Eu pensava que tinha desenvolvido uma doença, uma alergia qualquer aos livros por estar sistematicamente a auto-impor-me um número máximo de páginas por sessão de leitura. Não que andasse a contar efectivamente as páginas lidas para respeitar uma qualquer quota. É um facto que parava ao fim de um tempo regular de leitura, por mais que me apetecesse prosseguir satisfazendo a curiosidade (nesses casos o fenómeno aproximava-se da auto-flagelação), surgia um parágrafo, um novo capítulo que se destacava com um sinal stop invisível mas imperativo.
Hoje, numa dessas sessões de leitura um narrador personagem-escritor confessou-se nas páginas aventando uma estatística à cara deste leitor que vos escreve. Que demorou duas ou três horas a encher oito páginas de um caderno azul. Estaria perante uma estatística ficcionada ou não? A leitura prosseguiu e à página 28 parou.
Um livro não pode ser lido à velocidade a que foi escrito, mas um vinho também não deve ser ingerido à velocidade da água. E afinal o que distingue um bom livro de um bom vinho?
Hoje tenho novas razões para o irracional; não é de ânimo leve que se devoram mais de sete horas de trabalho árduo do escritor e se prossegue impunemente a leitura.
Escrito isto, acho que o livro já “respirou” o suficiente para mais um trago.

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