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MEP Política

O que é isso da reinvenção da chamada sociedade civil?

Agora que já “todos” enterramos o novíssimo Movimento Esperança Portugal (MEP) (eis aqui mais um prego zangado (?), ainda que algo ambíguo, postado ontem pelo Francisco José Viegas no Correio da Manha) começa a surgir mais qualquer coisa da pena dos seus fundadores, além do manifesto. Como é natural em quem me conhece as fraquezas irei acompanhar com atenção redobrada o dito movimento. Para já retenho dois parágrafos assinados por Inês Rodrigues no texto “Uma leitura do tempo” no blogue do movimento:

“(…) As politicas modernas são dominadas por duas entidades: o indivíduo abstracto, cujo palco é o mercado e o estado providência, representado pelos governos. Direita e esquerda alinham respectivamente nestes dois pólos, mas ambas falharam. A predominância do mercado mostrou premiar os vencedores mas esqueceu os que perdem, criando bolsas de exclusão social que ameaçam a sua sustentabilidade. Por seu lado, os modelos assentes no estado minaram o tecido social com relações de dependência, que anestesiam as causas dos problemas, sabotando assim a sua resolução a prazo.

No âmbito da ciência política, existe uma nova corrente que defende a recuperação de um terceiro pilar que não exclua os outros dois, mas de alguma forma os tempere e equilibre. O chamado pilar social. Os seus representantes defendem a reinvenção da chamada sociedade civil, que desde o revolucionário século dezanove se foi progressivamente asfixiando, em matizes diferentes conforme a latitude, até quase desaparecer. (…)”

E esta breve frase de Rita Simões de Almeida em “Três razões para ter aderido ao MEP“:

“(…) Não gosto de estar sempre a dizer mal, embora saiba que as coisas estão realmente mal. Mas a ideia de constatar as enormes injustiças, ver as desgraças, sentir esta desesperança no ar e não fazer nada, não é para mim. Critico mas quero agir. Não quero ficar sentada. Quero poder dizer às minhas filhas que tentei, fiz o melhor que sabia. (…)”

3 replies on “O que é isso da reinvenção da chamada sociedade civil?”

No essencial, concordo consigo, Rui: há algo de doentio nesta pressa de aniquilar qualquer coisa que mexa. Esta gente não tem mais nada que lhe ocupe a cabeça, uma agenda própria e não meramente reactiva, sei lá?…

Caro amigo,
se me permite o abuso, partilho consigo algumas das minhas convicções, abertamente.
Parabéns pelo excelente blog, de sempre, não é de agora, e também pelo discurso mais ponderado, plural, aberto, sensível com que brindou o aparecimento do MEP. Mostra bem que é de uma pessoa bem formada, sem amarras.
Um forte abraço,
Ângelo Ferreira

Uma onda junto ao chão [modificado]

Caríssim@s,

É muito positivo, só por si, o debate que o lançamento do MEP suscitou. Mas este movimento – o nome não é ingénuo – não ficará por isto, e, na minha opinião, surpreenderá certamente, entre muitas outras coisas, porque:

– nasce de baixo para cima, de pessoas comuns, seriamente empenhadas em melhorar o rumo da nossa sociedade, e não apenas do Estado, esse ente mítico, desresponsabilizante; não apela apenas para os outros, sempre “os responsáveis por isto estar tudo mal”, sem saber quem serão esses outros; apela a todas as pessoas para uma maior e mais empenhada participação, no MEP ou noutros partidos, nas organizações da sociedade civil; o MEP apela à auto-responsabilização;
– procura estabelecer um modelo de participação e discussão inovador, sem querer inventar a roda e sem ser ingénuo, obviamente, defende a todo o custo um modelo que envolva as pessoas na sua construção, no debate de ideias, na apresentação de propostas;
– não se revê na velha dicotomia esquerda-direita, porque ela já não responde aos desafios do novo tempo, porque ela tem separado no pior do sentidos, porque ela tem apenas servido, em muitos casos, para arregimentar clubes para uma jogatana pouco credível e uma dança tribal em torno da mesa do orçamento; as ideias não podem ser boas e ser metidas em caixinhas ideológicas, apenas para etiquetar as pessoas e saber quem é por nós ou está contra nós – um costume a acabar;
– não enjeita o debate ideológico, mas não se revê em exclusivismos ideológicos e procura construir um discurso próprio, sem medo e procurando ser genuíno, com uma forte aposta, desde logo, em valores hoje tão esquecidos e amesquinhados, nomeadamente a liberdade e a responsabilidade;
– não está preso a lógicas carreiristas na política e vai procurar continuar assim (ingenuidade?, não, coragem e determinação) – muitas das pessoas que o promovem já foram convidadas para outros partidos e não aceitaram – o que seria muito legítimo, claro – por não se reverem neles e no seu modo geral de funcionamento actualmente; o próprio líder do movimento teria certamente um “tacho” à sua espera, se o quisesse, e não teria de se colocar em frente das baterias de tiro “aos patos”, como é referido nalguns blogs (ler aqui, aqui , e há muito mais, apesar de haver também um interesse crescente), de caçadores de entusiasmo, que disparam com maldizer e costumeira agonia; há excessiva tendência para secar tudo em volta, numa desertificação da vida, e nada plantar, o que o MEP vem procurar contrariar – juntem-se a nós! Muitos somos poucos!;
– o centro do MEP não será estático e confortável, mas antes dinâmico e inovador, e trará surpresas, porque não está preso a dogmas de organização da sociedade, respeita a diversidade e as diferenças, sem ser relativista;
– preocupa-se com as pessoas, sabendo que muitos dos seus problemas e desafios se resolvem perto delas, com elas, e não pelo super estado paternalista e centralista (por isso defende o princípio da subsidiaridade);
– é uma onda junto ao chão, com os pés bem assentes, mas capaz de sonhar com o céu; não abdica de ninguém, de nenhuma ser humano.

Fico por aqui, mas há muito mais e uma força crescente em fazer melhor. Com determinação, melhor será possível!

Ângelo Eduardo Ferreira, membro do MEP
Aveiro

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