Jorge Coelho - Imagem TSF Rádio NotÃciasCaro Jorge Coelho,

Tenho-lhe feito críticas pouco fundamentadas por aqui (julgando que os factos públicos falam por si), mas desta vez, obrigo-me a ser mais explícito, mais que não seja por uma questão de respeito. 

A lei eleitoral para as autarquias que, desde há poucos anos (suponho que há um mandato), permite a constituição de listas de candidatos apoiadas por grupos de cidadãos formados no seio da cada concelho não serve o país. É esta a sua mais recente tese defendida ontem na RTP que praticamente não teve refutação da parte de qualquer membro presente no debate em que participava, todos eles militantes partidários representando os partidos com assento no parlamento. Sublinho, a título de exemplo, para enquadrar quem não tenha visto o debate, que Dias Loureiro, disse timidamente que tínhamos de trocar umas ideias sobre o assunto, tendo sido dos mais ousados.

Como justifica Jorge Coelho este veredicto? Dizendo que a actual lei só serve para patrocinar movimentos de vingança face aos partidos e para potenciar candidaturas nefastas para a democracia como as independentes mais mediáticas de que temos ouvido falar  -as palavras não são minhas ainda que não garanta todas as vírgulas de uma citação.

Pois parece-me que está eleito um conveniente bode expiatório. De uma assentada catalogam-se todas as experiências de listas e independentes e vemo-nos livres de uma das raras e incómodas reformas eleitorais que se implementou recentemente e que, objectivamente, cria a possibilidade de combater o monopólio partidário à escala das autarquias. Parece que Fátima Felgueiras continua a dar frutos e a ajudar os interesses do PS desta formas retorcida mas nada ingénua de encarar a realidade.

Pergunto-lhe, caro Jorge Coelho:

Se assim pensa, como explica ter dado o aval no recente processo de constituição de listas do PS no Concelho de Penamacor a que o actual presidente de câmara se assuma agora como cabeça de lista do seu partido? Recordo que Penamacor foi um dos dois concelhos a nível nacional onde, nas últimas autárquicas, a câmara foi ganha por uma lista de independentes.

Parece não ser bem a mesma coisa dirá o leitor, mas falta um facto. Domingos Torrão, o actual presidente de câmara, (sobre o mandato do qual não vem ao caso pronunciar-me), não conseguiu, em 2001 (quando ainda era militante do PS), o apoio das estruturas distritais do partido para ser o candidato à câmara decidindo-se (seguindo as suas palavras) pela "vingança", formando uma lista e ganhando as eleições.

Hoje o PS, perante a perspectiva de recuperar mais uma rosa a contar para o ramo a apurar em 9 de Outubro, abriu-lhe os braços recebendo o filho pródigo e perdendo de caminho para o PSD aquele que foi durante o actual mandato vereador do PS enquanto oposição (detalhes aqui e aqui).

É caso para perguntar se é de esperar ver o PS fazer o mesmo a Fátima Felgueiras daqui a 4 anos caso se prove a sua inocência nos tribunais. Qual seria a diferença?

É demasiado "estranha" tamanha sofreguidão em querer arrastar para o descrédito político (e da justiça) associado a alguns episódios recentes envolvendo as autarquias, uma lei tão recente num país tão novo em termos de tradição democrática. Acredito que a lei pode muito pouco contra tamanha oposição se não houver muitos pequenos a darem-lhe a mão e a sublinharem o que me parece essencial, a saber:

Deixe a lei em paz, caro Jorge Coelho que no final quem vota é o povo português. Será ele a caucionar a sementeira e será ele a haver-se com a colheita.

Sugiro-lhe que se preocupe antes em perceber como é que os partidos caucionaram, nomeadamente o PS, durante tantos anos, políticos tão "vingativos", tão pouco respeitadores da legalidade (refiro-me, para já apenas ao desrespeito pelos tribunais) e tão propensos a legítimas dúvidas quanto ao respeito pela lei por parte dos nossos tribunais.

Com os melhores cumprimentos,

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