(I/II)

Uma noite, à porta de uma discoteca, dois árabes muito muçulmanos (do Barhein), empunhando as respectivas Coca-Colas, discutiam afavelmente as diferenças dos respectivos mundos com um punhado de estrangeiros de diversas nacionalidades, portadores de cerveja, nos quais me incluía. Um estranho e feliz grupo que a globalização quis juntar em Espanha sob o patrocínio de uma multinacional americana.
A dado momento comentavam-se os regimes políticos. Os árabes defenderam as vantagens da monarquia ao que foram secundados pelos britânicos e espanhóis de serviço e contraditados pelo portuga e pelos italianos. Os monárquicos alegraram-se quando revelaram a transversalidade da importância histórica da monarquia.
Passou-se então para a religião e no pequeno punhado de gente à conversa havia quase de tudo. Faltavam um judeu e um budista para termos um digno lote de embaixadores. Mas havia, muçulmanos (sinceramente não sei de que orientação, é ir ver à enciclopédia na entrada Bahrein), havia hindus, havia cristãos para todos os gostos e havia eu.
Naquele momento em que revelei que não acreditava em Deus recaíram sobre mim pelo menos dois tipos de veredictos. Por um lado o de alguns ocidentais de pouca fé que condescendiam na minha opção (talvez por se sentirem perto dela). Por outro lado, a dos crentes fervorosos: um protestante (já não me recordo de que país nem de que igreja) e os muçulmanos. Foi contudo a frase de um dos amigos do Barhein que melhor sintetizou os olhares que me lançava este último grupo.
Mas se não acreditas em Deus como podes viver?
O peso do céu estrelado e do quarto crescente aumentou subitamente e a conversa terminou por ali assim como as bebidas.

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