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Palavras dos Outros

Sobre o referendo: nem mais!

“(…) Não se percebe porque não ficou resolvido o problema na recente revisão constitucional (a nossa Constituição proíbe que tratados sejam objecto de referendo). Ou porque não se pergunta simplesmente se concordamos, ou não, que o Parlamento aprove o tratado. Assim, discute-se a pergunta e não o tratado.

Tudo isto é lamentável. Os referendos são instrumentos limitados de auscultação da vontade popular. Muitas vezes as pessoas não ligam à pergunta colocada, mas decidem-se em função de outros factores – como mostrar apoio ou desagrado ao governo. Apesar disso, e nunca tendo sido referendada em Portugal a opção europeia, justifica-se agora um referendo para legitimar plenamente a nossa participação na UE. Por mim, já disse que votaria «Sim» ao novo tratado constitucional. Mas, para ter sentido, o processo referendário implica um bom debate sobre a integração europeia, que ainda não começou. E uma pergunta razoável, clara, sem habilidades indutoras da resposta.”

Francisco Sarsfield Cabral

Resta saber se virei a ter oportunidade para dar o meu “sim” ao tratado. Com esta pergunta e este método claramente não terei. Mas a história ainda não acabou, longe disso.

One reply on “Sobre o referendo: nem mais!”

Apelo à indignação cívica: a favor da Europa ou contra a Europa, mas jamais de cócoras…

Uma certa classe política em Portugal, talvez por se contemplar excessivamente ao espelho, continua a agir na aparente pressuposição de que os portugueses, rebanho fácil, aceitam tudo e são estruturalmente incapazes de um gesto colectivo de denúncia da estupidez e de revolta cívica.
Os deputados dos partidos da maioria conjuntural que nos vai desgovernando, aliados aos do principal partido da oposição, decidiram desafiar, com uma pergunta idiota para um referendo faz-de-conta, a inteligência dos portugueses.
Se, perante a ofensa, não nos indignarmos, a nossa cumplicidade pelo silêncio será seguramente interpretada como a definitiva confirmação de que, neste país, vale tudo e que os portugueses são, de facto, um povo que não merece mais do que um açaime e uma coleira.
Como me recuso a figurar na fotografia dos idiotas, apelo a todos os bloguistas e a todos os concidadãos que ainda não se deixaram sepultar em vida que, colectivamente, digam NÃO a quem persiste em querer tratar-nos, politicamente, abaixo de cão.
Apelo apenas, por isso, à indignação. Cada um saberá exprimi-la à sua maneira e da forma que entender mais adequada. Milhares de vozes a dizerem NÃO terão, seguramente, um impacto avassalador sobre a trafulhice referendária que nos espreita.
Esta não é uma causa de esquerda ou de direita. É uma causa da inteligência e do bom senso, os derradeiros atributos que nos restam.
A favor da Europa ou contra a Europa, mas jamais de cócoras.
Conto consigo para passar a palavra e o testemunho.

19 de Novembro de 2004
Ademar Santos, português por extenso

abnoxio.blogs.sapo.pt

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