Uma vez que as pessoas “limitam-se a absorver, a julgar, a pensar e a comentar apenas – e só – a estatística;â€? sejamos justos para com uma parcela da estatística.

Quando lê um número sobre Portugal que apresente como fonte o Eurostat você sabia que há elevadíssimas probabilidades de na realidade esse número ter sido produzido no INE?

O Eurostat não produz estatística, colecciona estatísticas de várias fontes sendo preponderante aquela que é produzida nos diversos INE’s dos países da União Europeia. O mesmo se passa quando surgem dados da Comissão Europeia. Além de o Eurostat integrar em sentido lato a Comissão, há várias direcções gerais da dita que produzem indicadores baseados nos dados estatísticos disponíveis. E mais uma vez quem disponibiliza esses dados? Particularmente em países como o nosso onde não há registos administrativos muito poderosos o fornecedor dos dados de base é, mais uma vez, o INE. Por cá o número único de identificação é proibido pela Constituição da República e tem sido complicado cruzar registos já existentes de várias fontes pelos mesmo motivos, o que limita grandemente uma base de dados credível de cariz administrativo e encarece a produção de informação estatística.

O que é mesmo cómico é ver jornais e jornalistas (como Helena Garrido no Diário Económico, por exemplo) a compararem o INE com o Banco de Portugal e a afirmarem que este último prefere os dados da Comissão Europeia aos do INE. Supostamente por os primeiros serem de melhor qualidade que os do INE… São os mesmo meus amigos, mas entre nós a chancela “veio do estrangeiroâ€? ainda cola.
A haver diferenças resultarão de tratamentos adicionais à informação de base (como a técnica de correcção de sazonalidade) mas o numerozinho de base, aquele que encerra em si maior ou menor qualidade é comum e é produzido com os recursos colocados ao dispor do Instituto Nacional de Estatística, recursos esses que advêm, quer do Orçamento Português, quer por comparticipações do Orçamento Comunitário (via concursos públicos do Eurostat/Comissão ganhos pelo INE), note-se.

Entretanto, o pobre leitor do jornais assiste a esta intoxicação (acreditemos que fomentada por alguma ignorância e falta de curiosidade) e pode até achar piada aos factos picantes entre duas instituições que, não sendo de todo comparáveis (diferentes competências, orçamentos, estatutos), se têm articulado saudavelmente, discutindo sempre o que há a discutir, e cultivando boas relações a um nível que faz certamente inveja a muitas organizações da administração pública que, tal como estas duas, estão condenadas a entender-se.

Aviso: As opiniões aqui expressas não vinculam de algum modo a instituição na qual trabalho e são de minha inteira e exclusiva responsabilidade.

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