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Entretanto, no PS…

Entretanto, no PS, nem todos são iguais, no melhor dos sentidos.
Os próximos anos prometem ser interessantes e muito importantes para o PS e para o país.

O pior que pode acontecer é a fase positiva do ciclo económico e o conforto do poder abafar as decisões e opções fundamentais que o PS terá de tomar se deseja continuar a ser (e de preferível em melhor) um dos partidos cruciais do país nos próximos 45 anos.

É preciso mais inquietação, mais ambição, mais conflito criativo, mais saber, mais inteligência, mais coragem para não oferecer de bandeja a outros aquelas que foram sempre bandeiras e eleitorados históricos da social democracia.

No fundo, é preciso um maior alinhamento entre o que se faz, quer fazer e o que são os anseios de quem vota, de facto e se rêve e quer rever em quem elege.

Nada contra a que o pragmatismo seja um instrumento para ajudar a cumprir um ideário, tudo contra se ele se converter “apenas” num veículo de manter o poder.

Não nos iludamos, o poder une, mas dentro do PS, estamos longe de nos poder dar ao luxo de poder prescindir da discussão, do debate sobre o futuro e sobre o caminho que o partido deve percorrer. 

E não é dentro do PS, cada vez mais tem de se assumir a discussão aberta a todos, o mais clara e cristalina possível, no espaço público. Seja porque o próprio partido está envelhecido, tolhido por anacronismos orgânicos, seja porque há hoje outras formas de chegar a quem vota e se interessa pela política que não existiam há bem poucos anos. 

Precisamos alimentar a eterna conversa entre cidadãos emancipados, sem figuras providênciais, sem tutelas absolutas, sem excessiva observância às elites, com toda a humildade e atrevimento e uma imensa curiosidade sobre o mundo que nos rodeia.

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Obrigado, PSD e CDS

O horror! A tragédia. O PS absteve-se e aprovou, respetivamente, os projectos de resolução de PSD e CDS sobre os compromissos europeus e a política externa e de defesa! O BE e o PCP votaram contra! E agora?!
Agora só podemos agradecer ao PSD e ao CDS terem dado ao PS mais uma oportunidade para continuar a ser igual a si próprio dando provas de que é um partido moderado e responsável (na minha opinião, claro). E aos restantes partidos para exercerem a sua opção de forma livre e coerente com o que sempre têm defendido em matéria onde não houve qualquer concertação à esquerda.
E se… mesmo com as diferenças tão claras houver um governo do PS com apoio mais que suficiente para governar o país melhor do que nos últimos anos? Esse é que é o desafio. O resto é um bom serviço prestado à nação pela direita: não, o PS, o BE e o PCP não são iguais.
Venham mais.

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Resumo da matéria dada – Legislativas 2015

Não vi ninguém a rasgar as vestes quando há uns anitos Paulo Portas advogou que CDS e PSD se coligassem para governar mesmo que o PS tivesse mais votos. Nem vi ninguém até hoje (à direita) a recordar como, em 1999, o PSD defendeu esta posição sem apresentar qualquer alternativa de governo: “A Tradição“.

Nem vejo que chamem imorais a outras democracias onde o parlamento é bem mais vibrante e orientado para resultados e onde as coligações e acordos de incidência parlamentar são naturais. Ou tão pouco vi gente (vi poucos, vá) a reconhecer que quando de facto PSD e CDS anunciaram antes das eleições que queriam governar, arriscando tudo numa maioria absoluta e apresentando toda a direita em bloco (necessariamente dificultando entendimentos com o PS) perderam a maioria absoluta que tinham e com ela as condições para governar.
Que tudo isto contribua para a amadurecimento democrático e que à esquerda, perante tão baixas expectativas, haja a capacidade de surpreender pela positiva. Do lado do PS “basta-lhe” apresentar o seu melhor governo, de preferência, o melhor de sempre se for capaz.

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Da tradição

Em 1999, o PS ganhou as eleições e teve mais votos e mais deputados do que na eleição anterior, em 1995. Mas não conseguiu a maioria absoluta, ficando com 115 deputados. Perante isto, e sem dispor de qualquer maioria ou solução de governo alternativa, PSD apresenta uma moção de rejeição e tenta derrubar o governo.”

 

Moção de rejeição N.º 2/VIII apresentada pelo PSD.

 

O Programa apresentado à Assembleia da República pelo XIV Governo Constitucional é, confessadamente, a simples reprodução do manifesto eleitoral com que o Partido Socialista se apresentou a eleições em 10 de Outubro último.

