I
Nos quase 2000 km de estrada percorridos na Suiça (grande parte em auto-estradas) deu para coleccionar o testemunho de quase todo o tipo de azelhices de condução possíveis: travagens bruscas sem explicação aparente na faixa da esquerda, condução em excesso de velocidade, ultrapassagem (notem o singular) pela direita, atravessadelas directas da entrada para a faixa da esquerda e o inverso por vezes “queimando” contínuos para conseguir sair no sítio desejado, etc.
Em suma, vi em 2000 quilómetros tudo aquilo que em Portugal se consegue ver em apenas cinco a dez quilómetros de autoestrada. Convém sublinhar que vi também o grosso do trânsito a respeitar as limitações de velocidade que iam surgindo (dentro e fora da autoestrada), nunca vi ninguém ser importunado por alguma “bomba” que queria ir a duzentos e que apanha com um carro a 120 na faixa dea esquerda e como disse, apenas uma vez vi uma ultrapassagem pela direita…
No interior das cidades (e passei por várias, bem pelo centro – shame one me!) ouvi buzinar duas vezes, uma em Lucerna para evitar um choque e outra em Genebra num protesto tipicamente impaciente. Por outro lado encontrei faixas para circulação velocipede, devidamente aproveitadas pelas bicicletas, em todas as cidades planas e não planas, históricas ou não históricas.

II
Antes de ontem regressei à condução em estradas portuguesas (centro de Lisboa e A2), quase convencido que não eramos assim tão piores que “eles”*. Pensei assim durante um a dois minutos, até a minha condução adaptada aos padrões Suiços, particularmente no que se refere ao cumprimento dos limites de velocidade, começar a ser notada pelos restantes condutores. Chegado à auto-estrada a diferença é, de facto, abissal. Quando acima sublinhei as azelhices vistas na Suiça não fica expressa a diferença na frequência e no grau de perigosidade associada às que se encontram por cá. Ainda é extremamente perigoso tentar cumprir as regras de trânsito neste país, ou mesmo, conduzir em cima da margem da lei. Se as estatísticas nos dão alguma esperança recente é bom que não nos iludamos no caminho que ainda temos por percorrer.

III
Hoje enquanto peão acompanhei durante algumas centenas de metros o percurso automóvel típico do pára-arranca no interior da cidade. E mais uma vez fique pasmado como em apenas 10 dias de ausência ganhei sensibilidade a tantos comportamentos absolutamente típicos do quotidiano. Desde a situação em que do terceiro carro da fila para trás se buzina freneticamente porque o verde já caiu, passando pela ameaça de atropelamento iminente com que alguns condutores se exprimem na forma como vão deixando descair o carro para cima das passadeiras de peões quando o verde e o vermelho ainda estão bem aptos na orientação do trânsito, até à imensa poluição, a brutal poluição atmosférica, visual e sonora que apenas parece encontrar ligeiras semelhança Suiças em cidades como Genebra e Zurique.

IV
O que esta saida ao estrangeiro teve de diferente foi precisamente o meio automóvel, nunca antes me havia aventurado tanto pelo centro da Europa com um carro na mão. Vim de lá com vontade de regressar a casa, sem ilusões bacocas sobre a “superioridade” absoluta do que é de fora (como descreverei possivelmente noutros textos, porque a Suiça… é a Suiça) mas chego aqui ao blogue tentando conter alguma revolta assente na constatação da responsabilidade excusivamente humana sobre as porcarias com que vamos convivendo neste nosso canto.
É triste ter de ir lá fora para sofrer destes ataques de consciência.

* Os “eles” referidos não são exclusivamente os suiços note-se. Neste país e nas estradas por onde passei era muito frequente cruzar-me com trânsito fronteiriço da Alemanha, da França, da Itália, da Ã?ustria e também da Holanda, da Bélgica e do Luxemburgo.

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