Por Domingos Amaral no Diário Económico, mais um contributo contra o pensamento único. Reza assim:
" (…) Os povos europeus já perceberam que há alguma coisa errada nesta história. Não se lhes pode exigir flexibilidade quando os colocamos numa camisa-de-forças. Nenhum dos 52 estados federais americanos tem tantas limitações como os governos europeus. Numa Europa onde a maioria dos povos não aceita leis laborais à americana, nem pode mover-se com a facilidade com que os americanos se movem, criar uma macroeconomia tão inflexível foi um erro. Se acordarem a tempo, os políticos europeus ainda podem alterar o rumo dos acontecimentos. Caso contrário, ficarão numa eterna e um pouco patética batalha ideológica, entre “liberais” que querem transformar a Europa na América e “socialistas” que querem manter a “protecção social” a todo o custo, enquanto o continente europeu afocinha na anemia e na desilusão. "
O resto está aqui.
14 replies on “O parágrafo do dia”
Essa dos «52 Estados» fez-me logo ficar indisposto e já não consegui ter com tanta atenção no raciocínio do autor, como se calhar mereceria. Mea culpa….
O homem deve estar a contar com Porto Rico. Ou com o Canadá
50 + DC + Iraque.
50 + Porto Rico + DC, imagino eu.
Oh meus amigos, não se distraiam com o meu áparte….
Ou é ironia ou então DA nem sequer percebe do que fala. Afirma que na prática não existe disciplina orçamental, sendo comuns os deficites excessivos acima dos 3%. E depois diz que a fixação de tais critério «inflexíveis» são a razão da falta de crescimento de convergência.
Na minha modesta opinião, só podemos ter uma coisa ou outra. Ou os critérios são cumpridos e podea sua fixação ser responsabilizados pelos bons ou maus resultados. Ou, se não se verificam, não podem tais critérios ser simultaneamente responsabilizados pelo quer que seja.
Ah, a não ser que DA defenda que a contínua ultrapassagem dos objectivos de défice a 3% foi claramente «insuficente». Deve ser isso.
Mas, «prontos», aí já não será o cidadão contribuinte a falar, preocupado com o aumento das necessidades de impostos sobre o seu rendimento, mas certamente o necessitado de alguma «protecção social».
voltando aos 52 estados federais…quem serão os próximos 2?
Puerto Rico,não, pois já votou contra (a independência ou a junção aos states) em referendo, por duas vezes.
Resta assim Guam, Virgin Islands, American Samoa, Northern Marianas, Micronesia´e Palau.
Não me parece que a lógica do DA seja uma batata, Gabriel.
É verdade que tens como factos o limite dos 3% e tens também sucessivos incumprimentos por parte de alguns países.
Ou seja na prática não existe cumprimento por parte de alguns países… Mas isso não quer dizer que ignorem o limite que deveriam respeitar e muito menos que essa meta não condicione a forma como, a nível governamental, actuam sobre a economia.
Basta olhar para o nosso rectângulo. Se o desrespeito resultasse de uma acção consciente do poder político com vista a um outro caminho estratégico no sentido de promover o crescimento, faria sentido a crítica ao que DA escreve. A sua lógica não pareceria muito… coerente.
No entanto, pelo menos por cá, esse incumprimento apresenta-se como um fatalismo, um mal horribilis que sucessivos governos se propõem debelar justificando com esse pretexto sucessivos aumentos da cobrança fiscal e o lançamento de vagas mais ou menos reformistas.
Nesta perspectiva temos o pior dos dois mundos tal como DA sugere. Suponho que defenda o levantamento conjuntural de alguns desses limites como sejam os 3% de défice orçamental e os 2% de inflacção a condicionar a política monetária do BCE. Se é mais crente no intervencionismo estatal nesse conjutura de menores constrangimentos ou se é mais crente na responsabilidade estrita desses limites que se preseguem em relação “ao estado a que isto chegou”, só o DA poderá esclarecer.
