“CRUAS
Já toda a gente sabe que este blogue também é o lugar onde se publicam os trabalhos que a imprensa recusa. Esta é a reportagem sobre a abertura oficial do mercado do sexo em Portugal. Ou seja, sobre a chegada dos espanhóis, também a este sector. Ou seja, sobre os nossos cunhados e sobre as primas deles. Ou seja, sobre o que o amor também é.”
A Sarah Adamopolous introduz com estas palavras um dos seus mais recentes trabalhos (Uma reportagem de Sarah Adamopoulos e António Júlio Duarte [fotografias]) que nos oferece, sem encargos, n’A Espuma dos Dias.
Lido o texto e os retratos na primeira pessoa que o sucedem, tenho que concluir que há por aí jornais e revistas com belos caixotes de lixo.
Já agora vos digo muito candidamente que a pornografia com carga pejorativa está exclusivamente na cabecinha de alguns iluminados.
Aí e no código do IVA onde “as publicações de carácter pornográfico ou obsceno, como tal consideradas na legislação sobre a matéria” pagam 21%*.
A pior “pornografia” que conheço nasce desse não querer assumir mais essa faceta de nós próprios, uma atitude que bloqueia a sociedade, impede-a de enfrentar atentados ao Homem como o tráfego humano, o lenocínio e demais abusos das liberdades de cada um, tudo “companhia” que a pornografia e quem dela vive seguramente dispensariam.
* – Será que aqueles manuais escolares que há largos meses foram assunto na blogoesfera caem na definição de obscenidade dos “termos da lei” ou terão direito a 5% de IVA?
Já divago, fiquem-se com a Espuma Crua e com as breves estatísticas que por lá aparecem:
Os números:
35.000 visitantes
29.853 bilhetes vendidos
300 jornalistas acreditados
300 espectáculos/dia
10.000 preservativos distribuídos
Artigos mais procurados: óleos para massagens, afrodisíacos naturais, vibradores, lubrificantes, lingerie, filmes de sexo com animais e sadomasoquismo.
Fonte: Gabinete Comunicação do Salão Erótico Internacional de Lisboa
5 replies on “Masturbação Assistida”
teste
Estou aqui sem saber o que fazer com este teu post,e já fui ao link e é uma excelente reportagem, não é isso que está em causa.
…
Nem a realização da feira está em causa, para mim. Também prefiro que estas coisas não estejam escondidas. Mas seria bom pensar-se seriamente nas questões que envolvem a pornografia, nomeadamente na sua normalização. Oh, Rui, que as pessoas queiram levar porrada, dar porrada, usar os mais incríveis objectos que se possa imaginar, é com elas, se consentem, se é o que querem umas com as outras… mas filmes de sexo com animais?? Tem de haver limites. Alguns terão de existir. Desculpa-me escrever isto, mas a liberdade impõe a marcação de regras humanas básicas. E isto choca-me. Eu não sou propriamente púdica, e choca-me!
O sexo está entregue aos vendilhões do templo. Se o sexo é isto, eu ando, felizmente, e quero continuar, bem enganada.
(comentário inserido pelo autor do blogue após problemas técnicos)
Protejam-se os animais, Isabella. Ponha-se aí um limite – um limite que aliás existe já, tanto quanto sei. Mais algum que te ocorra? É que há alguns limites associados à pornografia (à sua exibição) que me deixam a matutar por tão afanosamente serem defendidos (lembro-me do muito púdico encerramento em canal aberto do célebre canal 18 do cabo, por exemplo, que emitia depois da meia-noite, se não estou em erro); principalmente quando me ponho a tentar comparar outras realidades não proibidas e tão facilmente exibidas para as quais nem todos estaremos preparados e sobre as quais não temos grande liberdade de escolha no seu consumo. Eu gostava de ter a liberdade para olhar para a minha cidade, para uma rua que fosse ou um núcleo (ou de mostrar a cidade aos meus filhos) sem ser bombardeado (e não é exagero) por motivos publicitários. Gostava de poder apanhar um transporte público(metro) sem ter de gramar com publicidade em altos berros no interior da estação, por exemplo (muita dela erótico/pornográfica diga-se, mal disfarçada). Gostava que também aí houvesse limites, limites ao condicionamento que recebo por essa via.
Gostava de não ter que estar preocupado com a violência das imagens exibidas pelos noticiários à hora de jantar, não pela violência mas pela não-escolha que tenho quando elas surgem sem aviso, mas gostava essencialmente de conseguir defender-me com uma cultura um bocadinho diferente que combinasse a nossa idolatria pelo sexo com a perda do pudor doentio e hipócrita, essa magnífica mistura corruptora que dá má fama às imagens e seus agentes e tantas vezes absolve as acções.
Fazer filmes pornográficos, montar salões eróticos são actividades industriais que devem ter e respeitar as regras usuais para qualquer outra actividade produtiva e ou para-artística (eu não sei bem o que é arte, e muito menos este para-artístico que acabei de inventar, mas espero que se perceba). No limite não acho que tenha o direito de impedir ninguém de fazer do sexo um produto vendável/consumível. Já me choca é saber que para muita gente não há outra alternativa de subsistência, mas isso já é outra conversa. Uma conversa que me leva também a todos aqueles que se mortificam em empregos detestáveis, por vezes fruto de ciclos viciosos mais ou menos inquebráveis de miséria.
Quem faz do sexo a sua vida deve ter os direitos e deveres que qualquer outro profissional que ganhe a vida com o seu trabalho e para isso é fundamental clarificarmos os limites que a comunidade impõe obrigando-nos a todos a um exercício de coerência que deveria culminar, na minha opinião, com o máximo respeito por todos os que respeitassem as fronteiras dessa mesma clarificação.
Isto ficou muito sério, mas é sério mesmo.
O sexo não é uma actividade profissional, embora sirva para fazer dinheiro.
Ocorrem-me imensos limites – os quais, numa era em que se “branqueia” sexo como quem branqueia dinheiro, fazem de mim uma, como é que se diz, “empata fodas”?!
Devido a esse branqueamento convinha termos a … coragem ? de discutir o assunto e os seus limites, dispondo-nos depois a ter a … coragem? para fazer cumprir a lei que a comunidade estabelecesse.
Para que conste: tenho tanto quase tanto pavor da exploração associada ao sexo quanto da paranóia doentia do “pudor legalizado” dos norte americanos.