Já que ninguém o gaba, ele gaba-se a si próprio. Não é original, não é o único e não fica bem, mas o que é facto é que é tem muita razão naquilo que descreve. Basta recordar os últimos 25 anos de política económica e as respectivas conjunturas.
Tudo isto serve para repôr alguma verdade histórica às coisas, denunciando o bluff de imagem em que Cavaco se sustenta sendo a antitese daquilo que diz querer desempenhar: ser um promotor de um facto simbólico que impulcionará a ânimo nacional. Ouçam-no e sintam o entusiasmo fervilhar… (tenho os rissóis ao lume).
MAS, ao mesmo tempo, toda esta dialéctica de um (de dedo em riste auto-elogiando-se em profusão – que exagero Nobre Soares!) e a prática de outro (do not shake, do not stir que ainda se estraga) são tão pouco estimulantes e inspiradoras seja do que for (excepto do Venha o Diabo!)…
Não é com as presidenciais que havemos de mudar de rumo e se por ventura estas tiverem consequências relevantes, não adivinho que sejam positivas. Talvez tragam entropia e esperanças mal localizadas. Tudo aquilo de que não precisamos.
Dramatizar as presidenciais é inventar mais um circo, pouco mais que irrelevante. Sim, é ressentimento, de parte a parte, sendo que as partes são mais que duas. Mas nem vou por ai, poupo o latim.
A mudança de rumo faz-se na nossa vida do dia a dia, na política também, exigindo políticos melhores e melhores políticas (no executivo e na oposição!), exigindo e contribuindo para um melhor Estado, pensando no presente, como queremos viver no futuro, cultivando a memória do passado e blá, blá, blá (frase bonita mas muito difícil de implementar e absolutamente banalizada, para nosso mal!).
A mudança de rumo faz-se, por exemplo, não nos deixando nivelar por baixo perante os exemplos acomodados e/ou desiludidos de colegas justa e injustamente ressentidos (até o ressentimento pode ser justificável!). Faz-se complicando o preto e branco, o seguidísmo acrítico ao partido, deixando a disciplina de voto quase absoluta ser algo próprio de um parlamentarismo e partidarismo anacrónico que exige ser colocado em vias de extinção. Falei em parlamento? Poderia falar da empresa onde se trabalha: a inovação passa por aí, por ter capacidade crítica, por estimulá-la, é esse o corolário da formação, da educação e de qualquer choque mais ou menos intensivo em tecnologia. Criar (em todos os sentidos) para viver melhor!
Nestes tempos em que tantos vão sentir na pele o acumular do laxismo do passado, com o qual tantos desses foram coniventes no simples desenrasca do dia-a-dia (agora lembrei-me da longevidade da nossa ditadura), é capaz de valer a pena repensar essa forma de encarar a vida e estilo de permanente limitação da exposição às "chatices".
O nunca tomar posição quando nos servem saparia a rodos e o não ir além do amen ao poder do momento criou o monstro, o verdadeiro monstro que hoje nos devora, quase cegamente. Não serão estas presidenciais que nos livrarão da paralisia aterrorizada para a qual caminhamos, perante o desmoronar de planos, carreiras e empregos.
Alguns se "safarão", safar-se-ão sempre, mas os lugares na barca são cada vez menos. Que tal tentar fazer do inferno um melhor lugar para viver?