Rui MCB
Pelo que entendo, devemos deixar de impor limites aos defices orcamentais, pois assim evita-se a lamuria. Ou seja, caminhamos para o abismo mas ao menos caminhamos contentes?
Not quite 🙂
Talvez não tenha sido claro…
Estava a desmontar a contradição aparente que o Gabriel tinha identificado nesta frase:
” Afirma que na prática não existe disciplina orçamental, sendo comuns os deficites excessivos acima dos 3%. E depois diz que a fixação de tais critério «inflexíveis» são a razão da falta de crescimento de convergência.”
Caro LA-C, imagine por hipótese que um país incumpridor, por via dos limites inflexíveis que tem de cumprir se decide a recorrer a todas as receitas extraordinárias que consegue espremer para cumprir o défice no ano seguinte…
Será que estará a colocar o enfoque correcto nas prioridades da sua política económica? Será este o caminho para garantir o cumprimento duradouro dos limites ou será esta a forma mais eficiente de utilizar esses recursos?
Este tipo de acção (muito pouco hipotética afinal e muito menos pontual nos últimos anos em vários países) não será uma consequência directa da necessidade imperativa de cumprir os limites inflexiveis?
E porquê 2% de inflação? Porquê fazer deste limite praticamente o único valor relevante para definir a política monetária? O LA-C acredita que se o limite da inflacção a partir do qual o BCE interviesse no Mercado monetáiro fosse de 4%, dependendo ainda do nível de desemprego e do crescimento do PIB (um pouco à laia do que faz o Fed) seria promover a caminhada para o abismo?
Eu preferia ter essa flexibilidade adicional para fazer política económica. Limites sim, mas com intervalos de adaptação condicionados pelos ciclo económico (medido por mais variáveis além da inflação). Que tal?
“Caro LA-C, imagine por hipótese que um país incumpridor, por via dos limites inflexíveis que tem de cumprir se decide a recorrer a todas as receitas extraordinárias que consegue espremer para cumprir o défice no ano seguinte… ”
OK, neste ponto concedo, dou-lhe toda a razao.
“Este tipo de acção (…) não será uma consequência directa da necessidade imperativa de cumprir os limites inflexiveis?”
Nao concordo. E’ uma consequencia directa de nao se cumprir limites, que sendo inflexiveis, deviam existir em todas as nossas mentes. Independentemente do PEC, nao faz sentido que os paises vivam com defices orcamentais permanentes.
“O LA-C acredita que se o limite da inflacção a partir do qual o BCE interviesse no Mercado monetário fosse de 4%, dependendo ainda do nível de desemprego e do crescimento do PIB (um pouco à laia do que faz o Fed) seria promover a caminhada para o abismo?”
Aqui e’-me dificil dar uma resposta. Parece sugerir uma politica monetaria um pouco mais laxista (e digo isto sem ser em tom pejorativo), mas a verdade e’ que as taxas de juro estao muito baixas e, tambem por isso, podemos estar com niveis de poupanca muito baixos. Nao me agrada muito a ideia de baixar ainda mais os juros. Esta resposta nao e’ definitiva, ou melhor, nao tenho uma resposta precisa a’ sua pergunta, e, sinceramente, nao penso que alguem informado possa dar uma resposta categorica.
“Limites sim, mas com intervalos de adaptação condicionados pelos ciclo económico (medido por mais variáveis além da inflação). Que tal?”
Mas isso existe, os governos e’ que nao cumprem. O limite dos 3% de defice so’ deveria ser atingido em situacoes de recessao. Idealmente os defices orcamentais deviam andar na casa dos 0%. Quer isto dizer que em periodos de expansao haveria excedentes orcamentais e em recessao defices. E isto nao e’ neoliberalismo. Isto e’ do mais puro keynesianismo.
Na minha opiniao, o desacordo entre correntes ideologicas deveria estar no peso que se da’ ao Estado (e aqui um indicador economico possivel sera a despesa publica). Malta mais liberal deveria querer um nivel de despesa mais baixo e malta mais estatista deveria querer um nivel mais alto.
