O Henrique Agostinho e o João Miguel Vaz tem sabido manter um animado, educado e estimulante debate sobre várias vertentes do problema da reciclagem que tenho tido o prazer de promover no Adufe.
O João tem um referencial de exigência elevado, cultivado pela sua vivência num país onde a reciclagem é há muito tempo uma actividade aceite e generalizada (Alemanha); o Henrique tendo algum poder de influenciar directamente o que se faz por cá via Sociedade Ponto Verde, contacta com uma realidade alguns passos atrás do que se faz, por exemplo, na Alemanha.
Têm procurado encontrar um equilíbrio, confrontado conhecimentos, verificando ignorâncias. E julgo que têm tido algum prazer em esgrimir argumentos e em saber que contribuem um bocadinho para por outros a pensar (nem que seja este que vos lê e agora escreve).
Basta de conversa, em resposta ao texto publicado há algumas horas aqui no Adufe de autoria do João Vaz (Incineração, estudos, a Quercus e as eternas cinzas das centrais), o Henrique Agostinho oferece-nos algumas reflexões e esclarecimentos adicionais em seis pontos distintos:
1. A Incineração
2. O Tribunal Europeu
3. Será a incineração má
4. Quanto custa separar
5. Reduzir
6. Quercus
Segue-se o texto.
NOTA: se quiser saber mais consulte os textos da categoria “Ecologia e Natureza”
Bom dia!
É-me fácil conceder que não sei qual é a melhor solução para os RSUs.
É-me fácil conceder que não estou preparado para tomar o tipo de decisões necessárias à condução do SIGRE. Tão fácil que eu sou apenas da “comunicação” existem, aqui na SPV outras competências e outros profissionais muito melhor preparados, por isso é que são eles que negoceiam a licença com o INR e as contrapartidas com os SMAUTs e, já chega de letras.
Se insisto em falar de “levar as pessoas a separar” é porque esse é o meu trabalho, essa é a minha função. É isso que tenho de conseguir. Para o restante, para as “grandes decisões do plano do lixo”, existem pessoas devidamente capacitadas que tomam as decisões e me fornecem a informação relevante.
A incineração – Não cabe à SPV fazer juízos de valor sobre a incineração. A SPV tem uma licença, uma obrigação associada à licença e cumpre-a.
Se nos perguntam quanto custaria fazer a caracterização dos resíduos a enviar para incineração a gente convém que saiba responder. Se o INR acha que a SPV deve controlar as quantidades enviadas para incineração, a SPV tem por obrigação corresponder.
A SPV é uma das poucas instituições pragmáticas no ambiente, mas para as organizações ambientalistas parece que não há fazer bem. É-se sempre culpado. Qual é o mal de fazer umas contas? Não é uma pergunta retórica.
O Tribunal Europeu – Não estamos a ignorar o tribunal, estamos a dizer que “enquanto essa decisão não for reflectida na lei portuguesa, aguardamos”. A decisão do tribunal é para cumprir, mas para cumprir essa decisão é preciso esperar que o parlamento europeu reveja a directiva. Isso é que é o pormenor, é chato, é legalista, pois é, mas o Tribunal Europeu não tomou uma decisão “moral” (nunca toma) tomou uma decisão legal apontando que “tal como a lei está a incineração dedicada não conta”.
Então, o Parlamento Europeu vai rever a lei.
João, vá por mim, aposto que este acórdão do Tribunal Europeu não vai chegar a fazer lei. Depois do que os estados gastaram nas inceneradoras!
É a vida! O que não quer dizer que eu fique contente, nem triste, é algo que me ultrapassa por completo.
Será a incineração má – Consta que sim, mas também há quem defenda (com “factos”) o contrário. A incineração do papel é razoavelmente claro que é uma má opção. A incineração do plástico não é claro.
Quanto à comparação com o petróleo, queimar 1 Ton de plástico é pior do que 1 Ton (assumindo que são iguais) mas no grande esquemas das coisas, evitar queimar 1Ton de plástico não evita que se queime 1 Ton de compostos complexos derivados do petróleo, porque o petróleo é, 99% para queimar.
A participação da SPV na incineração é a de pau mandado. Obedece ao INR que obedece ao Ministério que obedece ao Parlamento que obedece ao Parlamento Europeu que obedece ao Tribunal Europeu. E como quem conta um ponto acrescenta um ponto, quando a ordem chegar à SPV palpita-me que vai chegar bastante limada! E não é por “culpa” do governo português, há muitas incineradoras fora de Portugal.
Quanto custa separar – Isso é fácil. De acordo com as tabelas impostas pelo INR (os municípios dizem que é pouco, os recicladores dizem que é muito, é como os ordenados, pra quem recebe é baixo) são os seguintes (versão simplificada)
– Recolher selectivamente uma tonelada de (Material) fica mais caro do
que recolher o lixo normal em:
Plástico (685 euros)
Papel (53 Euros)
Vidro (30 Euros)
É dinheiro! Se reparar-mos que em Portugal há cerca de 1200 mil
toneladas de resíduos de embalagem por ano… é caro recolher não é?
Reduzir – A SPV não tem licença para agir na Redução nem na Reutilização. Se são necessárias medidas que imponham a redução de resíduos de embalagem essas medidas tem que ser previstas primeiro na lei. No entanto temos direito de opinião, tanto a SPV como eu, e esta é a minha opinião. Quando apenas se recicla 20% das embalagens (menos) a prioridade absoluta é aumentar a reciclagem, o resto, os outros Rs são para os alemães que já reciclam 70% (começaram muito mais cedo).
Quercus – Fui mauzinho. Na outra mensagem estava bastante aborrecido com as acusações da Quercus e a manipulação dos factos. Tive de andar a correr a tentar apagar o fogo (que é um trabalho pouco gratificante, os bombeiros, mesmo quando trabalham bem, deixam sempre algo queimado) isto porque a Quercus empolou completamente um detalhe. O que é apenas um estudo (umas contas para saber quanto custa) chegou à imprensa como se houvesse crime, dano, corrupção e andássemos a mandar malas cheias de dinheiro para a fogueira. O pior é que, assim que o assunto era esclarecido, deixava de ser notícia, logo, apenas foi publicado (excepto no
Publico) a parte tabloide da notícia.
Abraço
Henrique