- O grau de fragilidade da economia portuguesa face a ventanias na economia internacional é enorme, talvez mesmo maior do que nunca desde que entrámos na União Europeia. Os últimos anos não contribuíram para que a situação melhorasse, muito pelo contrário. Qualquer agitação externa pode destruir rapidamente as condições de sustentabilidade financeira do país sem que possamos internamente garantir proteção. O mesmo se aplica a outros parceiros nossos, dentro da União. Garantir um período de estabilidade económica na Europa é crucial, tal como será crucial eliminar rapidamente desvantagens competitivas que a nossa economia enfrente face aos seus próprios parceiros, desvantagens essas que só parcialmente podem ser resolvidas internamente.
- Uma mudança de estratégia e tática no posicionamento de Portugal no seio da União Europeia e da Zona Euro é condição necessária para que, a prazo, possamos ter um alinhamento aceitável entre o interesse e necessidades nacionais e a participação empenhada num projeto europeu. Contudo, não é realista esperar que os ganhos de curto prazo sejam significativos. Em particular, pouca margem de liberdade adicional na vertente orçamental deve ser esperada, ainda que faça sentido que seja reclamada e, se conquistada, utilizada.
- Apostar a prazo, numa reforma que torne a União um espaço mais consciente das suas interdependências e mais preparado para reagir a dificuldades globais ou específicas dos seus membros implicará, a curto prazo, o respeito pelos constrangimentos orçamentais que ainda estão em vigor e que, segundo os acordos atuais, serão crescentemente exigentes nos próximos anos.
- Respeitar esses constrangimentos não implica manter a atual política económica, as atuais opções orçamentais, a atual forma de alocação de recursos e de repartição de captação de rendimentos e sua redistribuição. Implicará, contudo, que, no final das contas, introduzidas as prioridades que venham a ser definidas por uma nova política, o orçamento esteja o mais equilibrado possível e alinhado com os constrangimentos que aceitámos, com a liberdade adicional que consigamos ou não negociar entretanto.
- A legitimidade de perguntar onde se vai compensar um aumento de despesas localizados ou uma perda de receita localizada associada a algum compromisso político que o PS assuma desde já existe e é útil para estruturar uma alternativa credível. Conseguir responder à pergunta indo além de apontar uma contrapartida pontual perante um compromisso pontual é desejável e implicará ter uma ideia global de um orçamento base, ainda incompleto, mas suficientemente robusto tecnicamente para poder ser compatível com algum grau de ajustamento que as alterações conjunturais possam exigir. A novas prioridades fundamentais podem e devem corresponder opções fundamentais a nível orçamental que sejam compatíveis. A uma divergência fundamental face a alguma linha de rumo decisiva no orçamento de estado de 2015 pode e deve corresponder uma alternativa “caso o PS estivesse no governo”. Se o PS não estiver preparado, ainda, para a assumir, deve refrear-se em tomadas de posição avulsas com impacto orçamental.
- Este é o tempo de começar a propor um novo horizonte político e de preparar e aceitar as inevitáveis críticas que o comprometimento político gerará. Este é o tempo de se ser ousado, abandonar a “política do costume”, mesmo e particularmente na forma de captar votos. As alternativas face à disputa política que se adivinha e à experiência política recente em vários países europeus são, ou claudicar à perspetiva de que há apenas uma forma de gerir o dinheiro do Estado (revelada no dia seguinte à tomada de posse ou pouco depois e após uma campanha pouco mais do que voluntariosa e crítica do status quo), ou tentar combater o populismo com as suas próprias armas. Algo que raramente é feito melhor do que pelos próprios populistas e que nunca terá sustentabilidade política e viabilidade económica e social no futuro, nem tão pouco correspondência à matriz do PS.
- Com ou sem maioria, chegar ao pós-eleições com uma identificação clara entre os eleitores e o partido quanto a quais sãos as opções e prioridades do PS será um ativo inestimável para a governação que se adivinhará particularmente difícil, seja qual for a conjuntura económica e política, internacional e nacional.
- Discutir a reestruturação/renegociação da dívida pública e privada é vital para que não se perca o enfoque sobre a natureza da atual crise e sobre a responsabilidade coletiva, no seio da União Europeia, para a sua solução duradoura. A economia é um sistema integrado e mais assim é quando várias economias partilham um vasto conjunto de leis comuns, um sistema financeiro, uma moeda e aspetos civilizacionais fundamentais. A Europa tem de perceber que se se quer projetar no futuro como um parceiro mundial relevante será sempre tão forte quanto o seu elo mais fraco, estejamos a falar da escala social, económica, política ou mesmo militar. Globalizar e integrar as economias implica responsabilizarmo-nos pelas ações políticas, lidar coletivamente com as consequências e preparar o futuro de forma partilhada, em democracia.
