Quando vemos o PIB espanhol a crescer 3,5% ao ano (dados mais recentes), podemos dizer, em alternativa, que a Espanha acrescenta o equivalente a 1/4 da economia portugesa à sua produção nacional, ou quase.
Para melhor perceber esta brincadeira com palavras espreite "Para o Luxemburgo em força e já" de Rui Pena Pires n’O Canhoto.
Adenda: O João Miranda alertou-me para uma impossibilidade matemática que me levou a identificar um erro no post original que aqui interpretei também erradamente. No quadro disponível n’O Canhoto o nível para a economia espanhola é cerca de 16 vezes o da portuguesa quando na realidade a proporção anda entre as 6 a 7 vezes. A partir desse erro a extrapolação do nível acumulado a uma taxa dada (3,1%) dá um disparate de crescimento absoluto quase igual à totalidade do PIB português no mesmo ano. Na realidade a Espanha "só" acrescenta cerca um quarto de "um Portugal" à sua economia por ano.
8 replies on “El PIB (Rev.)”
Essas contas não estão bem feitas. A economia espanhola é 6 vezes a portuguesa. 3.5%*6=21%
Cada ano que passa a economia espanhola acrescenta 21% da economia portuguesa.
Tens toda a razão João. O nível de Espanha está errado. A ser aquele a economia espanhola seria 16 vezes superior à portuguesa. Já andei a espiolhar os dados do FMI e não encontrei aqueles números… Aliás também não sei que números são aqueles do FMI que dão a economia Espanhola 7,1x superior à portuguesa. Uma confusão qualquer com a China, se calhar. O autor saberá. Segundo o FMI o crescimento anual de Espanha equivale a cerca de 1/4 da dimensão da economia portuguesa.
Eu fui na onda… É o que dá não usar os dados do INE e olhar pouco para comparações internacionais que passem além do sector de actividade.
Vou corrigir o post.
Pois, há de facto algo errado com os valores do crescimento, mesmo tendo em conta que estes sejam a preços correntes e as taxas sejam calculadas a preços constantes. Está visto que teremos de perguntar ao FMI e ao Banco Mundial como é que foram construídas as séries de onde estes dados foram retirados (http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2005/02/data/dbcoutm.cfm?SD=2003&ED=2004&R1=1&R2=1&CS=3&SS=2&OS=C&DD=0&OUT=1&C=182-184&S=NGDP_RPCH-NGDPD&CMP=0&x=44&y=13).
O curioso é que a proporção, nestes dados, entre Portugal e Espanha é sempre à volta de 1 para 6 (como aliás está patente na coluna 3 do quadro que publiquei no Canhoto). O problema está na variação 2003-2004, mesmo com o desconto de esta estar expressa em preços correntes.
Talvez o FMI afinal não esteja errado…
Estive a espreitar informação mais detalhada (http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2005/02/data/dbcoutm.cfm?SD=2002&ED=2006&R1=1&R2=1&CS=3&SS=2&OS=C&DD=0&OUT=1&C=182-184&S=NGDP_R-NGDP-NGDPD&CMP=0&x=64&y=11) e parece-me que o efeito cambial é que está a introduzir ruído.
Provavelmente os dados estão todos correctos.
Quando analisamos a questão pegando nos dados a preços correntes cotados em dolares (que são os dados apresentados na coluna “valor” no Canhoto) e analisamos adicionalmente o crescimento absoluto entre dois anos sucessivos (a preços correntes e em dolares – coluna “absoluto” do Canhoto) caimos numa armadilha aparente (por trágica ironia próxima da que se pretende desmontar no post do Canhoto) pois essa variação acrescenta à evolução a preços correntes a variação por via do efeito cambial. Num período de elevada volatilidade – entre 2003 e 2004 o euro valorizou-se cerca de 10% face ao dolar – este facto justifica a maior parte da variação anual “estranha” (quando medimos o PIB em dolares e a preços correntes) que se registou entre 2003 e 2004 que foi de 13,8% para Portugal e de 18,0% para Espanha. Na realidade, descontando este efeito cambial, foi de 3,5% e de 7,3%, respectivamente (em preços correntes) e de 1,0% e 3,1%, em preços constantes, respectivamente.
A variação a que aludi no meu post e no comentário inicial do Canhoto, em termos absolutos, surge ampliada pela diferença de nível que à partida existe entre os dois países, particularmente se, como eu fiz, compararmos a variação espanhola com o nível total do PIB português…
Assim, em dolares e a preços correntes, entre 2003 e 2004, a Espanha cresceu mesmo quase “um Portugal”, mas quando a análise em preços correntes é feita em euros (sem o efeito cambial que ocorreu entre 2003 e 2004) a variação em termos absolutos é bem mais modesta: a Espanha cresceu 57000 e Portugal 20359 (para um nível do PIB total português de 135079 e de 837577 em Espanha). Neste caso a variação em nível (em preços correntes) de Espanha representa “apenas” 42,2% do PIB português de 2004 e ainda menos em preços constantes, os tais 21% que o João Miranda referiu.
