Comemoram-se este ano duas efemérides relativas a António Variações. 60 anos do nascimento, 20 anos da morte.
“Canção do Engateâ€?, “Sempre Ausenteâ€?, “É P’ra Amanhã…â€?, “Estou Alémâ€?. Tinha menos de 10 anos quando ouvi e cantarolei – geralmente com a minha mãe – estas músicas de António Variações que entravam lá em casa via Antena 1 e Rádio Comercial.
Porquê o sucesso de então e principalmente o de hoje?
Talvez pelas letras que nos encaminham para uma inevitável identificação com estados de alma por que quase todos passamos em algum momento da nossa vida (todo o adolescente “Está além…â€? ), talvez pela alegria e pelo optimismo que quase sempre suplantava o sofrimento fadista, talvez pelo carácter absolutamente pop das melodias, talvez pela irregularidade/diversidade da sua música (do pré-pimba à canção intimista), talvez pela voz…

Foi com a sua morte que se falou pela primeira vez de Sida em minha casa e na casa de muitos portugueses – talvez algo parecido com o que no Brasil viria a acontecer de forma inequívoca com Cazuza – e foi também uma das primeiras memórias que tenho da morte de alguém “conhecidoâ€?. A sua passagem pela música portuguesa foi fulgurante e infelizmente terminou demasiado cedo, mas a herança, ainda assim é substancial e é um gosto recordá-la!

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O Citi Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Nova de Lisboa veio ajudar a colmatar a falta de informação sobre a vida e obra de António Variações, disponibilizando um conjunto de páginas que versam sobre aspectos biográficos importantes para enquadrar Variações e o Portugal de então. A sua homosexualidade, a sua forma ousada de se apresentar a um país pleno de preconceitos e pudores e a sua morte envolta na suspeita de estar infectado com SIDA, contribuindo para dar a conhecer a doença ao país fazem da sua história de vida um marco importante do Portugal do início dos anos 80.

A sua música, as letras intimistas e satíricas estão aí para se ouvirem pela sua voz ou pelas versões que se têm sucedido. Cheias de actualidade, pelas melhores e pelas piores razões.

Excerto de:
Estou além

Não consigo dominar
este estado de ansiedade.
A pressa de chegar
para não chegar tarde.

Não sei de que é que eu fujo,
Será desta solidão?

Mas porque é que eu recuso,
Quem quer dar-me a mão?

Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só quero
quem eu nunca vi
Porque eu só quero
quem não conheci.
(…)”

António Variações

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