- Discutir a reestruturação/renegociação da dívida será também crucial para que, na eventualidade de um grave bloqueio político e institucional na União, eventualmente patrocinado por um agudizar da situação económica mundial, Portugal tenha perfeita consciência e capacidade para se posicionar na defesa do nosso melhor interesse. Se tudo o que tiver de correr mal, correr, ainda assim será preciso garantir o menor sacrifício possível e as melhores perspetivas de futuro possíveis. Preparar esse plano de contingência de forma participada e consciente, com o envolvimento e conhecimento do maior número possível de cidadãos é um ativo perante a adversidade vindoura e não o contrário.
- Nunca em tão pouco tempo se pediu tanto e com tão escasso exemplo externo de um bom caminho a seguir. É essa dimensão do desafio.
Tag: PS
Tudo volta a fazer mais sentido…
Imaginem um indíviduo que passou quase toda a sua carreira política a disputar internamente, no seu partido, o poder. O adversário era sempre o seu companheiro ou o seu camarada. Era sempre esse que se lhe opunha ao seu objetivo. Os políticos de outros partidos ou eram irrelevantes para a contenda interna ou eram inclusive aliados partilhando com ele o inimigo comum.
Imaginem que um dia essa pessoa chega a uma posição na qual o adversário interno foi vencido e tem de se dedicar exclusivamente a opor-se àqueles com quem até ali, mais ou menos publicamente, tinha partilhado argumentos contra o adversário interno.
A tarefa adivinha-se difícil, até porque a narrativa dos agora adversários fora por ele partilhada durantes anos a fio e resumia-se a simplisticamente eleger como único culpado dos problemas em debate o seu antigo rival interno.
Ah que saudades de se poder virar contra o seu adversário habitual, o companheiro ou camarada que tantas vezes conseguira superar. E que energia ele recupera quando precisamente, perante a ineficiência da oposição aos adversários de outros partidos, o adversário interno ganha ânimo e volta a dizer presente e lhe disputa o poder. Tudo volta a fazer mais sentido, a genica perdida que alguns nunca viram publicamente ressurge e uma sensação de vitalidade preenche-o e enebria. Tal como nos bons velhos tempos…
Fim.
O que fazer no dia 29 de setembro?
Hoje acho que o atual SG do PS dará um péssimo PM. No dia 29 de setembro de 2014 não vou ter uma opinião diferente. Convenci-me disso durante estes últimos cerca de dois anos, não é propriamente algo que mude num estalar de dedos ou numa noite eleitoral. Se a convição não fosse tão forte, talvez o dia seguinte me fosse mais simples mas no caso, pessoalmente, há pouco a fazer.
Se a maioria dos militantes e simpatizantes do PS escolher aquele que acho será um péssimo PM para o país para concorrer às legislativas pelo meu partido tenho duas opções. Aceitar democraticamente a escolha e respeitar os estatutos do PS ou não aceitar e ir à minha vida. Em todo o caso garanto que manterei os níveis de hipocrisia em valores compatíveis com o meu amor próprio, de que esta breve prosa é aliás uma pública promessa. É simples. Qual é o drama?
Até lá há uma campanha pelo melhor para o país e para o PS em que faço questão de me envolver. Tenham uma boa semana!
“Seguro apela a inscrição nas primárias contra a corte de iluminados de Lisboa” Jornal de Negócios
Eu sou pela inscrição nas primárias a favor de um país inteiro. Para que a política suba de nível. O urbano iluminado que há em mim entende-se perfeitamente com a raiz rural que muito prezo, raizes lá de Penamacor, vejam bem.
Eu vivo numa tensão pacífica e, espero (procuro), profícua. E tu? És do contra? Para termos alguém a colocar portugueses contra portugueses podemos deixar ficar o governo que lá está.
Tenho tentado apurar entre amigos, familiares, conhecidos, colegas de trabalho, gente que vota, não vota, é de esquerda e de direita quantos é que acreditam que o atual SG do PS é a melhor aposta do partido para conseguir o melhor resultado eleitoral nas legislativas e o melhor para governar o país.
Rapidamente me falam de António Costa e a maioria que o prefere e lhe reconhece vantagens consideráveis face a António José Seguro é esmagadora em todos os estratos da minha amostra pessoal. A reação à pergunta é por vezes de incredulidade (particularmente entre os jovens adultos): como se isso fosse sequer matéria de dúvida.
Fica o registo. Procurarei atualizar daqui a umas semanas.
