(Continuação daqui)

3.
O breve balanço da ligeira frustração e o recuperar da cacofonia vocal foi feito à mesa de um restaurante no Largo do Carmo.
Esquecida num canto, uma televisão em repetição contínua de um vídeo-clip. O aparelho e música foram ganhando protagonismo ao longo do jantar. Da tortura irritante à ironia surrealista…
Jantaram e saíram escapando à sobremesa com a melodia a matraquear a cabeça.
O choque térmico oferecido pela noite plena que entretanto caíra ajudou à mudança de pensamentos. Em busca de algo que os redimisse, seguiram ligeiros em direcção ao centro comercial mais próximo.

4.
A actividade para-compulsiva de entrar várias vezes por semana no espaço literário da Loja dos Armazéns do Chiado andava adormecida há alguns meses.
O pretexto mental para descer ao piso respectivo fora outro, mais cinéfilo, e foi já no regresso que espreitaram o primeiro expositor de literatura, talvez o espaço mais apetecido do país para se mostrar um livro…
Na última fila, junto ao chão, uma capa familiar, já vista na net.
O rapaz flectiu as pernas e, enquanto pensava na promessa que havia feito de regressar à ginástica para defender aqueles joelhos, agarrou o que podia ser um pedaço de relva ou de alcatifa esverdeada, houvesse dioptrias insuficientes nuns óculos imaginários!

(Continua)

* “Longe de Manaus” é o mais recente livro de Francisco José Viegas, editado pelas Edições Asa em Abril de 2005. Um livro que não tem quase nada a ver com o que aqui se escreve e escreverá nos próximos dias.
Uma entrevista ao autor (sobre este livro) pode ser lida aqui.

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