O título bombástico é provocatório mas infelizmente encontra paralelo na prática de muita imprensa nacional. A mesma que qualificou de duplicação do ritmo de crescimento do PIB no terceiro trimestre a passagem de uma variação do taxa de variação homóloga do PIB de 0,8% para 1,5%; sendo verdade, dá uma ideia que pouco adiante para a adequada análise da relevância dos números e evoluções em apreço.
Sim, meus amigos, lá corro o risco de apanhar com mais um rótulo corporativo e desta vez com a agravante de ter um pé num dos lados de uma barricada… Ontem constatei a gritante ignorância (ou má vontade) deixada por Martim Avilez Figueiredo (director do Diário Económico) num comentário que fez na SIC Notícias (veja-se aqui o detalhe). Hoje, a propósito desta notícia a que chego via Jornal de Negócios:
"O IFO, um dos mais respeitados institutos de conjuntura económica, reviu hoje em forte alta a sua previsão de crescimento para o PIB da Alemanha, prevendo agora que a maior economia europeia cresça este ano 2,5%, mais sete décimas do que a anterior previsão. (…)"
recordo um editorial de Bruno Proença (também no Diário Económico – 11 de Dezembro) onde entre outras coisas se lia isto:
"(…) O Instituto Nacional de Estatística (INE) reviu os dados passados do comércio internacional e o contributo da componente externa para o produto é menos positiva, já que as importações foram superiores ao revelado pelos dados preliminares. Os valores de base das previsões estavam errados. Isto sim é preocupante, porque acontece vezes demais. As revisões das séries estatísticas por parte do INE são, infelizmente, um hábito, que coloca a nu as fragilidades do sistema estatístico nacional. O que parece ser, afinal não é. Normalmente é pior. A situação atingiu uma tal dimensão que o Banco de Portugal já alertou diversas vezes para esta situação e coloca reservas nas suas previsões, pois não confia nos dados em que se baseia A bola está do lado do INE: tem muito para fazer para melhorar a qualidade e a fiabilidade dos dados que divulga. (…)"
E fico a matutar sobre o que dirá Bruno Proença do IFO (um dos mais prestigiados institutos de investigação económica internacional) que conseguiu a proeza de rever em 7 décimas a estimativa de crescimento para 2006… a 15 dias do final do ano. Também fico a matutar noutros factos, como sejam: conhecerá o Bruno Proença a dimensão das revisões das estatísticas produzidas directamente pelo Banco de Portugal? É que o Banco de Portugal também produz estatísticas que até são input para as estatísticas do INE (por exemplo para as contas nacionais trimestrais) e que até têm revisões históricas importantes com regularidade.
Mas mais importante do que tudo isto pergunto se Bruno Proença saberá da dimensão e frequência das revisões consideradas aceitáveis e/ou inevitáveis para os respectivos valores do PIB (para pegar num indicador chave) provenientes do Bureau of Economic Analysis dos Estados Unidos, do Central Statiscs Office do Reino Unido, do Central Bureau of Statistics Holandês ou do Economic and Social Research Institute do Japão para citar apenas alguns dos mais prestigiados? Quando souber as respostas a estas perguntas e conhecer os motivos que são aceitáveis e em larga medida inevitáveis para justificar as revisões, bem como os que são inaceitáveis e endógenos aos produtores de estatísticas talvez possamos começar a discutir seriamente formas de melhorar a qualidade das estatísticas nacionais e, nomeadamente, o trabalho do INE. E não me entendam mal, há muito para melhorar no INE, não acredito que haja quem por lá trabalhe que defenda o contrário.
Entretanto deixo aqui um convite que o INE lança a todos os utilizadores de informação estatística e que julgo constituir um pequeno exemplo de algo que tem mudado para melhor e que tem potencialidades interessantes, participem no: Ciclo de workshops para Jornalistas.
A falar é que a gente se entende.