Não digam a ninguém mas estive até estas horas a reler alguns relatórios executivos sobre os aeroportos, em complemento a umas espreitadelas a todos os estudos que por aqui andam… Ainda arranjei tempo para espiolhar a net sobre financiamento, construção, alargamento e gestão de alguns aeroportos europeus (Barajas, por exemplo, um aeroporto fortemente modernizado ao longo da última década que já está em fase de alargamento com um investimento só por via Banco Europeu de Investimento de mais 700 milhões de euros).
Eis o que me apetece dizer agora que digeri um pouco de informação tão gentilmente disponibilizada pelo PM em jeito de especial favor, precisamente hoje, no dia seguinte àquele em que sua excelência publicamente declarou que deixámos de ter na falta de acesso aos estudos um argumento: Os estudos são mesmo só estes? É preciso um ignorante como eu destacar o que está em falta?
Eu esperava ler nalgum sítio, por exemplo, que se nega por isto e aquilo que, de facto, o aeroporto não pode ser alargado acima dos 30 milhões de passageiros de capacidade/ano. Se isso está escrito e justificado não encontrei. Barajas, um potencial concorrente nas palavras de alguns governantes, prepara-se para passar de 25 milhões para 70 milhões de passageiros muito poucos anos depois de ter sido re-edificado. Basta olhar para a história da Portela ou de Barajas ou de qualquer outro Aeroporto com mínimas aspirações internacionais para perceber que são infraestruturas a exigir ser projectadas para o futuro, com autênticas revoluções tecnologicamente incertas mas inevitáveis e até certo ponto antecipáveis (necessitam de terrenos livres!) no horizonte de médio prazo. Não é nenhum exagero dizer-se que esta obra, pela sua dimensão, nomeadamente financeira, não será reprodutivel num futuro próximo. Nem pelo Estado, nem pelos privados e, muito provavelmente nem pelos dois lados da moeda juntos.
Em suma, a leitura não me inspira para escrever nada de substancial e em nada me conforta face às críticas públicas que ouvi recrudescer nas últimas horas e de parte das quais dei eco neste tasco. Hoje, estou ainda menos convencido da razoabilidade da escolha. Quase tudo parece indicar que era muito difícil escolher pior. Repito, não li nada que me permita defender convictamente a decisão do governo, antes pelo contrário. E acreditem (se quiserem) que teria muito gosto em o poder fazer. Até Rio Frio – os sobreiros que me perdoem – parece dar 10 a zero à OTA nos critériosque julgo mais relevantes entre os que chegaram a ser estudados até ao momento.
(Inicialmente publicado às 2h56m, antes da alvorada)