Eis algumas perguntas óbvias que sublinho:

  • Porque é que nestas eleições, o PSD aliado com o CDS não conseguiu superar o peso eleitoral que tinham tido dois anos antes (30,89%), quando PS havia ganho com maioria absoluta?
  • Porque é que o PSD e o CDS não conseguiram captar uma parte muito importante dos eleitores que reclamam mudança? Que lições há a extrair para os partidos da coligação que agora nos governará e como é que isso determinará a sua governação?
  • Porque é que a grande maioria dos que votaram no Chega ou nunca tinham votado antes (por serem jovens) ou quase nunca se tinham sentido identificados com qualquer outro partido mas agora saíram do silêncio da abstenção?
  • O movimento teve escala em 2022 e disparou em 2024. Quantos mais poderá ainda haver no contingente de cerca de 2 milhões de eleitores que insistem em não votar mas têm condições para o fazer?
  • Poderão ser eleitores aliciáveis por partidos como o PS se mudar de protagonistas, de políticas e de forma de fazer política? Aliciáveis pelo Chega lavando-o claramente ao poder?
  • De que forma este levantar de tantos até aqui alheios ao processo democrático deve influenciar a reflexão sobre os 50 anos de democracia e, em particular, a reflexão dos partidos que ou governaram ou tiveram e têm representação parlamentar além do Chega?
  • E quem deverá ajustar o seu programa político para procurar incluir pelo menos parte dos anseios dos que estavam alheios ao processo, oferecendo-lhes um alternativa democrática e credível de voto no futuro? E alterar como? Em que sentido?
  • Iremos ter políticos orientados estritamente para o curto prazo ou teremos gente com capacidade de antecipar o impacto duradouro de decisões mais refletidas a tomar nos próximos meses?
  • Terá a Comunicação Social capacidade de se reafirmar como livre e independente do controlo económico e da pulsão para o lucro num mundo onde a atividade política está em processo de polarização ou vai ver o que resta da sua credibilidade e papel de escrutinador definitivamente destruído pelas agendas que a instrumentalizam?
  • Conseguirão os jornalistas ter condições económicas para exercerem de forma livre e independente o seu mandato crucial para a manutenção da democracia?
  • E como irão os eleitores moderados, claramente maioritários, posicionar-se numas futuras eleições?
  • Irão acompanhar mais a fundo a vida política? Irão mobilizar-se mais para evitar uma ameaça que agora é bem real e que a cada dia que passa se tornará mais evidente na vida quotidiana?
  • E os eleitores do Chega ficarão definitivamente blindados pela retórica do partido que os bombardeia sistematicamente com um discurso que diaboliza tudo o que não sejam fontes diretas do partido, isolando-os da realidade para melhor os controlar, ou serão suficientemente inteligentes e exigentes para não exigirem do Chega menos do que exigem do sistema e que tanto os descontentou?
  • Finalmente, até que ponto entre o eleitorado jovem do Chega há um fenómeno de fama pastilha elástica?
  • O hype será duradouro ou é divertido votar no tipo que faz piadolas no tik tok e chateia os pais, mas será algo que cansará quando a vida juvenil, protegida de jovem adulto, ainda com poucas responsabilidades, for substituída pela necessidade encarar a realidade com olhares mais adultos?
  • E haverá quem fora do Chega tenha um discurso que encaixe nesse amadurecimento ou continuará um certo amadorismo impotente perante a máquina de propaganda chegana?

Noutro artigo deixarei algumas perguntas específicas apenas para o PS, de que sou militante.

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