O seu conteúdo é, pois, em tudo idêntico àquilo contra o que o PSD, democrática e convictamente, se bateu durante a campanha eleitoral e que afinal não mereceu a adesão maioritária dos portugueses.

O PSD disputou as eleições combatendo os propósitos socialistas e apresentando propostas diferentes, que consubstanciavam claramente um governo e uma governação alternativa à governação socialista.

É precisamente em nome dessa clareza e da necessária transparência política de princípios e dos compromissos assumidos com o eleitorado, que o PSD afirma hoje a sua rejeição ao mesmíssimo programa político que ontem denunciou e combateu perante o País.

O programa socialista não era bom para Portugal antes das eleições e continua a ser mau nesta sua segunda edição, agora publicado pelo Governo.

Esse foi, também, o entendimento expresso pela maioria dos eleitores, pelo que competia ao Partido Socialista a procura de soluções que merecessem o apoio político que sozinho não obteve.

Não o ter feito é aos socialistas e apenas aos socialistas que naturalmente responsabiliza.

Nestes termos, ao abrigo do n.º 3 do artigo 192.º da Constituição e das normas regimentais competentes, o Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata propõe que seja rejeitado o Programa do Governo apresentado à Assembleia da República pelo XIV Governo Constitucional.

Palácio de São Bento, 3 de Novembro de 1999. O Presidente do Grupo Parlamentar do PSD, António d’ Orey Capucho.”

Via João Galamba e Pedro Filipe Soares.

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“O mais fácil é chegar lá. O mais difícil é saber manter”

“O mais fácil é chegar lá. O mais difícil é saber manter”

Este sábio aforismo sobre a chegada à liderança feito a 8 de novembro de 2015 por Jorge Jesus tem hoje múltiplas aplicações na situação nacional, incluindo política. Sendo certo que chegar lá não foi de todo fácil ou linear, o mais difícil está, sem margem para dúvidas, pela frente num governo do PS com acordo de incidência parlamentar com os partidos à sua esquerda. Mas ter medo de coisas difíceis não é resposta digna ou aceitável para ser assumida pelos nossos representantes políticos, em especial por aqueles que receberam o apoio para procurar um caminho diferente ao atualmente seguido.

Houve um mínimo denominador comum para sustentar um governo com apoio da maioria absoluta dos deputados, agora falta provar no dia a dia que esse mínimo comum é muito melhor do que o máximo que unia PSD e CDS em termos de consequências para a vida e futuro do país.

De forma muito resumida, espero que o governo do PS com apoio do BE, PCP e PEV tenha longa vida e que nos faça prosperar. O mais difícil é sempre o que está por fazer que é uma outra forma de dizer que o futuro está em boa parte nas nossas mãos.

E entretanto, convém não deixar criar narrativas “demoníacas” como se fossem acts of god associadas aos maus da esquerda.  Pergunto: o CDS assinou em 2002 ou em 2011 um documento no qual se comprometia a assinar de cruz os orçamentos do estado que o PSD desenhasse até ao final das respetivas legislaturas?
E estes quatro anos e meio desde 2011 foram um mar de laranjas azuis de bonança e entendimento na coligação?

Como já escrevi por aí, teria preferido ver BE e PCP também no governo, ainda assim hoje não sobra dúvida a ninguém que o capital político que os quatro partidos investiram neste processo é elevadíssimo e isso em política é das maiores garantias que realisticamente podemos ter como “cola” entre gente séria.
Todo o país está a ver e um pouco mais de metade desejoso por ter um melhor governo, melhores oportunidades e perspetivas de futuro com um governo de esquerda.
Agora o caminho far-se-á caminhando.

Melhor é possível. Cabe-nos prova-lo.

 

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O teste do algodão

O PCP faz política como um sindicalista pré-autoeuropa.
O BE parece seguir mais o modelo sindical da autoeuropa.
O PS quer mais autoeuropas.
Os verbos operacionais: fazer, parecer, querer.
A compatibilidade entre eles será tudo menos simples, mas não é impossível. E neste momento da história teremos mesmo que pagar para ver.
Seja qual for o desfecho será extremamente pedagógico para todos os eleitores e políticos.

Uma lição ou lições que perdurarão por muitos anos, certamente.

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Lendo o Pedro Lomba e psicanalisando o PCP

A criação prática de um partido único à direita, a deriva para a direita desse mesmo partido que governou com maioria absoluta (política social, educação, saúde, etc), o relacionamento que esse partido decidiu oferecer ao PS em 2011, 2012 e 2013 num período de grande complexidade política, económica e financeira e a tomada de posse de um PR que desde o primeiro discurso do seu segundo mandato assumiu claramente como um indivíduo recalcado e defensor de uma fação, nada relevam para explicar o que se passa hoje para muitos doutos analistas.
Tudo isto foi “normal” e indigno de nota.
O que releva agora é que há um indivíduo que está a lutar pela sua sobrevivência política e, detentor de uma varinha mágica, está a fazer desabar o regime porque não aceita que a nova realidade deve reger-se por velhas regras.
Deixemo-nos de infantilidades, assim não vamos lá.
 
