São tantas as toneladas de história, de maus pensamentos, de intrigas, de ódios, de morte, de sofrimento, que de certeza alguém ficará incomodado com as minhas palavras. Há uma brutal hipertrofia dos sensores da pele entre muitos. É compreensível, mas há um limite. Há um ponto onde a compreensão tem de ser substituida pela indignação, pela absoluta denúncia da irreversibilidade do destino quando só cultivamos a expectativa do sofrimento e mais não fazemos do que tentar descobrir de onde ele virá, apontando-lhe uma arma vingadora.
Imaginem que um judeu, o rabino dos judeus de Jerusalém tinha efectivamente contribuido com as suas palavras para uma decisão muito grave (a da cruxificação de Jesus Cristo) da qual os Romanos “lavaram as mãos”.
Imaginem que um qualquer detective com máquina do tempo construía um caso baseado em irrefutável prova entre a causa e o seu efeito, entre as palavras do representante máximo dos judeus de Jerusalem e a morte daquele que para muitos é o filho de um Deus, ou melhor, de Deus.
E então? Vamos caçar Judeus hoje porque ELES SÃO CULPADOS?!?!?
E o que nos dizem as escrituras sobre o cordeiro que veio retirar o pecado do mundo? O pecado do mundo resume-se a um “Que morra!” proferido por algum judeu ou por algum romano, dirigido ao ungido?
Alguém teme estes argumentos como mobilizadores de algo que não tenha já outros fundamentos mais profundos? Serão estes argumentos que libertarão um “Afinal foram MESMO eles?”
Era bom que tudo se resolvesse com um par de tabefes bem aplicado aos meninos que tanto se desunham para manter ódios passados. Meninos que tão bem gastam as suas vidas em minuciosos policiamentos. Era muito bom. Uns levavam porque adivinham e adivinharão todos os dias presentes e futuros a perseguição singular em qualquer sombra, outros porque, no mínimo, vão pensando que se eles temem é porque se calhar são capazes de dever ou ainda porque, igualmente perdidos, vivem para multiplicar as sombras de que eles próprios são também cativos…
O paternalista ateu, ou herege, ou agnóstico, ou lá o que eu sou, oferecer-se-ia de bom grado para trancar por um dia todos os Deuses a sete chaves (os teológicos e os outros, todos os geradores de tenebrosas paixões) e obrigaria judeus, árabes, muçulmanos, cristãos e demais elementos das diversas infantarias, a passarem as horas a olhar uns para os outros. Quantas justificações desapareceriam, quanta luz descobririam no rosto do outro?
Em nome de Deus…
Até prova em contrário recuso o desmerecimento que me imputam em falar Dele. Não posso falar Dele porque para mim Ele não existe?
Tementes (servidores?) do pecado: há pecados muito maiores do que este!
(Alguns textos recentes lidos na blogoesfera sobre este(s) assunto(s):
A “Paixão” de Mel Gibson
Novo Antisemitismo? As Novas Faces do Mais Antigo Ódio do Mundo
AMOS OZ
Novo Antisemitismo 2)