Na sequência disto, que tal isto: A disputa pelo poder político deve ser analisada e realizada a um nível bem mais básico e menos imediatista do que o proposto pelo sistema partidário.

Um partido quando muda de lider não o vai contratar lá fora, isso nunca aconteceu até hoje, nem com Cavaco Silva, militante e quadro do partido com experiência aquando da rodagem que foi fazer à Figueira da Foz em meados do anos 80.

Parece-me que o paradigma, por diversas razões além das que aqui refiro, deve responsabilizar as pessoas, na melhor das hipóteses os grupos/facções dentro dos partidos que se atrevam a ir além da congregação de emergência para atacar o poder interno no momento seguinte à queda de mais um líder.

Num país onde dois partidos abarcam tamanha fatia do eleitorado e onde parece haver pouca receptividade que permita um crescimento significativo das restante oferta partidária (existente ou latente), é fundamental que se gerem variantes internas claras, que permitam ao eleitor ser capaz de avaliar o percuso desse grupos e identificar-se ou não com algum deles.

O que está em causa não é gerar-se uma ideologia unificada da "esquerda" ou da "direita", mas antes a criação de bolsas de lucidez e clarificação, pontos de referência que neste momento se encontram demasiado difusos senão totalmente exterminados pelo rolo compressor de uma concepção ultrarestritiva da liberdade de pensamento, expressão e representação democrática no seio dos próprios partidos (a disciplina partidária tem uma abrangência excessiva) e pelo efeito também ele opressor da absoluta prevalência da táctica política sobre qualquer concepção estratégica.

A instituição "partido político", que chegou a justificar-se como garante da existência de uma entidade sobre quem deveria recair a responsabilidade do exercícío do poder, serve cada vez mais para diluir essa mesma responsabilidade, perpetuando aos mesmos actores de sempre com a repetição ciclica dos mesmos "pecados". Parece-me que este é um dos maiores dilemas da democracia representativa portuguesa, particularmente preocupante neste cenário contemporâneo de Felgueirices várias. Um problema que está naturalmente relacionado com a incapacidade dos partidos em cativarem quadros e genuíno "amor à camisola".

Além do rumo certo (acesso à informação + capacidade de análise crítica + capacidade gerar soluções) será sempre necessária uma imensa paciência e determinação. Não é com sofreguidão nem com um permanente espírito de guerrilha que conseguiremos governar este país.

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