Lê-se na Lusa (e por contágio em quase tudo o que é jornal on-line deste país, aqui por exemplo):
“(…)O indicador de confiança nos serviços manteve uma evolução positiva em Junho, com um crescimento homólogo (face ao mesmo período de 2003) de 11,8 por cento, mas recuou face aos 12,4 por cento verificados no trimestre terminado em Maio.(…)”
ERRADO! Erradíssimo! Erradérrimo! Um indicador de confiança é um índice, certo?
É composto por várias perguntas nas quais geralmente se pergunta a alguém (empresário ou consumidor dependendo do inquérito) se acha que xpto melhorou, se manteve ou piorou. Xpto pode ser muita coisa como a sua carteira de encomendas, a sua capacidade de fazer obras lá em casa, etc, etc, etc.
Depois, calcula-se o Saldo de Respostas Extremas. Coisa simples: somam-se as respostas positivas (melhorou), às negativas (piorou), estas últimas com sinal negativo, respeitando uma ponderação e estratificação que aqui me poupo de explicar mas que não conferem qualquer unidade de medida concreta ao índice final.
Se toda a gente avançar com respostas positivas o valor daquela pergunta é 100. Se todos responderem negativamente temos -100. E, já agora, se todos responderem que a situação se manteve temos como saldo da resposta extrema 0 (zero). Um valor aliás que surge sempre que as “melhorias” coincidam com as “piorias”.
Em suma, os valores de cada respostas oscilam entre -100 e 100. O indicador de confiança mais não é que a soma aritmética dos saldos de respostas extremas das perguntas que o compõem, ou seja, ele próprio varia entre -100 e 100.
Quando o indicador de confiança se fixa num determinado mês em 11,8 quer dizer que houve mais respostas positivas do que negativas num valor de índice de 11,8, não há unidade de medida. Não são quilos, nem batatas, nem respostas. É uma unidade abstracta. Se no mês anterior o valor tiver sido de 12,4 temos uma diminuição do nível de confiança de 0,6 pontos de índice. Pontos de índice, não pontos percentuais nem nada que se pareça.
Ao contrário do que acontece em indicadores de conjuntura económica quantitativos onde se perguntam valores (qual foi o seu volume de vendas este mês, por exemplo) em vez de opiniões, (venderam mais, o mesmo ou menos neste mês?) não se apuram variações percentuais em cadeia ou em termos homólogos. Não faz grande sentido, basta comparar o índice, o mesmo índice, nos dois momentos do tempo e verificar a sua posição relativa. E, porque não, olhar para os gráficos para perceber a tendência e verificar onde está o índice actual face à sua média histórica. Repara-se, por exemplo, que um valor negativo num índice de inquéritos qualitativos não tem de ser mau. Se por tradição milenar um qualquer povo for sempre pessimista com uma média de índice a rondar os -50 pontos, se calhar atingir uns -25 é uma boa coisa. Naturalmente, o reverso pode acontecer em relação aos valores positivos.
A notícia da Lusa é um chorrilho de disparates.
O indicador de confiança nos serviços manteve uma evolução positiva em Junho, com um crescimento homólogo (face ao mesmo período de 2003) – até aqui tudo bem, mas não melhorou 11,8% face ao ano anterior, foi de 11,8 pontos índice quando no ano anterior, no mesmo mês, tinha sido de -9,3.
Se calhar se fossem fazer as contas à variação homóloga do índice ainda chegavam a uma melhoria de mais de 250% face a Junho de 2003… O que convenhamos, em análise de conjuntura ao nível de indicadores de confiança – qualitativos – não nos diria absolutamente nada.
Todos nos enganamos mas entristece-me que tantas e tantas vezes a criatividade jornalística em acrescentar valor se salde por estes resultados. Por vezes a atracção dos números é fatal.
Além de se recorrer à fonte sugiro ainda a notícia da TSF num nível bem melhor em termos informativos.
Bom mas isto é só a minha opinião. Como sempre, a responsabilidade do que aqui escrevi, é minha só minha e nada mais que minha. Passar bem.