Cuidado… Muito cuidado. Não é com azeite que se apagam fogos que até têm a sua razão de ser.
Se é verdade que não é com manifestações públicas que os militares se devem expressar, não é menos verdade que os métodos de contenção de danos da esfera política devem ser distintos dos banalizados perante "mais uma manifestação". Sem alternativas de escape, mais cedo ou mais tarde, a panela rebenta com ou sem farda vestida. Muito menos se deve recorrer à patente quanto o Estado tem perante eles tantos rabos de palha. Apostar tudo na impopularidade crónica da imagem dos militares junto da uma boa parte do eleitorado português é caminho arriscado, até porque desconfio que esse cenário é já mais uma fotografia do passado do que um sentimento enraizado no povo. O incremento da acção externa dos militares portugueses em missões nobres e o direccionamento para missões civis de boa parte dos seus recursos têm tido impacto positivo na imagem dos militares. Por outro lado, uma manifestação não é um acto banal e tomado de ânimo leve por um militar, as consequências são por eles bem conhecidas. Seria aliás interessante elencar hoje as vantagens e desvantagens dos militares comparativamente com outros funcionários públicos e com quadros com habilitações comparáveis na esfera privada. Seguramente que muitos concidadãos teriam uma surpresa considerável.
O Estado tem feito demasiadas asneiras ao longo dos últimos anos na gestão da Defesa Nacional. Há ainda hoje unidades que permanecem no limbo onde o desperdício perdura, vagueando sem rumo e outras (eleitas coqueluche para inglês vez) onde o que se exige aos profissionais e o que se disponibiliza de recursos raia os limites do inacreditável. De comum, a desmotivação crescente, a sensação de desnorte e de traição para com compromissos assumidos e, mais recentemente, a sensação de roubo com a bizarra história da falência do fundo que gere os complementos de reforma para os quais voluntariamente muitos militares descontaram e descontam todos os meses. Já para não falar do corte drástico do apoio na saúde que se avizinha ou dos atrasos crónicos no pagamento de parte das remunerações dos militares destacados.
A corda nunca parou de ser esticada desde que António Guterres percebeu que se deveria utilizar as Forças Armadas como instrumento diplomático. Cada vez se pede mais com cada vez menos, mas, mais grave, com cada vez mais razões para os militares terem o estado-patrão como pessoa de má fé.
Algo parecido, talvez até mais grave, (em termos de esticar de corda) pode ser encontrado na PSP…
Já vai sendo tempo de termos um Estado adulto, responsável e respeitador dos seus deveres. Só assim pode exigir, com autoridade, o respeito pela autoridade.
Manifestação ilegal? Tem a certeza que é por esse caminho que quer governar este país, senhor Primeiro-Ministro?
Adenda: a cegueira nas hostes socialistas sobre a questão militar não vem de hoje e mostra-se galopante, disso é exemplo Vital Moreira (aqui e aqui) que nitidamente prefere disparar antes de perguntar quem lá vem. É caso para dizer: tanto que se preocupa com as contextualizações históricas e sociológicas noutras paragens e tão pouco que consegue discernir no que tem debaixo do nariz. Espero que ao menos, fora das luzes da ribalta, haja quem esteja a tentar emendar a mão e a procurar uma solução eficaz para o conflito latente que se arrasta há demasiado tempo.