Month: June 2011
Sporting Bi-Campeão em Futsal
Excerto de “Um Novo Ciclo” por Mário Soares na Visão.
” (…) Em Portugal, os partidos da esquerda radical, com o seu irrealismo, parece terem perdido o rumo e os horizontes políticos. O terem recusado falar com a troika foi um erro que lhes vai custar caro, porque lhes retirou a idoneidade política. Em relação ao PCP, julgo que Álvaro Cunhal não teria praticado um erro semelhante. Tinha outra elasticidade tática, como várias vezes demonstrou. Quanto ao Bloco de Esquerda, além da perda significativa de votos, provocou uma crise interna que não vai ser fácil esquecer.
O PS, no plano político, continua a ser a grande força da Oposição. Mas menos – diga-se – no plano social. O que deve ser corrigido. A saída voluntária de Sócrates foi um ato de bom senso e abriu a porta a dois candidatos a líder que têm a vantagem de ser pessoas inteligentes, experientes e honestas. Não se irão zangar, penso, qualquer que seja o resultado. Julgo até que serão capazes de colaborar, como é conveniente que façam.
O PS precisa de se unir e de uma refundação política e ideológica. Os tempos mudaram e vão continuar a mudar muito. É um imperativo de sobrevivência. A União Europeia vai ter de mudar radicalmente, sob pena de se desintegrar. É outro dos nossos grandes problemas. O PS deve ter uma conceção própria do que será a União Europeia de amanhã e tem de saber bater-se por ela. Tem de participar ativamente no plano político, ideológico e também social, no Partido Socialista Europeu e de ter em grande atenção o movimento social europeu (sindicatos, cooperativas e associações cívicas). Porque é por estes dois pilares que vai passar o futuro. O PS e os seus militantes devem preparar-se, neste intervalo salutar do poder, para participar ativamente no futuro europeu que aí vem, necessariamente. E, assim, poder contribuir, no momento próprio, para a construção do nosso futuro português.”
A ler o último artigo de Paul Krugman sobre o exemplo Norte Americano até porque o assunto é de todo relevante para o nosso futuro em termos de escolha política: “O Medicare permite economizar dinheiro” (ou no original “Medicare Saves Money”). Um excerto:
“(…)Afinal, os gastos com o Medicare não subiram dramaticamente ao longo do tempo? Sim, subiram: considerada a inflação do período, os gastos do Medicare por beneficiário subiram em mais de 400% entre 1969 e 2009.
Mas os custos dos planos de saúde privados, também considerada a inflação, subiram em mais de 700% no mesmo período. Portanto, embora seja verdade que o Medicare não realizou o trabalho necessário de controle de custos, o setor privado se saiu muito pior. E caso neguemos o Medicare às pessoas de 65 e 66 anos de idade, as forçaremos a bancar planos privados de saúde -se puderem-, e eles custarão muito mais do que se os serviços equivalentes fossem fornecidos pelo Medicare.
Aliás, dispomos de provas diretas dos custos mais elevados dos planos privados de saúde, por meio do programa Medicare Advantage, que permite que beneficiários do Medicare obtenham cobertura junto ao setor privado. A ideia era que isso propiciasse economia de custos; na verdade, o programa custa aos contribuintes substancialmente mais por beneficiário que o Medicare tradicional.
E dispomos também de indícios internacionais. Os Estados Unidos têm o sistema de saúde mais privatizado entre os países avançados. Também oferecem, de longe, a saúde mais cara, sem que isso represente vantagem clara de qualidade, apesar de todos esses gastos. A saúde é uma área na qual o setor público consistentemente faz um trabalho melhor que o privado, no controle de custos.
De fato, como aponta o economista Bruce Bartlett, que foi assessor do presidente Reagan, os elevados gastos privados de saúde dos Estados Unidos, comparados aos dos demais países avançados, praticamente cancelam quaisquer benefícios que pudéssemos auferir de nossa carga tributária relativamente baixa. (…)”
Gostei! Para um órfão, há sinais de esperança 🙂
Tipicamente, os partidos políticos só têm tempo para pensar quando não estão no poder (às vezes nem isso, arranjando-se uns expedientes de última hora que disfarçam a incapacidade revelada na travessia…), uma vez recuperado o poder haverá afinco inicial na implementação da reflexão feita e com o tempo acabam por recordar vagamente o ruído de fundo que sobrou dos ventos do deserto. Como digo, parece que tem sido assim, daí correr a percepção de que a veia reformista de um novo partido que chega ao poder se esperar que decaia de forma mais ou menos abrupta relativamente depressa.
Para todos os efeitos este pode e deve ser um tempo de criação, de certa forma de depuração (dizem que a esquerda democrática europeia anda meio perdida, sem portos de abrigo especiais onde encontrar grande inspiração) mas pode também revelar-se de imensa frustração. Tudo dependerá do ânimo com que se quer fazer política, dos incentivos de cada um, das prioridades de cada grupo e, fundamentalmente, do conhecimento que se tem do deserto, é que geralmente os desertos estão razoavelmente polvilhados por oásis. Razão e coração como dizia o outro, razão e coração para além do slogan de campanha.