Adivinha-se um clamoroso tratado de má fé política. Via Bloguítica chego a esta frase de José Sócrates:
«Os parlamentos têm legitimidade para aprovar tratados e para os fazer em nome dos povos. E há tanto tempo que convivo com estes valores que não aceito desquitar-me deles, em particular neste momento», referiu José Sócrates.
Não houvesse memória nem neurónios na cabeça dos cidadãos e esta campanha passaria incólume. Por mais spin que agora se lhe junte, mais ou menos concertado internacionalmente, não referendar o tratado que se perspectiva, depois de todos os compromissos assumidos há dois/três anos, é uma das maiores traições hstóricas que o actual Partido Socialista poderá concretizar no futuro próximo. Falo especificamente do PS porque é quem tem neste momento (juntamente com o Presidente da República) a responsabilidade e poder para fazer cumprir.
Não é assim que se defende a bondade do projecto europeu. Não foi conhecedor nesta opção política que votei no PS. Ainda há gente com memória senhores e esse mesmo projecto europeu merece, justifica e carece há demasiado tempo – provavelmente há 21 anos – de alguma demonstração inquestionável e inequívoca de que foi reflectido, votado pelos portugueses numa das suas componentes de definição estratégica e histórica.
Poucas matérias me parecem mais razoáveis para justificar a figura do referendo. Não há que ter medo de aliviar a democracia representativa desta responsabilidade. O tratado que se avizinha supostamente poderia servir também esse propósito simbólico há tanto adiado. Afinal apressam-se agora a pôr-lhe aspas, umas aspas menorizadoras. Uma vergonha. Uma vergonha que mancha e fragiliza a própria defesa desse projecto. Defesa presente e, sublinhe-se, futura.
A 24 de Abril de 1974 alguém terá dito: há tanto tempo que convivo com estes valores que não aceito desquitar-me deles em particular neste momento. Irónico, não?
Para o bem e para o mal, a nossa democracia é ainda um fedelho, tenhamos a coragem e humildade de o reconhecer e de querer amadurecer mais um bocadinho.