Na passada sexta-feira estive para aqui postar um pequeno texto mal cheiroso. Ou melhor, um texto onde relataria o cheiro pestilento, agoniante com que qualquer um pode ser bafejado se se atrever a subir ou descer a Avenida da Liberdade. Em alguns pontos, qual marca territorial de São Devoluto, os vãos de entrada e velhos sagões de prédios abandonados são espaços polivalentes para as actividades de micção e outras obras, bem como, em alguns casos, ponto regular de pernoita e outros caldinhos.
O texto ficou por escrever enquanto o cheiro não me saísse das narinas e enquanto eu não percebesse (eu percebo!) porque me choca tanto este perfume comparado com o de um monte de estrume feito, criado e enobrecido algures no espaço rural deste país que conheço desde que tenho lembrança.
Entretanto, de volta à Avenida, um desses pontos ganhou ontem outro odor, purificando-se pelas chamas.
Na sexta-feira via a triste cidade que não consegue ter lavada sequer a Avenida de mais nobre nome que alberga. Hoje, depois de mais um fogo, o pivete, a degradação e a miséria, surgem mais próximos de outra ruína a que reagimos ainda de forma menos que anestesiada.
Regresso ao mundo semi-extinto da aldeia para me lembrar de outra cena, agora a sul. Uma cena feita de humildade, vaidade e asseio, traduzida em braços firmes, trinchas e pinceis e um bom balde de cal que acabaria por se encontrar vazio, espelhado na parede.
Podiam(os) ser um pouco mais alentejanos, os cães de Lisboa e seus donos, para começar.
Depois tratariamos do Santo, nosso verdadeiro padroeiro, Santo António que me perdoe.

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