A rábula do senhor Bom e do senhor Senso aqui congeminada e poucos dias depois amplificada por Pacheco Pereira no Abrupto e na Quadratura do Círculo (com referência à autoria) apanhou-me hoje nesta reportagem do Diário de Notícias (Marina Almeida) e lá vai seguindo o seu caminho tendo passado a ser expressão popular (ou quase). É como um filho que teve sucesso na vida graças ao padrinho influente. Snif… Estou comovido, snif. 😉
Até as aldrabas, tão cá de casa, vieram oa barulho no meio da discussão. Tenho pena de não ter estado por lá.
Vou tentar ouvir o debate que será transmitido na TSF, no Sábado, às 11 horas.
E sim, estes senhores (o Bom e o Senso) sempre vestidinhos de fato e com falinhas mansas, geralmente sentados ao nosso ombro, soprando-nos ao ouvido são perigosos. Perante a insónia, dita o bom senso que se tome um comprimido para dormir, mas no dia seguinte o mais certo é a insónia voltar. E há dias em que o pior que podemos fazer é querer dormir. Lá se vai o bom senso…
Para mais tarde recordar:
Quando "senhor bom e o senhor senso" espreitam |
O senhor bom e o senhor senso irão conduzir-nos a uma autocensura que será tão eficaz quanto do lado de lá houver quem nos assuste: a consideração é do jornalista Luís Marinho, director de informação da RTP e surgiu numa altura do debate em que o auditório deixara já de lado as caricaturas de Maomé, reflectindo a liberdade, também de imprensa, em Portugal.
A questão do bom senso em forma de gente fora lançada no debate por Pacheco Pereira e foi um dos fios condutores da conversa moderada por Carlos Andrade, que decorreu ontem no auditório do DN – paredes-meias com a Galeria Diário de Notícias, onde está patente até 30 de Abril a exposição "Liberdade de Imprensa – Colecção Berardo". O único limite à liberdade de expressão aceite pelos participantes foi o da lei – com Pacheco Pereira a ressalvar que "há muita coisa tratada como segredo de Estado que não faz sentido e que os jornalistas poderão, excepcionalmente, violar em função do interesse público". O bom senso foi considerado perigoso com o autor do Abrupto a considerar que os portugueses "têm uma enorme facilidade em incorporar o senhor bom e senhor senso, porque não gostam de conflitos". Augusto Cid responde com os seus desenhos. Aceitou o repto de um jornal iraniano e fez um cartoon sobre o Holocausto. "O concurso foi uma clara provocação, mas o meu desenho parece que não foi bem aceite, nunca apareceu na página da Net do concurso. Caricaturei o presidente do Irão a visitar Auschwitz", contou. ‘Croissants’ e aldrabas Foi com os cartoons de Maomé que Carlos Andrade acendeu o debate. Pacheco Pereira considerou que a questão "não tem nenhuma espécie complexidade", pois os cartoons de Maomé devem ser julgados à luz da "nossa tradição". E aqui é a lei que manda, fazendo valer "três ou quatro valores" como o da dignidade humana, o segredo de Estado, a informação referente aos serviços de informação, as suas tecnologias e seus métodos. O (também) historiador refutou a ideia de que a figura do profeta não possa ser representada e apontou representações bem correntes de valores muçulmanos no mundo ocidental. O croissant – ou crescente, inventado pelos pasteleiros vienenses para celebrar a derrota do sultão – e um batente de portas, o punho de Mafoma, que "é o punho de Maomé". A nossa civilização "está cheia de imagética muçulmana", concluiu. A causa e os danos O debate abriu-se ao auditório e o jornalista Óscar Mascarenhas agitou a mesa, defendendo que "quem faz comunicação social [incluindo os cartoonistas] tem sempre que interpelar que efeitos causa nas pessoas", os "danos que pode provocar". O artista Pedro Cabrita Reis tomou a palavra, questionando se o também docente Óscar Mascarenhas não estará a criar "condições de autocensura" ao transmitir estes valores aos seus alunos. Luís Marinho uniu-se à contestação, dizendo que este é "um jornalismo de preconceitos". Mascarenhas precisou: "os jornalistas devem refrear-se por respeito a quem dirigem a sua mensagem, mas jamais por medo, por ser proibido". Pacheco Pereira disse que acima do respeito pelas culturas está o direito à liberdade e à tolerância. "Se abandonarmos esta hierarquia todos os grupos vocais nos manipulam remotamente", acentuou. Cabrita Reis apontou a grande força da "nossa civilização": a dúvida ou "o grande exercício da razão sobre o medo". Os intervenientes abordaram ainda a questão da legislação para o sector dos media. Luís Marinho apontou como positiva a "tipificação" dos limites ao sigilo profissional do jornalista no Estatuto do Jornalista (em aprovação). Pacheco Pereira disse não ser favorável "a entidades reguladoras", defendendo "uma lei geral aplicada aos crimes cometidos pelos órgãos de comunicação social hoje" e a autoregulação. A TSF emite este debate no próximo sábado, às 11.00. |