O preâmbulo:
Passo a vida profissional no meio da ditadura dos grandes números: por um lado a macroeconomia, por outro a estatística e os seus princípios basilares que se escudam em universos e amostras, acreditando que o resultado do trabalho nos leva tendencialmente à verdade. Por outras palavras, se bem perguntado, a verdade ser aquilo que os números nos dizem, é mais a regra do que a excepção. Ainda assim, convivemos no mundo da estatística com uma dúvida incontornável: ninguém pode ter a certeza absoluta de que a exepção não é, em determinado caso, a verdade procurada. Tentamos medir os limites da nossa incerteza errando muito menos do que acertando.
O pretexto:
Escreve a dada altura o vizinho Pedro Mexia, "(…) A beleza dura poucos anos. Não há quase nenhuma pessoa que seja bela uma vida inteira. E essa devastação progressiva do tempo sugere o fatal fascínio da beleza: a beleza é fascinante porque dura pouco. A beleza é fascinante porque é angustiante, porque está em contagem decrescente, porque (tal como todos nós) não anda no mundo muito tempo."
O texto do Pedro remete-me para os grandes números, para insignificância da excepção, para todo o peso da realidade apurada por somas e contagens. Todo um instrumental aplicável a qualquer objecto de estudo, mesmo ao primeiros passos de um ensaio sobre a beleza. Mas… Em vez de reter o fatalismo, fico pendurado no "quase", na excepção: "não há quase nenhuma pessoa que seja bela uma vida inteira".
O desafio:
Quem preenche as fileiras que justificam o quase? Serão esses que nos salvam?
Quem é belo a vida inteira?
Esqueçamos num primeiro momento o que é a beleza (o debate formal em torno do conceito que dura há alguns anitos – medidos em anos de Plutão), exemplifiquemos com casos práticos: quem é belo a vida inteira? Até para perceber se o conceito tem como ingrediente com peso avassalador o apelo sexual.
Bom, mais que não seja o vizinho Pedro terá ao menos um nome na manga que lhe justifique o quase. Tenho para mim que não serão assim tão poucos, mas encontra-los entre pessoas reconhecíveis pelo imaginário colectivo talvez não seja trabalhar com uma amostra não enviezada. Talvez nesse universo seja mais difícil encontrar os que nos oferecem o "quase". Será que foi com base nesse universo-estrito que o Pedro apurou o seu corolário (que suponho pretender-se de aplicação geral)?
Termino com um exemplo e uma constação pessoal ainda que repleto de dúvidas.
Os avós, (será por serem aqueles que nunca conhecemos novos?) conseguem por vezes ser belos até ao fim.
P.S.: É curioso como a beleza também anda em discussão de uma outra (?) forma, por aqui (I, II, III e IV).
7 replies on “Belos a vida inteira”
engraçado…isto de vir do frescos, várias janelas abertas ao mesmo tempo, dá nisto: do mexia para aqui. esava a ler o texto, chegado da noite diga-se, sobre a demi moore (ou a propósito) e a pensar, que coisa trivial, que desnecessiidade. e de seguida aqui eco agradado. não vai daqui crítica, nem ao original nem ao adufe – mas coisa tão pouca, mesmo
(noite de sábado, entre tanta coisa falámos, e algo, sobre mulheres e sua beleza. qualquer gravador apoucaria, esmagadoramente, a pequenez do escrito in-link, sem link. peço desculpa, não vai arrogância, só via)
Para ser franco o post tinha uma pretensão: começar uma conversa (e já depois de o ter escrito reparei que o Pedro Mexia pôs para lá um (I) no final do texto). Gostava de usá-lo como pretexto para tomar balanço para outra conversa (e há tantas que podem sair desta), em busca de empurrão, talvez, que isto de escrever por aqui é muito mais árido do que qualquer boa conversa de Sábado à noite, quase sempre.
O jpt pode ser elevar a coisa, que tal? 😉
sim, muito difilmente se pode ter na escrita o que se tem na fala. em particular se sobre a beleza, da feminina o cume. e, ascendendo, quando se fala da beleza diante de mulheres belas
(também por isso tanto o meu enfado com esse vício bloguístico do grã-dissertar sobre a beleza das mulheres dos dvds [antes dizia-se tela, não era?], quando há tanta beleza em nosso redor, suficientes para alimentar as elocubrações)
Ó pá! Eu trocava de corpo com a Lauren Bacall ou com a Sofia Loren right this instant mesmo que elas tenham mais cinquenta anos que eu.
Ah. E se apanhasse o avô Newman…(agora com o comprimido azul, ainda por cima) ou mesmo o Marcello Mastroianni. Espera. Esse já morreu. Não exageremos.
:-)))))
O que é mais engraçado é que também me lembrei de Bacall.