Propor mexer no número de deputados logo após as eleições em que os partidos do bloco central tiveram das mais baixas votações de sempre e admitindo como hipótese que os 180 deputados remanescentes sejam eleitos em circulos uninominais (onde só os votos do partido mais votado serão considerados) é uma opção justamente criticável por quem vê nisto uma tentativa de passar a ganhar na secretaria afastando o voto real cada vez mais da percentagem de deputados eleitos por partido.
Onde está aqui a enorme preocupação de aproximação aos eleitores?
Com a ameaça de surgirem novos partidos, reduzir o parlamento em 50 deputados e introduzir formas adicionais de distorção de proporcionalidade é, objetivamente, uma chapelada.
Há muitas formas de reduzir o número de deputados e ainda assim manter ou mesmo reforçar a proporcionalidade a nível nacional. A nível regional é que tenho mais dificuldades em defender a minha proposta de redução, mas talvez com 201 deputados se encontrasse uma solução equilibrada. Agora não é sequer essa hipótese que está em cima da mesa com mais uma proposta feita esta semana pelo PS.
I
E que tal as primárias Rui? Tu até és fã?
Dava jeito, logo para começar, que em Portugal a figura de candidato a Primeiro Ministro tivesse algum reconhecimento eleitoral de facto e constitucional (já agora). Imaginem que o candidato entretanto eleito PM morre, como se resolve? Espera-se pelas primárias dentro do partido mais votado? E vota-se de novo em eleições gerais?
O que me parece é que isto foi tudo feito em cima do joelho, colado com cuspo e usado instrumentalmente no meio de uma crise.
Tudo bom para correr mal e destruir o potencial de uma boa ideia.
Uma enorme falta de tino aliada a um aguçado sentido de autopreservação não costuma dar bom resultado.
O dia seguinte será ainda mais difícil.
II
Acabei de ver a entrevista (de A.J. Seguro a Judite de Sousa).
Seguro é muitas vezes melhor, mais aguerrido, mais cheio de genica, um verdadeiro gineto, a batalhar contra adversários internos do PS do que a zurzir contra o governo. Ai lembra-se de colocar como compromisso para um novo contrato de confiança coisas como “permanecer na NATO”.
Mas não há impasse nenhum, em setembro, outubro, novembro ou dezembro faremos história com eleições primárias.
Até lá está tudo resolvido porque tudo isto se resume à ambição de uma pessoa (estou a citar).
Ora essa pessoa só pode ser… Eu. Só posso ser eu que neste momento quero ver outra direção no meu partido e um candidato minimamente competente para ser primeiro-ministro. Se mais alguém pensar assim temos um sarilho, avisem o SG que afinal havia outro e mais outro e mais outro…
Quem fala assim para e sobre os militantes do seu partido merece que nível de respeito dos próprios?
O descontrolo é total. Agora imaginem que tinhamos esta direção a comandar o governo do país. Imaginem uma situação de crise. Imaginem verdadeiras adversidades.
III
“Qual é a pressa?”
Terça-feira (?) resolveu juntar-se às primárias depois de há um ano ter desprezado o desafio de as discutir em congresso e de ter desvalorizado algum do trabalho que o próprio lipp vinha fazendo. Da direção disseram raios e coriscos remeteram para uma ponderada reflexão a fazer mais tarde. Aparentemente esse tempo chegou agora cheio de urgência mas sem abranger o cargo de SG, apenas o de candidato a PM. Agora far-se-á (numa semana?) o estudo comparado e depois se verá como definir simpatizantes como reorganizar os procedimentos a nível nacional como definir os prazos para inscrições. Estamos portanto a começar, apesar de haver propostas internas com mais de ano e meio que poderiam hoje – se tivessem sido levadas a sério – permitir um processo ágil. Assim não sendo o que o SG propõem é enviar o PS para meses de pântano, recusando a cada frase que o seu cargo esteja na berlinda.
Agora é só modernidade. Ideias próprias (!). Habituemo-nos.
O que sobrará do PS se dermos corda a tanta esperteza saloia? E do país se tivermos mais um PM com esta escola?
Muito sinceramente espero que haja energia vital e inteligência dentro do PS para saber interpretar estes resultados e projetar o futuro do partido, um futuro que não se limite a preparar a próxima eleição. O discurso que estou a ouvir é dissonante com a realidade. O espetáculo a que assisti hoje por parte do PS não o dignifica e revela que aquilo que valoriza está desalinhado com o que é exigível para governar o país, mudando de forma de comunicar e de se comprometer com os eleitores.
