O Anibal entrou num supermercado. À porta espreitou a lista de compras:
– Tendas de campanha, colchões de campismo, serviço de pratos, atoalhados, cadeiras, faqueiro e extensão para a mesa da sala de jantar para receber pela primeira vez os vizinhos Europeus – quase tudo a pagar com o dinheiro das prendas de casamento enviadas pelos ditos vizinhos.
Quando de lá saiu trouxe o Centro Cultural de Belém debaixo do braço (talvez o edifício público mais caro da história da república), a então ponte mais comprida da Europa e muitas estradas que lá iam dar. Abriu ainda uma conta corrente com um belo descoberto, junto da banca moderna que ajudou a fundar.
O António entrou num supermercado. À porta espreitou a lista de compras:
– Mobília de sala de estar com piano da melhor marca e tecto falso com projectores embutidos;
– Comprar dinheiro no balcão do banco para pagar a dívida do cartão de crédito relativo à ida do Anibal ao supermercado.
Quando de lá saiu trouxe a casa da música mais cara do mundo, uma muito completa colecção de novíssimos e velhíssimos institutos da pós modernidade e um regimento de novos professores de bem com a vida além escola, todo isto devidamente acomodado, debaixo do braço.
O António e o Paulo entraram num supermercado. À porta espreitaram a lista de compras:
– Sofisticado sistema de vigilância da costa,
– Lanchas rápidas para oferecer à polícia marítima, para esta poder andar a abrir brechas no crime organizado.
– Comprar mais dinheiro no balcão do banco para pagar a dívida relativa à última ida ao supermercado.
Quando de lá sairam trouxeram cada um, um submarino, debaixo do braço.
O António, o José Manuel e o Paulo entraram num supermercado. À porta espreitaram a lista de compras:
– Material de construção para reparar o edificado dos centros históricos;
– Peças sobresselentes para recuperar o sistema de transportes públicos das principais cidades do País e, de caminho,
– Comprar mais dinheiro para renogociar a dívida do cartão de crédito com o caixa do balcão do banco lá do supermercado.
Quando de lá sairam trouxeram dez estádios de futebol e um calote dos clubes, debaixo dos braços.
O Pedro e o Paulo foram a um hipermercado, num Domingo depois de almoço. Quando de lá vieram trouxeram a lista e um prémio de cliente habitual que lhes deu direito vitalício a vales de compras (desde que alguém for pagando o rol de fiado que por lá há).
O José entrou num supermercado. À porta espreitou a lista de compras:
– Comprar mais dinheiro para pagar a dívida do Anibal, do António, do José Manel, do Paulinho e do Pedro para o deixarem entrar no supermercado;
– Comprar uma bebida energética de longa duração que não fizesse mal ao fígado, reduzisse o peso, curasse o reumático, alegrasse da tristeza e fizesse chover.
Quando de lá saiu trouxe duas ou três linhas de TGV, um aeroporto e mais alguns brindes mistério, debaixo do braço.