Um tipo cinzento entrevistava outro tipo cinzento a ver se lhe haveria de dar emprego.

Numa última pergunta, quando tudo havia corrido o mais cinzento possível e não se adivinhava bom porto para as intenções do entrevistado, o entrevistador visivelmente enfadado atirou:

    – Diz aqui [no currículo, na última linha] que gosta de ler. O que é que está a ler neste momento?

    – A História do beijo.

Surpresa! Os olhos brilharam, o entrevistador ajeitou-se melhor na cadeira e retomou a conversa com um "Ai sim, e então?". Nos minutos seguintes, sem que houvesse alteração no timbre monocórdico em que sempre decorrera a entrevista, falou-se cinzentamente do beijo. Contudo… Já não eram exactamente dois tipos cinzentos numa conversa enfadonha. O cinzentismo era agora esforçado em vez de mecânico.

Um dia depois o telefone tocou e o emprego foi oferecido. O sacana do entrevistado pediu mais dinheiro. Não estava escrito…

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