Era Sábado, regressávamos inesperadamente à Benquerença para velar o meu avó Manuel falecido na sexta-feira santa. Apagara-se ao fim de quase 82 anos e após longos anos de sofrimento e invalidez num corpo e mente de quem se construiu a si próprio. O pior dos destinos para qualquer self-made man. A morte viera-lhe como um favor e era com isto em mente que entravamos no concelho de Penamacor vindos de noroeste.
É curiosa a fronteira noroeste do Concelho, há um pedaço do Fundão entalado entre a Covilhã e Penamacor. Não há placas limítrofes a avisar mas há um estreitamento impressionante da faixa de rodagem. Para quem percorre aquela estrada, o Fundão é um garrote que parece evitar o namoro da grande serra da Estrela com o vale da Malcata, onde nasce a cova da beira…
Foi pouco depois de regressarmos a estrada digna desse nome que nos surgiu no meio da via a ovelha e o cordeiro recém nascido. Titubeava ainda o nascituro.
Não havia rebanho à vista, apenas algumas terras cercadas. À nossa frente, parado, um jipe de onde saiam dois curiosos como nós. Saiam do carro coçando a cabeça. Impávidos, mãe e filho permaneciam estacados na estrada como estátuas, apenas a cria dava sinais de vida tremendo largamente. Ali ficámos alguns instantes reverenciando talvez o único milagre incontestável (matrixs à parte).
Avaliada a situação, seria?, as ovelhas afastaram-se finalmente da estrada metendo por caminho de terra batida. Houve então tempo para a fotografia…
Por detrás da cerca a que levava o caminho, iniciou-se uma corrida ligeira de pequenos cordeiros aparecidos sabe-se lá de onde que vinham cumprimentar o mais novo que esperava de fora. E não pensem que atribuo sentimentos aos animais… Espreitem a outra fotografia…
Chegou então a pastora, de pick up, repondo a ordem naquele caos, terminado a privacidade estrita e integrando a família.
Nós partimos para uma última homenagem de alguma forma confortados pela demonstração do grande esquema das coisas.