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Política

A inversão do Ónus da Prova

Nunca se pode agradar a todos, bem sei. Sempre terá havido descontentes pelo mundo com as políticas do dia. Mas se me faltavam provas de uma evidência para a qual me tinha alertado, elas vieram em dose múltipla nestas últimas duas semanas em que andei em campanha eleitoral por quase todo o país. Hoje é impossível estar na política sem ter sobre nós uma nuvem de presunção de culpa.
Tentar chegar ao diálogo na rua com as pessoas levando propaganda política na actual conjuntura económica e política é muitas vezes correr para o pior insulto, para o mais visceral rancor e, porque não dizê-lo, ódio. Enchi a barriga de tachista, chupista, ladrão, explorador, desocupado, malandro e bem pior. Nas oportunidades em que consegui ir além de preservação da integridade física e em que o interlocutor se dispôs a ouvir, percebi que nada daquilo era dirigido ao partido que representava (inteiramente desconhecido pela maioria). A reacção era contra “os políticos”. Perdoavam-me por ser novo (o que parece ser uma vantagem junto destes portugueses ressentidos) e alguns destes, poucos, lá acenavam com um benefício da dúvida perante um novo partido, ainda que dizendo entre-dentes: são todos iguais. Ouvi disto de norte as sul, mais numas zonas que noutras é certo, mas posso afirmar a transversalidade.
Ir para a política é hoje aceitar esta culpa sem a ter, é intervir representando um dos papeis mais mal amados pelos portugueses. Também por isso é fundamental recusar o fatalismo do antro mal frequentado que afasta as pessoas de bem. A coisa pública é demasiado determinante para que se possa encolher os ombros e seguir a “nossa” vidinha. No fundo urge procurar aqueles que ainda conseguem ouvir e desmontar o discurso generalista primário que impede qualquer hipótese de mudança e que acaba por matar a democracia. Para cada um destes portugueses, encontrei outros que vieram apoiar, saudar, mas não posso, não devo, acomodar-me a estes regaços procurando esquecer os outros que literalmente à beira da estrada me lavravam sentenças sumárias. E fazer coro com eles, não adianta nada…

2 replies on “A inversão do Ónus da Prova”

Caro Rui
É de facto lamentável que tal aconteça… os insultos… o “São todos iguais” …”O que vocês querem é ir para o tacho”…. e pior de tudo, é que os que mais reclamam são os que na hora da verdade, na hora de votar ficam sentados no sofá…
Eu até entendo essa revolta porque de facto a grande maioria dos políticos não inspira confiança alguma. Eu propria estive envolvida em politica no passado a nível local, e fiquei enjoada com a falta de princípios e com tanta hipocrisia, mas nunca faltei com meu voto. Branco ultimamente.
Mas quando li o vosso codigo de etica pensei
_Estes gaijos são diferentes!!!… (desculpe a linguagem, mas foi exactamente isto que eu pensei). E desta vez votei com muito prazer. Votei MEP!
Continuem com vossos princípios e sem vicios que os insultos vão diminuir.
Obrigado pela simpatia…
Isabel Valente (Ovar-apresentou-me a Laurinda Alves e o Ângelo Ferreira para inscrição no jantar de Aveiro.)

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