Quem já palmilhou colégios em Lisboa para colocar filhos (até na pré-primária) sabe quão absurdo é acreditar que o problema do acesso às boas escolas se resume a ter ou não ter dinheiro. Há honrosas exceções (e boas) mas ou a minha amostra foi tragicamente enviesada ou então anda muita gente a brincar ao faz de conta. Na generalidade dos colégios (tidos como bons) que visitei ou sobre os quais indaguei, ter dinheiro para pagar revelou-se condição necessária e nunca suficiente. Alguns foram muito claros em nos dizer porque nos aceitavam e eu fiquei bem instruido quanto à pouca eficácia de uma eventual resolução da barreira financeira para quem quer ter “liberdade de escolha” no acesso a essas escolas.
Cuidado, muito cuidado com o que para aí vem. É muito fácil fazer pior do que aquilo que temos hoje. É só querer. Entretanto, facto inegável: o ambiente, motivação, empenho e resultados na escola pública parecem-me claramente em franca degradação e a crise financeira e o corporativismo cego de alguns professores não explicam tudo.
Os relatos que tenho do caos injetado nas escolas com fonte no Ministério da Educação / governo nos últimos meses é chocante.
Vai demorar a recuperar a qualidade da escola pública que eu conheci e frequentei, em muitas escolas deste país. Disso não tenho dúvidas.
Publicado originalmente no 365 Forte.