A propósito da pergunta ali debaixo (Quão importante é saber se o nosso Fernando Pessoa alguma vez na vida got laid?)a Cláudia teve a paciência de passar para escrito o que já lhe tinha ouvido… em melhor. Fica a pérola para eventual discussão:
«O António Lobo Antunes disse uma vez (ou eu é que só ouvi uma vez) que não podia admirar o Fernando Pessoa por ter morrido virgem.
Compreendo que para um psiquiatra provavelmente de formação Freudiana isto seja algo inadmissível, uma falta de realização do ser humano. Ou…então sublimou o desejo para a poesia e fez ele muito bem 🙂
Octavio Paz (El desconocido de sí mismo, em Cuadrivio) constatou que na obra poética de Fernando Pessoa a ausência da mulher é constante:
“Faltam nele os prazeres tremendos. Falta a paixão, aquele amor que é o desejo de um ser único.” Tanto Alberto Caeiro como Ricardo Reis falam como eunucos, como se estivessem encobrindo, na maior parte da obra, a “sexualidade branca” de Fernando Pessoa, que, segundo consenso geral, morreu virgem. As cenas eróticas do Fausto contêm as confissões mais ardentes que Fernando Pessoa jamais fez sobre sua impotência. A incapacidade de praticar o “contato carnal das almas” impedia-o de realizar o seu sonho de amor (“Seria doce amar, cingir a mim,/ Um corpo de mulher, mas fixo e grave / E feito em tudo transcendentalmente, / O pensamento impede-me…”)
Eu tenho curiosidade sobre a vida dos escritores que gosto. Se sei alguma coisa da vida de um escritor que me desagrada antes de ler um livro, fica logo tudo estragado…(Hemingway e as touradas *suspiro*)…
Já o Pessoa, parecia ter uma vida desinteressante. Pelo menos no aspecto exterior, interiormente tinha aquela gente toda a largar poemas cada um para seu lado.
Quando vejo algum homem de bigode, feio, a beber um copito e a rabiscar em papéis penso: o Pessoa devia ser assim. Sempre no seu copito de aguardente, com um ar atadito, com ar de empregado de escritório. E depois saía de lá um poeta, ligações obscuras a maçonarias e a rosa-cruzes e cartas ao Crowley.
De qualquer maneira, apesar de eu gostar de saber não me parece importante saber os pormenores sórdidos da vida de alguém para poder apreciar o seu trabalho.
Mas é difícil. E se o Hitler tivesse pintado alguma coisa de jeito em vez daquelas aguarelas da treta? Era uma chatice.“»