O mulato da palavra
Há nesta terra fidalguia madura,
donos da língua, patronos do antigo.
Confundem mundividência pura
com um inaceitável castigo.
Julgam-se mordomos da história,
mas o que amam é ditadura,
ignoram a antiga obra,
que lhes prova a alma impura.
Que foi fraca a nossa embaixada,
que nos coloniza o estrangeiro,
gente pobre e ensimesmada,
nunca chamará bunda ao traseiro.
Agarram-se à imagem do seu passado,
defendem uma moral indistinta,
recuperam um dicionário calado
ignorando crimes sem tinta.
Zurzem no esforçado linguista,
criminoso ouvinte fora da quinta
douto e interessado copista
que converteu o verbo dito em tinta.
Para eles a língua sempre velha,
para nós algo que se renova,
para eles não é propriedade alheia,
para nós a fala é a prova.
Fieis de um estúpido princípio,
abominam a natural transformação,
ignoram a riqueza desde o início,
desta coletiva construção.
Língua minha pátria mui amada,
dou-te para aumentar a tua lavra,
deixando-me da conversa fiada,
dos que abominam o mulato da palavra.
Nota: Atrevi-me a este ridículo de poesia como desgarrada de resposta ao vizinho Fernando que me sabe no role dos “Arjumentos!“