I
Poderá um partido reclamar o apoio de quem se revê no centro moderado ao mesmo tempo que publicamente assume como posição oficial ao nível dos direitos civis algo muito próximo da ortodoxia doutrinária da Igreja Católica? Poder pode, mas naturalmente a proximidade doutrinária terá o seu custo ao nível da base de apoio…. É que no fundo, estas questões serão dessa forma assumidas como absolutamente essenciais e fundadoras para o próprio pensamento político. Tudo se relaciona. A transparência e a coragem pública de assumir tal posicionamento seria um belíssimo contributo para valorizar a política nacional.

II
É bom haver pessoas com capacidade e possibilidade de serem cristalinas. A “virgindade” destas declarações do Bispo do Porto, “Referendo é “uma das hipóteses” – Bispo do Porto diz que casamento entre homossexuais exige “reflexão”“, num posicionamento de bonomia e defesa face à reflexão profunda, não me parecem contudo aceitáveis para quem andou a pedir para ser deputado e desprezou a questão como prioridade ou não se comprometeu com a necessidade do alargamento do debate sabendo que seria certa uma iniciativa legislativa no Parlamento. Com aviso prévio e algum potencial custo político, outros fizeram questão de adiar uma iniciativa legislativa para depois das eleições podendo dessa forma advogar uma legitimidade reforçada. Ficar impávido e sereno perante este agendamento político fazendo de conta que ele não existiu quando foi expressamente apresentado a votos e agora vir reclamar que é necessário outras formas superlativas de debate que não as disponibilizadas habitualmente pela democracia representativa não é ser mais democrata ou estar a pedir mais democracia, é exactamente o oposto.

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