O autor, em estátua de bronze, passeia por uma das pérolas do império austro-hungaro, enquanto em casa…
" (…) A certa altura, numa das pontes sobre o Grand Canal, em Dublin, há uma placa de bronze no chão: aqui passou o Sr. Leopold Bloom, personagem de Ulysses. É a única cidade onde as personagens dos livros têm direito a placas nas ruas. (…)"
Não sei se a editora ainda existe (VEGA) mas o texto da contracapa de Dubliners que a seguir transcrevo está entre os meus favoritos – sublinho que ainda não li Ulysses. Uma contracapa difícil de encontrar nos dias de hoje onde o encómio não deixa margem para análises, ainda que estas pudessem funcionar por linhas tortas como verdadeiro espicaçador de outras curiosidades.
Reza assim a última meia folha do livrinho minúsculo comprado (400$) num tempo em que apontava a lápis coisas como esta: "Comprado na Feira do Livro da Amadora de 1995":
GENTE DE DUBLIN, (Dubliners), é decerto a obra mais acessível de James Joyce. É nela que este genial virtuoso da literatura do século XX parece ter atingido a maior força de comunicação humana. Tal como Portrait of the Artist as a Young Man, constitui, sem sombra de dúvida, um dos seus mais fortes documentos literários. Composto, na generalidade, por quadros da vida de Dublin, quadros frios, nítidos, objectivos, onde se espalhavam, em toda a sua veracidade, figuras, casos, famílias, ruas, dramas, atmosferas, ridículos, da sua cidade natal, GENTE DE DUBLIN é uma obra isenta dos excessos de intelectualismo com que Joyce, não raro, asfixiava os sentimentos e paixões das suas personagens levando-as a perderem-se sob a trama do seu engenho e artifício. Alusiva ao local que mais terá marcado a sua infância e juventude, GENTE DE DUBLIN, é, talvez por via disso, a sua obra mais profundamente vivida.
in GENTE DE DUBLIN, Colecção Contemporâneos de Sempre, Editora Vega, Lisboa, 1985.
Tradutor: B. de Carvalho