Excerto de “Um Novo Ciclo” por Mário Soares na Visão.
” (…) Em Portugal, os partidos da esquerda radical, com o seu irrealismo, parece terem perdido o rumo e os horizontes políticos. O terem recusado falar com a troika foi um erro que lhes vai custar caro, porque lhes retirou a idoneidade política. Em relação ao PCP, julgo que Álvaro Cunhal não teria praticado um erro semelhante. Tinha outra elasticidade tática, como várias vezes demonstrou. Quanto ao Bloco de Esquerda, além da perda significativa de votos, provocou uma crise interna que não vai ser fácil esquecer.
O PS, no plano político, continua a ser a grande força da Oposição. Mas menos – diga-se – no plano social. O que deve ser corrigido. A saída voluntária de Sócrates foi um ato de bom senso e abriu a porta a dois candidatos a líder que têm a vantagem de ser pessoas inteligentes, experientes e honestas. Não se irão zangar, penso, qualquer que seja o resultado. Julgo até que serão capazes de colaborar, como é conveniente que façam.
O PS precisa de se unir e de uma refundação política e ideológica. Os tempos mudaram e vão continuar a mudar muito. É um imperativo de sobrevivência. A União Europeia vai ter de mudar radicalmente, sob pena de se desintegrar. É outro dos nossos grandes problemas. O PS deve ter uma conceção própria do que será a União Europeia de amanhã e tem de saber bater-se por ela. Tem de participar ativamente no plano político, ideológico e também social, no Partido Socialista Europeu e de ter em grande atenção o movimento social europeu (sindicatos, cooperativas e associações cívicas). Porque é por estes dois pilares que vai passar o futuro. O PS e os seus militantes devem preparar-se, neste intervalo salutar do poder, para participar ativamente no futuro europeu que aí vem, necessariamente. E, assim, poder contribuir, no momento próprio, para a construção do nosso futuro português.”