"(…) Uma vez que a PT é quem tem, em Portugal, arcaboiço financeiro para investir em projectos «estruturantes» na área de telecomunicações e tecnologias, daqui para a frente não haverá ninguém para atirar euros para coisas inovadoras, mesmo que de sucesso duvidoso, e ajudar a modernização do panorama tecnológico nacional (e é assim mesmo que se faz a inovação tecnológica). (…)" por José Diogo Madeira no Jornal de Negócios de ontem.
Lendo o texto completo, mas particularmente este parágrafo, parece-me haver por aqui uma tremenda injustiça, ou pelo menos grandes problemas de memória. Se em teoria a dimensão da PT parecem confirmar a proposição, há outra implícita que merece ser refutada. Feitos da Sonae como montar uma rede de telemóveis com a qualidade da Optimus (com um pouco de memória, recordaremos até um justo clamor na altura de se ter feito "contra tudo e contra todos"); avançar a expensas próprias para a desagregação paulatina mas continuada do lacete local quando o negócio estava (está) ainda infectado pela posição dominante do dono da rede; introduzir no mercado upgrades no ADSL arrasando a concorrência da todo-poderosa PT ou mesmo criar soluções tecnológicas e pacotes de produtos inovadores destinados às empresas são totalmente esquecidas por José Diogo Madeira.
Talvez tenha razão quando afirma que nos próximos tempos da PT farão dela uma vaca leiteira – máquina de fazer dinheiro explorando exclusivamente os investimentos já realizados, sem rasgo de risco pelo meio. Mas esses momentos podem ser apenas de stop and go (para reequilibrar o passivo e reestruturar o grupo caso haja efectiva fusão com um grupo até aqui rival) e não necessariamente nefastos. Suponho que seja esse tipo de ordenha virtuosa que espera a PT caso a OPA da Sonae vingue.
Se há coisa que Belmiro de Azevedo não merece é o epíteto de amante de vacas leiteiras. O homem e a sua prole tem passado a vida a gerar empresas e negócios em várias actividades económicas. Digamos que passou seguramente mais tempo a criar bezerros do que a grande maioria dos empresários portugueses.
Se tudo correr como deveria ser normal (Sonae + PT sem vender alguma das redes é anti-natural para a sã concorrência) acho que como cliente (e não só) tenho muito mais a ganhar com esta OPA do que sem ela. À mama anda a PT há demasiado tempo. E há tampem demasiado tempo que é demasiado tarde para os actuais accionistas arrepiarem caminho. Lembram-se da assinatura no telefone fixo? Pois é, ainda exite. Se isto não é ordenhar a vaca, o que é?