Duas sugestões de leitura, “Era uma vez um ministro” de Pedro Lomba:
“Eu li e reli o artigo de Campos e Cunha sobre as finanças e a economia. Ainda não percebi como é que um artigo daqueles, que qualquer pessoa pode subscrever, atira um ministro para fora do Governo. Campos e Cunha não disse nada de estranho ou ofensivo. O seu texto resume-se a uma ideia e recomendação a condição das finanças públicas não admite que o Governo faça despesas sumptuárias e investimentos onerosos. Campos e Cunha quis que o Governo percebesse em conjunto esta verdade básica. Um artigo de jornal parece um meio apropriado.(…)”
e “Síntese” de Vicente Jorge Silva”, ambas no Diário de Notícias de hoje:
“(…) Contra a obsessão do défice, que punha em xeque o despesismo guterrista, o PS começou por desvalorizá-la, pondo o acento tónico no crescimento económico. Foi, finalmente, obrigado a confrontar-se com ela, mas sem assumir os custos da síntese entre o saneamento das finanças e a recuperação da economia. Os preconceitos ideológicos e o maniqueísmo político entre o PSD e o PS impediram um esforço básico de lucidez e racionalidade. Se a sombria obsessão do défice mergulhou a economia em depressão, o keynesianismo iluminado da Ota e do TGV ameaça converter-se numa miragem funesta. Continua a faltar uma visão estratégica que produza a síntese entre os recursos disponíveis e as apostas prioritárias. Sem isso, qualquer ministro das Finanças está condenado a ser um lunático ou um masoquista profissional.”
8 replies on “Leituras políticas”
…ele não teria sido despedido por querer acumular o vencimento de ministro e a reforma do Banco de Portugal?
Imaginemos que sim cara Gabriela. Não foi isso que pareceu ,o que é grave, diminuidor da confiança nos intentos do governo e, para todos os efeitos as perguntas/dúvidas que ele nos ofereceu sobre os investimentos públicos (e que António Vitorino hoje repetiu, ver post mais recente) são bem mais importantes para o nosso futuro comum do que os eventuais juizos de valor crítico relativos ao que o senhor estava disposto a perder para servir a república.
Apesar de aparentemente (lendo o artigo do ex-ministro) não haver diferenças substanciais com o que havia sido dito pelo governo, a interpretação distinta que foi dada na imprensa foi sublinhada pela demissão, portanto… «Não é manifestamente a Ota e o TGV que vão criar no prazo de três anos a dinâmica de crescimento necessária», disse Vitorino
Julgo que nunca saberemos a verdadeira razão da demissão do ministro. Foi um erro de “casting” de quem convidou e de quem aceitou o convite. Se a demissão tivesse ocorrido há um mês Sócrates seria um herói, pois, mostrara-se intransigente com uma situação imoral, assim, até parece que o herói é Campos e Cunha (C.C). Tenho para mim que se, de facto,C.C. estivesse muito preocupado com os gastos excessivos da república começaria por dar o exemplo.
Vamos lá tentar dar um passo em frente para não andarmos em círculos: nós estamos preocupados com os gastos excessivos da república?
Qualquer OTA ou TGV são aceitáveis?
E o governo de que forma resolverá o desequilíbrio (a política fiscal manifestamente será insuficiente)? Se sim o que é que se deve fazer? (Além de assumir e/ou alterar os éne regimes especiais da administração pública e afins…)
Vamos lá tentar dar um passo em frente para não andarmos em círculos: nós estamos preocupados com os gastos excessivos da república?
Sim.
Qualquer OTA ou TGV são aceitáveis?
Não.
Qual a solução?
Desde logo aumentar os vencimentos dos políticos acabando, assim, com os esquemas. Premiar a competência e não o compadrio (a ler a crónica de Ferreira Fernandes na Sábado de ontem). Utilizar a máxima: “quem não tem dinheiro não tem vícios”.
O mais importante controle de todas as fugas aos impostos tanto das empresas como dos particulares.
Juntar-lhe-ia uma alteração do sistema de financiamento dos partidos…
Sim concordo com tudo isso. Mas está muito longe de ser bastante para resolver o problema. Onde é que vamos cortar despesas em volume que nos permitam retomar niveis de carga fiscal (sobre o trabalho, sobre o consumo e sobre o capital) que não sirvam de brutal entrave ao funcionamento da economia e que nos permitam ter as contas públicas equilibradas como um hábito e não como uma miragem? Onde é que vamos reduzir de forma permanente o papel do Estado de modo a permitir ao próprio Estado, por exemplo, ter capacidade de intervenção em momentos de crise económica?
O somatório do fim dos “vícios” será muito importante (e polémico porque também terá traços impopulares) mas não chega. No estado actual (e previsto) do desequilíbrio não chega. Teremos de recorrer a medidas bem mais ousadas que terão de alterar a versão actual de Estado que temos. Tudo isto tem carácter de máxima urgência e já passaram mais de 130 dias de governo sem que se perceba onde haverá esta reforma. Apenas mais impostos e mais investimento público mal fundamentado… É fundamental reformçarmos a exigênciia sobre este governo, a última oportunidade de se afirmar como um bom governo para o país está bem mais próximo do que uma legislatura de 4 anos pode fazer supor.
Onde é que vamos reduzir de forma permanente o papel do Estado?
Esta é a questão essencial se tivessemos a resposta para ela tudo o resto seria solucionado. Parece uma frase batida: “menos estado, melhor estado” mas é a solução.
Quanto ao resto a conjuntura não é favorável, o governo está, nitidamente, a ver se consegue provocar daqui para a frente menos ondas até o círculo eleitoral se fechar.
Neste contexto OTA/TGV funcionam como a cenoura para captar investimentos para o financiamento das campnhas (a tal questão dos financiamentos partidários que referiu atrás).
Certo. Já agora, uma cenoura que apodrece as entranhas da democracia colocando os políticos e os partidos sob comando de poderes obscuros e muito pouco republicanos. Haja transparência para sabermos em quem votamos; nem só a falha em cumprir promessas expressas mina a credibilidade da democracia representativa.