Estavam num cadeirão largo forrado com almofadas creme. Ele sentado, de fato azul, talvez de seda, impecavelmente engomado. Ela quase deitada, com a cabeça aninhada no ombro dele, embrulhada num xaile cor de pérola.

Olhavam a noite da cidade, com a vista que se tem dos telhados. A espaços ele sussurrava e ambos riam com igual discrição. Esperavam pelo acender e apagar das luzes dos vizinhos como antes esperaram os traços de luz a atravessar o firmamento.

Antes, no tempo em que ele não usava fatos e ela ainda não descobrira aquele ombro, quando a cidade não existia, a solidão oferecia-lhes palavras, melodias, sensibilidades. Era generosa. Uma dor boa que transformavam, cada um à sua maneira, em antecipação rosada.

Depois, quando ela finalmente descobriu o seu ombro, houve um tempo em que embruteceram para o mundo, desperdiçando-se por entre essências.

Hoje, neste momento, agora, estão de novo no terraço, encontrando magia nas luzes dos pirilampos da cidade. Ele está a esticar o braço… com cautela para não a acordar.
Apagou a fraca luz de presença. Que disse?…

Boa noite.

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