Eis algo que só serve para certos casos: a presunção de inocência. Vital Moreira já sabe que terá sido o CEMGFA a fonte que tornou público o conteúdo da carta que escreveu há quase um mês ao (segundo) Ministro da Defesa do actual Governo. CULPADO de "pronunciamento", segundo as suas palavras. Mas ainda assim pergunto, perante o risco da fuga para o público de eventuais missivas será que Vital Moreira defende que o CEMGFA se deve escusar de enviar cartas ao seu superior hierárquico/ministro da tutela? Que formas de comunicação serão legítimas?
Se calhar é melhor legislar que as chefias militares além de estarem sujeitas às limitações aplicáveis a todos os outros militares apenas estarão autorizadas a dirigir-se à tutela por via do sussuro a ouvido ministrial na presença de um dispositivo distorcedor de eventuais escutas, não vá alguém estar a gravar alguma coisa e atirar com um "pronunciamento" para a imprensa. Ou melhor ainda, comunique-se por sinais de fumo, mas sem pólvora. Enfim, convém ir tomando nota… Sublinho que atentar numa avaliação da razoabilidade ou não das razões dos militares continua a ser olimpicamente ignorada. Tudo se resume a um "nós" contra "eles". E uma mudança de posição do Governo é um gravíssimo recuo de lesa pátria. Eu prefiro denunciar que o confortável exaltamento da legitimidade jurídica encontra um estímulo particular nas fraquezas, ignorância e talvez mesmo vergonha das razões de facto.
Quem parece não alinhar por esse diapasão é o Ministro da Defesa, que, como tantos outros, perante as evidências refreou o discurso demagógico. Aparentemente terá mesmo emendado a mão do governo em algumas das decisões e omissões mais polémicas que subsistiam.
João Morgado Fernandes é mais polido no seu editorial mas também chega lá. Por falar em chegar lá, falta-me o tempo para mais delongas, mas a promessa mantêm-se.