algumas outras religiões. Não será ainda (e talvez nunca inteiramente) o caso da Igreja Católica Apostólica Romana. Como é Rui? Poderás ser católico ainda assim? Uma pergunta, que bem vistas as coisas, é absolutamente irrelevante.