Quando uma pessoa assim pensa, estando num partido democrático, tem um bom caminho. Democraticamente tentarei lutar por ele. Quero um partido capaz de captar de forma mais clara o apoio dos portugueses, mais audaz na construção da alternativa que termos de encontrar em tempo de grande exigência. Melhor informado sobre o que se passa na Europa, com mais recursos para reagir em tempo útil aos desafios do nosso tempo, às barreiras e obstáculos que se sucedem.
O PS teve uma das vitórias mais curtas para o segundo colocado num cenário em que tudo exigiria uma clara vitória, uma vitória que projetasse sem dúvidas um cenário de maioria absoluta como aliás o próprio SG assumiu.
No fundo quero um PS capaz de se preparar melhor, de forma mais competente, explorando todos os seus recursos internos, valorizando os seus erros passados mas também as suas conquistas, usando a sua história para apresentar um programa de governo concreto, escrutinável em todas as suas vertentes. Um PS tão bom como o melhor que já conseguiu ser e melhor se possível.
A governação futura, com a vitória do partido popular, com o reforço do poder das forças anti-europeias e das extremistas passou a ser ainda mais difícil mas essa dificuldade demanda-nos para ir além das soluções comuns, da gestão política corrente, da tática de curtíssimo prazo.
Naturalmente, imaginar um confronto democrático interno a um ano de eleições, dentro de um partido, de qualquer partido, não se adivinha como o cenário mais desejável, mas pela avaliação que faço do momento atual do PS, do que tem sido a mensagem política do PS e, fundamentalmente, do que é a interpretação justa e sensata deste resultado bem pior seria manter o apoio a este caminho e à fraca esperança que ele oferece.
Democracia
E agora um abraço a todos os que fizeram (e dignamente desfizeram) o MEP e que há 5 anos estavam reunidos com sentido de dever cumprido à espera dos resultados. Foi uma grande aprendizagem, uma experiência inesquecível e um testemunho inspirador a que tive a sorte e prazer de assistir e partilhar. O MEP não singrou como alternativa mas, pelo menos no meu caso, face ao meu ponto de entrada, revelou-me que há motivos de esperança onde não os vislumbrava. A esperança e crença no vizinho do lado, caro eleitor, não diminuiu, aumentou. Há muito boa gente alheada da política disponível, interessada e capaz. Deu-me uma perspetiva muito mais positiva do que podemos fazer em política. Muito do que vi por lá faz uma imensa falta nos grandes partidos, a energia, a audácia de mudar internamente, de tentar novos mecanismos de comunicação e de participação e de construir e reconstruir o próprio programa político e os vários programas de governo. À medida que vou conhecendo melhor o meu partido “natural”, o PS, mais convencido estou disso mesmo. Melhor é possível e vai ter de se fazer. No meio de um imenso pessimismo quanto ao cenário político “externo” e perante um cenário de grande afastamento face uma parte crescente do eleitorado, não consigo esconder esta nota de esperança e vontade de ação. Contribuir com maior exigência, mais energia e entrega na participação cívica dentro de um partido nunca pode ser um empecilho. Será sempre o fundamental da força vital de qualquer democracia. Afinal que raio de outro caminho é que quem se fica a resmungar e a reclamar prezando a sua querida abstenção imagina como solução?
Um abraço especial ao Rui Marques, à Francisca Assis Teixeira, ao Joaquim Pedro Cardoso Costa, à Margarida Gonçalves Neto, à Laurinda Alves, ao Rui Nunes da Silva , ao Miguel Alves, ao Jorge Sousa, ao Jorge Santos ao Carlos Albuquerque, à Joana Morais E Castro, ao Rui Castro Martins, à Margarida Olazabal Cabral, ao Luis Cabral ao Tiago Neto ao Pedro Fidalgo Marques e a tantos outros.
Eu sei que pode custar a ouvir, até pode parecer injusto se acharmos que é uma crítica ao empenho e dedicação (que creio não ser) mas o retrato e as angústias que o Pedro Adão e Silva deixou hoje no Bloco Central sobre os tempos recentes do PS e sobre o que se pode projetar pela amostra merecem ser ouvidas e enfrentadas. Não para “retaliar” mas para melhorar. Por muito difícil que seja, o PS tem de conseguir apresentar mais, melhorar a qualidade e amplitude da sua intervenção política. Há quem esteja atento, há quem esteja envolvido que não está, ainda, convencido de que haja a densidade suficiente para se vir a fazer a governação de que precisamos. É preciso ir além da garantia de superioridade ética e institucional no desempenho de funções. Estes são mesmo tempos de uma enorme exigência. A tarefa que se receberá não será mais fácil do que a que o atual governo recebeu em 2011. Não haverá estado de graça ou tempo para “respirar”.