Concluindo, (que isto já está confuso) é de toda a conveniência quedarmo-nos pelos preços constante e sempre pela mesma moeda, isto se o deflactor não for o mais relevante para a análise, o que me parece ser o caso.
Pois, mas a preços correntes não encontro dados disponíveis para as variações absolutas, a não ser nas diferentes moedas locais — o que se não é problema para a comparação Portugal-Espanha, é-o para as outras comparações. De qualquer forma, por isso é que: (1) as notas ao quadro indicavam a unidade de medida diferente para as variações absolutas e relativas; (2) apenas comparava entre si as variações absolutas e nunca estas com os valores absolutas do PIB de cada país. Se a conversão para dólares estiver minimamente bem feita, é possível comparar entre si os valores do PIB para cada ano e entre si os valores da variação entre dois anos consecutivos, mesmo a preços correntes. Já comparações temporais exigem, como é óbvio, que se trabalhe com preços constantes (o que não era feito no post mas estava implícito na comparação entre o PIB português a variação do espanhol).
“Pois, mas a preços correntes não encontro dados disponíveis para as variações absolutas, a não ser nas diferentes moedas locais”
Desculpe a frontalidade mas apetece-me dizer que então o melhor é ser um pouco menos ambicioso na análise. É que o indicador que usa para fazer comparações cruzadas depende de três factores distintos: a evolução da taxa de câmbio de cada moeda nacional face ao dolar, a evolução do volume e a evolução do valor (deflactor). No limite, com a grande divergência e volatilidade nas taxas de câmbio entre dois países comparados, as variações absolutas podem dever-se mais a essas diferenças do que ao lastro das diferenças de dimensão das economias comparadas.
Para que fique claro:
– pelo que consegui verificar os dados de base não contêm qualquer erro;
– quando utiliza taxas de variação anuais do PIB (medido em preços constantes nas moedas nacionais) e as compara com os valores absolutos (a preços correntes valorizados em moeda comum) para escrever: “Já os 3,1% de Espanha valeram, em termos absolutos, 158.663 milhões de dólares, 28 vezes mais do que os 11,1% de Angola e, agora sim, 8 vezes mais do que o 1% de Portugal.” está a fazer precisamente aquilo que reconheceu no comentário anterior não se poder fazer: comparar níveis absolutos do PIB, ainda que transformados em taxas de variação, com níveis absolutos das variações.
Posso comparar níveis absolutos do PIB com níveis absolutos das variações desde que a métrica seja a mesma. O problema está nas comparações quando se misturam preços constantes e preços correntes, valores em moeda local e em moeda comum. E o problema maior nem é comparar, desde que em paralelo e em termos proporcionais, valores obtidos com duas métricas diferentes, mas as conclusões que se podem tirar dessa comparação. Agora, para mim o mais estranho de tudo isto é outra coisa. Em termos reais e absolutos, o crescimento do PIB espanhol representou, no período em causa, cerca de 20 vezes o crescimento do português. Para esta simples conta nem preciso de saber o valor da variação absoluta do PIB em Espanha e em Portugal. Basta saber que o PIB espanhol é cerca de 6 vezes superior e que cresceu cerca de 3,5 vezes mais do que o português. Esta relação devia ser mais ou menos a mesma trabalhando com os dados do FMI sobre a variação do PIB a preços correntes porque os dois países têm a mesma moeda e, portanto, presumo, a mesma taxa de conversão para dólares, bem como taxas de inflação baixas e próximas para a escala em causa. Porém, segundo esses dados a relação entre o crescimento absoluto do PIB espanhol e a do PIB português é de 8 para 1 e não de 20 para 1. Porquê? Não sei e agradeço esclarecimentos para poder corrigir devidamente o post inicial. A segunda questão que resulta desta discrepância é mais ampla. Comparando, a preços correntes e na mesma moeda, o euro, o PIB espanhol e o PIB português, no mesmo ano, eu sei que a relação é de 6 para 1 (já agora, também é da mesma ordem de grandeza utilizando os dados do FMI a preços correntes e em dólares, o que torna, para mim, mais enigmática a discrepância atrás assinalada). Mas se a conversão em dólares pode ser problemática, como parece ser quando se comparam variações absolutas, como posso medir a relação entre o PIB português e o PIB angolano (ou chinês, ou brasileiro? Como disse, é para mim bem vinda toda a colaboração que permita identificar o conjunto de problemas metológicos implicados mais em pormenor e assim poder corrigir o post inicial. Obrigado pela troca.
Ok. Assim que tiver alguma disponibilidade tentarei dar uma resposta mais detalhada pegando nos dados do FMI. Fica prometido.