Segue texto do Sérgio.

Rui,
Tenho andado nas duas últimas semanas arredado da internet (trabalho e outras preocupações consumidoras de tempo) e por isso ainda não tinha lido as entradas sobre moral no teu blog.

Se não interpretei mal, ouve alguém [o timshel] que disse que a moral resultava da religião pois esta impunha-a (Sem uma referência a um direito de origem divina não é possível nenhuma fundamentação teórica válida de uma obrigação moral absoluta). Para mim, esta é uma visão muito aterradora pois jamais atribui um papel emancipado ao ser humano (não se acredita nas capacidades do ser humano).

Falando agora de matemática. Um blogger sentiu a necessidade de matematizar esta questão. Excelente ideia pois ela é a linguagem universal.

Acho que a moral pode ser explicada pela teoria de jogos!


Se todos colaborarem os ganhos são maiores para todos. Mas se alguns não colaborarem os ganhos para esses serão maiores do que para os restantes (esta característica é que origina os desfavorecidos, os criminosos, em suma, os males de uma sociedade).
Devido à impossibilidade (talvez por imaturidade em termos evolutivos da espécie) de, per si, os membros da sociedade cooperarem (ou de se aperceberem das vantagens de um jogo cooperativo), foi necessário à espécie humana “inventar” a religião para forçar esse jogo cooperativo. A recusa à cooperação resultava na condenação eterna (e antes disso, a condenação social – nada é pior para um indivíduo de uma sociedade que ser rejeitado por ela).

Para mim a religião é um instrumento que “incentiva” o jogo cooperativo. Como é um intermediário, logo introduz ruído no sistema (não é perfeita). Os não crentes são aqueles que, tendo-se apercebido das vantagens de um jogo cooperativo, dispensam o “intérprete”, pois ele contém imperfeições (i.e., pode ser manipulada distorcendo, impedindo a obtenção de uma solução óptima num jogo cooperativo). Todavia, continuam a partilhar a mesma moral (a da sociedade que integram). É por isso que podem viver, mesmo não acreditando em Deus e que devem ser admirados pois também praticam o bem!

Uma implicação directa deste raciocínio é que a moral aparece antes da religião. Por exemplo, a norma “não matarás”. Se andássemos a matar-nos uns aos outros jamais teríamos estabilidade e jamais poderíamos evoluir (condição primordial da natureza), através da cooperação entre sujeitos.
Assim, a moral (como conjunto de regras de conduta) existe para possibilitar a convivência em sociedade. Sem ela qualquer sociedade desagregava-se.

Isto implica que a moral emana da sociedade, através da maior ou menor percepção que os indivíduos dessa sociedade têm do jogo cooperativo (esta afirmação poderá ser uma explicação para a necessidade de o homem criar hierarquias – aqueles que têm maior percepção tornam-se líderes da opinião e conduzem a sociedade para o óptimo cooperativo).
“Não matarás” é uma norma porque através das regras de um jogo cooperativo, os indivíduos chegaram à conclusão que isso seria o melhor para todos! Mas, se por uma razão desconhecida (factor exógeno à sociedade), os “pagamentos” do jogo cooperativo se alterassem, esta norma poderia desaparecer. Daqui se conclui que a moral nunca é absoluta pois ela depende sempre da sociedade e do seu jogo cooperativo. Aliás, esta conclusão (nada é absoluto) vai de encontro à filosofia que emana da teoria actual da física (teoria da relatividade).

Quanto à questão da tolerância, neste meu raciocínio, é o mesmo que cooperação!

Sérgio

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