Entretanto, continuo a não ver ou ouvir nada de particularmente reconfortante vindo do lado do PCP. Até prova em contrário parecem determinados em deitar borda fora uma oportunidade histórica de oferecer um governo estável e credível ao país. Pode o PCP ser quem nunca foi?
Esta é a pergunta mais relevante para os próximos dias e provavelmente meses.
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DE: A alma do negócio

A alma do negócio

Qual a negociação que implicando a necessidade de cedências mútuas tem hipótese de sucesso se uma das partes toma a iniciativa de a levar para a praça pública?

Não surpreende que, quando invetivado a divulgar detalhes das negociações em curso, Jerónimo de Sousa tenha respondido algo como: “Por uma questão de lealdade não vou estar a revelar propostas que são ainda de trabalho”.
Lembram-se do que fez a PàF?

O pecado original foi praticado sob o pretexto de grande “transparência” ao difundir o documento “facilitador”. Sarcasmo? Tudo menos intenção de quem quer levar uma negociação a bom porto. Agora é tarde. Na realidade, tomando por boas as declarações dos líderes de PSD, CDS e PS ao longo dos últimos meses, talvez sempre tenha sido.

Já tínhamos comprovado durante a legislatura o desprezo com que a PàF lidou com o PS, oscilando da atitude arrogante de quem tem maioria absoluta à infantilidade das cartas-pedido onde se deixa um convite público entremeado por insultos e acusações. A verdade é que entrámos num jogo do empurra com o nível de dignidade a degradar-se. Quem mais e melhor se vitimiza? Antevejo um campeão claro, mas faço fé que o eleitor seja mais inteligente do que alguns políticos querem fazer crer.

In Diário Económico

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Ética? Só quando convém

Nada como ir a uma assembleia de militantes (um arquivo de memória coletiva de grande valor) para ficar a saber como PSD e CDS têm repetidamente implementado ao nível autárquico aquilo que alguns agora chamam de golpada ou de falta de ética e moral.
Durante os últimos anos (décadas!), em Lisboa, repetiram-se as situações em que o partido mais votado ao nível autárquico ficou de fora do poder em virtude de se terem formado coligações pós-eleitorais entre PSD e CDS que lhes conferiram a maioria absoluta nas respetivas assembleias.
Há ética e moral diferente na política quando olhamos para uma freguesia ou para o país? Ou será que o que há no fundo é a singularidade histórica de, ao nível nacional, ao contrário do que já sucedeu a nível municipal, PSD e CDS juntos, nunca terem tido a possibilidade de formar uma maioria absoluta em qualquer das situações em que o PS ganhou com minoria? Podem parar de rasgar as vestes ou de entrevistar em tom acusatório e indignado os representantes do PS e informar-se um pouco melhor antes de disparar. Foi o que eu fiz. Não custou muito.
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A Escola de Paulo Portas

Agora dá jeito exacerbar as divergências à esquerda e esquecer o que a PAF disse do PS e vice versa durante a campanha (ou durante a última legislatura).
Também dá jeito esquecer que ninguém votou num governo de maioria absoluta de direita em 2011 ou em 2002 mas “apenas” num vencedor minoritário. Sem qualquer “ética ou moral” o PSD e o CDS juntaram-se depois das eleições e formaram um governo estável sem que a maioria tivesse sido sufragada como tal. Mas quanto a esse exemplo (e bem) ninguém veio com a conversa da ética e da moral. Porquê?
Agora, à falta de melhor, com a direita efetivamente coligada antes das eleições e perante a perda clara da maioria absoluta (é curioso que quando foram a votos efetivamente coligados parece que o eleitorado não lhes renovou a maioria que eles tinham auto-proposto e usado para governar) o problema está no carater de António Costa que quer tentar formar uma maioria absoluta estável. Mas não pode, porque “não ganhou” contra toda a direita coligada e porque tal potencial coligação “nunca foi sufragada”.
O nível de argumentação, de desonestidade intelectual e a histeria a que assisto deixa-me consternado com o que é a interpretação do nosso regime democrático. Vale tudo. A escola de Paulo Portas tomou de assalto uma vasta falange e isso é uma catástrofe para o nosso futuro, bem para lá do que possa acontecer com o próximo governo.