Defices altos nao me parece estar associado a esquerdas ou direitas (ou liberais ou keynesianos), parece-me, isso sim, estar associado a pessoas que gostam de fugas em frente, e que querem ganhar as eleicoes que estao sempre a’ porta.
” (…) nao penso que alguem informado possa dar uma resposta categorica (…)”
Eu também não, na dúvida gostava que houvesse mais flexibilidade nos moldes abstractos que referi.
Concordando com esta ilação talvez concorde também que aplicado ao caso português, o que o DA escreve tem mais propriedade.
Sim, preferia ter uma politica económica mais laxista e que desse sinais todas as semanas condicionada por outras variáveis além da inflação. É demasiado monolítica. 2% de inflação não “valem” sempre o mesmo! Logo não justificam sempre a mesma reacção. Menospreza-se tanta economia… Meio caminho andando para as surpresas do passado se repetirem, mais cedo ou mais tarde.
Quanto ao não cumprimento acho que estamos numa conjuntura que não vem nos livros (o peso do welfare state), basta ver como os exemplos de cumprimento e patrocinadores dos limites se espalharam ao cumprido pouco depois. Não terá sido só por isso, mas não deixa de ser uma das ironias históricas deste processo…
A caminho faz-se caminhando e se nós (em Portugal) somos um caso com pouca esperança (800 anos de défices sucessivos com poucas excepções, não é verdade?), estou curioso em ver como em países com melhores hábitos orçamentais como a Alemanha irão resolver a questão.
Daqui a uns anos teremos de perguntar se o que se aliviou em pressão social (ao recusar medidas drásticas ao primeiro sinal de falha) não serviu o propósito (saudável) de futuro radiosa que nesses dias teremos (terão) pela frente. A senhora Merkel e o seu governo é fruto dessa conjuntura e parece estar a dar passos muito importantes…
Se calhar para esses países, ter de pagar umas multas por incumprimento só servirá de empecilho mais ou menos perturbador.
“Eu também não, na dúvida gostava que houvesse mais flexibilidade nos moldes abstractos que referi.”
Mas optar pela flexibilidade monetaria e’ uma escolha politica que pode nao ser desejavel Nao vale muito a pena compararmo-nos com os EUA. Aqui entramos outra vez no mesmo tipo de falacia em que entrou o DA. Nos EUA o mercado laboral e’ diferente do nosso (mais flexivel e integrado), levando, entre outras coisas, a que os EUA estejam muitos mais perto de uma Zona Monetaria Optima do que a Europa a 15. Por isso, nao se deve pensar que podemos importar as politicas monetarias dos EUA.
Neste momento, a Europa vive uma fase de experimentalismo monetario. Levamos a cabo uma experiencia singular. Nestas situacoes, politicas conservadoras podem nao ser as ideais, mas sao, muitas vezes, as que menos riscos apresentam.
Veja bem, eu falei em 4% de inflação (poderia ter dito 5%) o que em termos de história económica não me parece significativamente diferente de 2%.
Sugeri que a politica monetária fosse temperada com outras variáveis além da evolução dos preços. O que não leva necessariamente a aumentar ou diminuir a flexibilidade.
Em bom rigor acho que o que proponho não pode deixar de ser classificado de política conservadora. Se admitisse inflação de 9 ou 10% e tomasse défices orçamentais de 10% como algo apenas preocupante no longo prazo, aí sim estariamos a defender coisas muito diferentes.
Aquilo em que divergimos é que estou a defender apenas um fine-tunning menos ostensivo mas mais atento (ao considerar mais variáveis além das estritamente monetárias).
Estes limites estão constantemente a exigir arbitragem activa e precisamente num meio onde não há integração económica plena (bastam as diferenças fiscais para acabar com as ilusões) e onde não conhecemos exactamente as consequências da interveção confesso que tenho muitas dúvidas que seja aconselhável querer viver por esse caminho tão estreito.
Mas é o que o LA-C diz: estamos em pleno experimentalismo monetário.